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Perspectivas sobre o futuro da Pós-graduação no Brasil

Critérios de avaliação dos programas, saúde mental do estudante e reconhecimento dos trabalhos apresentados na Jornada Jovens Talentos foram destaques do último dia da Semana da Pós-graduação

A importância de priorizar o ensino como estratégia para o desenvolvimento da ciência brasileira foi a mensagem principal das falas de pesquisadores, docentes e estudantes que participaram, entre os dias 09 e 13 de setembro, da Semana da Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O último dia de atividades contou com discussões sobre os modelos de avaliação da Capes e a valorização das relações interpessoais e da saúde mental do estudante.

Também marcaram o encerramento uma roda de conversa dos alunos com a Vice-direção de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, a plenária final de construção da carta do XI Fórum Discente do Instituto e o reconhecimento dos trabalhos apresentados na Jornada Jovens Talentos. Ao longo da semana, foram apresentados cerca de 50 trabalhos, nas categorias oral e pôster, sobre temas de importância para a saúde pública, como alimentação e nutrição, vírus Zika, chikungunya, HIV, leishmanioses, hepatites e parasitoses intestinais.

Avaliação da Capes
O desempenho dos programas de pós-graduação no Brasil é avaliado de acordo com um conjunto de fatores, que inclui, entre outros quesitos, a produção científica, o impacto social e a internacionalização. Em uma edição especial do Centro de Estudos do IOC, foram discutidas perspectivas sobre os modelos de avaliação do Sistema Nacional de Pós-graduação utilizados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Participaram do encontro a chefe do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC e coordenadora da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde do IOC, Tania Araújo-Jorge, o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Gabriel Colombo, e o diretor de Políticas Educacionais da ANPG, Rafael Souza.

Implantado pela Capes em 1976, o Sistema de Avaliação da Pós-graduação é conduzido por comissões de consultores vinculados a instituições de ensino das diferentes regiões do país. O processo inclui a avaliação dos programas credenciados, como critério de permanência, e de propostas de cursos novos. A avaliação em regime quadrienal indica a qualidade do desempenho e a posição relativa de cada programa no contexto de sua respectiva área. Os resultados desses indicadores, expressos em notas de 1 a 7, servem de base para deliberações dos órgãos governamentais em relação ao investimento em pesquisa e na pós-graduação.

Atualmente, grupos de trabalho estudam formas de aprimorar o sistema de avaliação. Nos encontros, são discutidos temas como autoavaliação, internacionalização e ficha de avaliação. “O novo modelo multidimensional propõe a avaliação do desempenho dos programas a partir de cinco quesitos principais: ensino e aprendizagem, internacionalização, produção de conhecimento, inovação e transferência de conhecimento, e impacto e relevância para a sociedade”, explicou Tania, que atuou como coordenadora da Área de Pós-Graduação em Ensino na Capes entre 2013 e 2018. Segundo a pesquisadora, o novo sistema, previsto para ser implementado a partir de 2021, sugere que a avaliação tenha como foco o escopo de cada programa, considerando evoluções no desempenho com base nas metas propostas e objetivos alcançados.

Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

A pesquisadora Tania Araújo-Jorge destacou a importância do investimento na ciência para o desenvolvimento do país


Na avaliação do diretor de Políticas Educacionais da ANPG, Rafael Souza, o novo modelo apresenta “mais continuidades do que novidades”. Segundo Souza, os princípios e diretrizes de avaliação dos programas são classificatórios e comparam áreas que são diferentes. Em relação aos parâmetros utilizados, ele questiona a adoção de padrões internacionais e sugere a adaptação dos referenciais de avaliação à realidade da pesquisa científica desenvolvida no país. “O Brasil tem uma imensa floresta úmida tropical, sendo o país que, com larga distância, produz e descreve o maior número de espécies do mundo. A publicação de uma nova espécie, por exemplo, algo importante para o conhecimento da biodiversidade no Brasil, não é tão valorizado em outros centros. Ao importar padrões internacionais, por vezes, há um prejuízo na avaliação da ciência que é praticada aqui em vista dos interesses nacionais”, explicou.

Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Rafael Souza (à esq.) e Gabriel Colombo (à dir.), ambos da ANPG, apontaram problemas de precarização no trabalho do estudante de pós-graduação e a necessidade de revisão dos valores das bolsas


Já o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da ANPG, Gabriel Colombo, chamou atenção para os desafios do desenvolvimento científico frente ao contexto do bloqueio de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. No dia 02/09, o governo informou o corte de 5.613 bolsas da Capes previstas para o restante de 2018. No entanto, em anúncio realizado no dia 11/09, a Capes informou que vai disponibilizar, em 2019 e 2020, 3.182 novas bolsas deste montante, contemplando programas com notas 5, 6 e 7. Colombo também apresentou dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que mostram quedas consecutivas na verba destinada ao pagamento de bolsas desde 2016. Além da ampliação no investimento e número de bolsas ofertadas, ele defende o reajuste nos valores de acordo com a inflação. “Temos uma desvalorização contínua das bolsas de pós-graduação. O último reajuste foi feito em 2013. Se a correção, considerando os últimos seis anos, fosse feita pelo IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo], teríamos um valor de R$ 2.082 para bolsas de mestrado e de R$ 3.054 para bolsas de doutorado”, explicou.

Espaço aberto ao diálogo
Entre prazos apertados, cobranças e falta de perspectivas sobre a absorção pelo mercado de trabalho, a saúde mental dos estudantes de pós-graduação pode ficar em segundo plano. O assunto foi amplamente discutido na mesa redonda ‘Valorização das Relações Interpessoais e Saúde Mental’, que contou com a participação da vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão do IOC, Wania Santiago, da coordenadora técnica do Centro de Apoio ao Discente (CAD/Fiocruz), Márcia Mello da Silveira, e da representante discente Andreza Salvio Lemos.

Diálogo também foi a palavra-chave de uma mesa-redonda que contou com o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, e o representante discente Ícaro Rodrigues. O encontro abriu espaço para a discussão de demandas e proposição de sugestões em prol de melhorias para o desenvolvimento da área de Ensino no Instituto. As questões discutidas pelos estudantes no debate e ao longo da semana forneceram subsídios para a elaboração da Carta do XI Fórum Discente do IOC entregue à Diretoria.

Reconhecimento
No encerramento das atividades, 13 estudantes foram agraciados com menção honrosa pela qualidade dos estudos apresentados na Jornada Jovens Talentos.

Foto: Gutemberg Brito. Arte: Jefferson Mendes

Cerca de 50 trabalhos foram apresentados no evento, nas categorias oral e pôster


Confira os homenageados:

Apresentação oral:
Audrien Alves Andrade de Souza – doutorado em Biologia Celular e Molecular
Barbara Simonson Gonçalves – mestrado em Biologia Celular e Molecular
Karine Lino Rodrigues – mestrado em Biologia Celular e Molecular
Luciana Ferreira de Araújo – doutorado em Medicina Tropical
Pamela Mosquera Atehortua – mestrado em Medicina Tropical
Tairine Monteiro de Barros – mestrado em Medicina Tropical

Sessão de pôster:
Aline Ferreira Gonçalves – mestrado em Saúde Pública na ENSP/Fiocruz
Aline Monteiro da Silva – doutorado em Medicina Tropical
Ana Beatriz Pais Borsoi – doutorado em Biodiversidade e Saúde
Georgianna Silva dos Santos – doutorado em Ensino em Biociências e Saúde
Mayla Abrahim Costa – doutorado em Biologia Computacional e Sistemas
Natália Spitz Toledo Dias – doutorado em Biologia Parasitária
Raquel Rangel Silvares – egressa do mestrado em Biologia Celular e Molecular

Reportagem: Lucas Rocha
Edição: Vinicius Ferreira
18/09/2019
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