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Da pós-graduação à inovação

Oportunidades e desafios para mestres e doutores que desejam inovar e empreender foram destaques na Semana de Pós-graduação

Qual a diferença entre uma descoberta científica e uma inovação? Como passar de uma coisa à outra? É possível inovar na pós-graduação? Essas foram algumas questões discutidas nesta quarta-feira, 11, na mesa sobre ‘Inovação em grupos de pesquisa’ da Semana da Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O debate contou com a participação de Carlos Morel, diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), e Alexandre Cabral, mentor e consultor em inovação. A sessão foi integrada ao Centro de Estudos do IOC. As atividades seguem até sexta-feira, 13. Confira a programação.

Inovar para crescer
Ao definir o que é uma inovação, Morel ressaltou que esta vai além da descoberta ou da invenção, pois tem impacto no ambiente produtivo ou social. Segundo ele, o Brasil apresenta um desempenho abaixo do seu potencial no ranking global considerando o tamanho da sua economia. Comparando o país com a Coreia, o pesquisador destacou o descompasso entre o avanço na produção do conhecimento e da inovação. A partir dos anos 1970, os dois países expandiram significativamente suas publicações de artigos científicos. No entanto, o registro de patentes continuou abaixo de mil por ano entre os brasileiros, enquanto saltou para quase 100 mil por ano entre os coreanos.

Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Segundo Carlos Morel, o Brasil apresenta um déficit na transformação do conhecimento científico em desenvolvimento tecnológico


A necessidade de ações específicas para passar do conhecimento à inovação foi enfatizada pelo pesquisador. “Por muito tempo, viveu-se sob o dogma de que o investimento em pesquisa básica levaria automaticamente a novos produtos e serviços. Mas existem ‘vales da morte’ da inovação, que é preciso superar”, afirmou Morel, citando as barreiras para passar do desenvolvimento de novos medicamentos à comercialização e à implementação nas regiões afetadas pelos agravos.

O pesquisador comentou ainda a atuação do CDTS, cuja criação foi aprovada pelo IV Congresso Interno da Fiocruz, em 2002, considerando a lacuna entre as atividades de pesquisa e de produção no país e a necessidade de ações específicas para o desenvolvimento tecnológico. Entre outros dados, ele citou estudos desenvolvidos em redes de colaboração nacionais e internacionais que tiveram resultados promissores nos últimos anos. Como exemplos, foram publicados artigos e depositadas patentes relacionadas a novos usos de antifúngicos e antivirais, que podem se tornar alternativas no enfrentamento de micoses negligenciadas e de arboviroses, como Zika, chikungunya e febre amarela.

Analista da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) por mais de 20 anos e mestre em propriedade intelectual e inovação pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), Alexandre Cabral discutiu a criação de start ups a partir de grupos de pesquisa. Ele enfatizou que esse modelo de negócio se diferencia das empresas tradicionais por ter a inovação no centro de seus produtos ou serviços. Isso faz com que o ambiente da pesquisa científica seja rico em oportunidades, que podem ser aproveitadas por aqueles que desejam empreender.

Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Alexandre Cabral apontou que a pós-graduação é um ambiente rico em oportunidades para a criação de start ups


O especialista ponderou que a área da saúde apresenta desafios particulares, ligados aos longos ciclos para desenvolvimento de produtos, ao alto custo dos processos envolvidos e à rigidez dos marcos regulatórios. “Minha sugestão é que seja trabalhada a serendipidade, que é a descoberta feliz e inesperada de uma coisa quando se buscava outra. O desenvolvimento de uma molécula para tratamento de uma doença negligenciada provavelmente não vai sustentar uma start up. Porém, durante a pesquisa, surgem processos ou produtos que podem ser destacados desse contexto e transformados em uma empresa por um grupo de alunos”, pontuou Cabral.

Segundo ele, para chegar a esse resultado é importante que o ambiente institucional estimule a inovação – apoiando a transformação de novas ideias em produtos ou serviços – e que existam metodologias para identificar oportunidades e desenvolver planos de negócios. Por fim, Cabral destacou que o fator central para o sucesso das start ups criadas a partir de grupos de pesquisa está no conhecimento dos empreendedores. “O que sustenta uma start up são o conhecimento não óbvio e as soluções não triviais. Por isso, recomendo que os empreendedores cheguem o mais longe possível na educação formal”, comentou.

Debate
O debate realizado após as palestras abordou desde as dificuldades de inovar na pós-graduação considerando os prazos dos cursos de mestrado e doutorado até as questões éticas da inovação em instituições públicas. Moderador da mesa, Diogo Gama, doutorando em Biologia Parasitária, questionou como conciliar a burocracia e a necessidade de sigilo do processo de registro de patentes com as demandas dos cursos de pós-graduação. O pesquisador Marcelo Alves Pinto, vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, apontou a grande diferença entre a lógica e o tempo da ciência e as demandas do mercado. Já a estudante Mayara de Mattos, doutoranda em Biologia Celular e Molecular, enfatizou a necessidade de responsabilidade social nas ações desenvolvidas com recursos públicos e o conflito com a busca das empresas por lucro.

Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Desafios para a inovação no contexto dos prazos da pós-graduação e questões éticas foram alguns dos temas que nortearam o debate


Morel apontou que existem possibilidades de atender aos requisitos da pós-graduação sem prejudicar o depósito de patentes, como, por exemplo, a realização de defesas com portas fechadas e acordo de confidencialidade. Ele ressaltou ainda que a responsabilidade da inovação não deve ser atribuída unicamente aos pesquisadores. “O Brasil cometeu um erro ao apostar somente na pesquisa básica e agora comete outro erro ao querer transformar todos os pesquisadores em empreendedores. É preciso ter uma estrutura para apoiar a inovação”, declarou. Alexandre ponderou que a parceria entre instituições públicas e privadas pode ser uma alternativa para financiamento. “Se uma empresa paga para realizar um experimento em uma instalação pública, esse recurso viabiliza outros projetos de pesquisa. Receber dinheiro não significa buscar lucro, pode ser uma forma de pagar as contas e fazer o negócio funcionar”, opinou.

Egressos: trajetórias e perspectivas
Os itinerários profissionais dos egressos dos Programas de Pós-graduação do IOC foram discutidos no painel com participação de Alexandre dos Santos da Silva, doutor em Medicina Tropical, pós-doutorando da Fiocruz e consultor científico da empresa Alesco Brasil; e Mariana Rocha David, doutora em Biologia Parasitária e pesquisadora do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários. Já o tema ‘Absorção dos egressos: perspectivas do Instituto Oswaldo Cruz’ foi abordado na palestra de Eduarda Ângela Pessoa Cesse, coordenadora adjunta de pós-graduação da Vice-Presidência de Educação, Comunicação e Informação (VPEIC/Fiocruz).

Fotos: Josué Damacena / Arte: Jefferson Mendes

Estudantes de mestrado e doutorado apresentaram resultados de suas pesquisas na sessão de pôsteres da Jornada Jovens Talentos

Produção científica
Na terça-feira, 10, a produção científica dos estudantes esteve no centro das atividades da Semana da Pós-graduação. O pesquisador Hugo Caire de Castro Faria Neto, do Laboratório de Imunofarmacologia, falou sobre os desafios na elaboração dos projetos de pesquisa e artigos científicos. Estudos desenvolvidos por mestrandos e doutorandos foram apresentados na Jornada Jovens Talentos, que contou com sessão de pôsteres e apresentações orais. Avaliados por pós-doutorandos, os melhores trabalhos serão premiados na cerimônia de encerramento do evento, nesta sexta-feira, 13.

Reportagem: Maíra Menezes
Edição: Vinicius Ferreira
12/09/2019
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