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Prêmio Alexandre Peixoto: diversidade e qualidade

Melhores teses do IOC trazem contribuições para vigilância de doenças, controle vetorial, novas terapias e educação ambiental

Em sua 7ª edição, o Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto reconheceu seis projetos desenvolvidos nos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A cerimônia de entrega da premiação foi realizada nesta sexta-feira, 22 de novembro. O evento contou com as apresentações dos trabalhos vencedores, em sessão especial do Centro de Estudos do IOC.

Os estudos destacados apresentam avanços importantes em diferentes áreas do conhecimento e podem contribuir para a vigilância de doenças, o controle vetorial, o desenvolvimento de novas terapias e a educação ambiental. O vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, ressaltou a qualidade e expressividade dos estudos conduzidos no Instituto, mesmo em meio a cenários político e econômicos controversos.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Autores das melhores teses do IOC apresentaram trabalhos em sessão especial do Centro de Estudos


“Em um ano de inúmeras incertezas para o Ensino de Pós-graduação no país, com notícias de cortes de bolsas, contingenciamento no repasse de verbas e possível fusão da CAPES com o CNPq, o Instituto Oswaldo Cruz e a Fiocruz sinalizam para a nação a relevância no investimento nessa área. Estamos diante de seis projetos de pesquisa de importância ímpar para a saúde pública nacional. Além do reconhecimento como as melhores teses desenvolvidas por doutorandos dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC, algumas também foram agraciadas em significativos eventos científicos, com destaque para um primeiro lugar e uma menção honrosa no Prêmio Capes de Tese”, enalteceu.

Selecionados pelas Coordenações dos Programas de Pós-graduação do IOC, os trabalhos vencedores do Prêmio Alexandre Peixoto são indicados ao Prêmio Capes de Tese. Nesse ano, a mais importante premiação da Pós-graduação do país contemplou um trabalho do IOC com o primeiro lugar e outro com menção honrosa [relembre].

Conheça, abaixo, os estudos agraciados na 7ª edição do Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto:

Descobertas na digestão das larvas do Aedes
Ao desvendar mecanismos envolvidos no processo de digestão nas larvas do mosquito Aedes aegypti, a pesquisa da bióloga Raquel Santos Souza apontou caminhos para o desenvolvimento de novos larvicidas. Realizada na Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, a tese ‘Digestão de microrganismos em larvas de Aedes aegypti: aspectos fisiológicos e moleculares’ foi orientada pelo pesquisador Fernando Genta, do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC.

A pesquisa investigou como diferentes dietas impactam no desenvolvimento do Aedes, revelando que as larvas alimentadas com leveduras (um tipo de fungo) se desenvolvem melhor que aquelas que ingerem bactérias ou microalgas. A etapa seguinte do trabalho teve como alvo a enzima β-1,3-glucanase. Responsável por quebrar uma molécula presente na parede celular de fungos e algas, essa enzima participa do processo de digestão e do sistema de defesa de insetos.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Raquel Souza identificou enzima digestiva de larvas que pode ser alvo de novos biolarvicidas


Através de análises genéticas, o estudo apontou a presença de cinco variedades da enzima nos Aedes, sendo três com atividade significativa nas larvas. Entre estas, foi identificada a principal β-1,3-glucanase digestiva e indicado que as duas outras moléculas devem participar do sistema de defesa das formas imaturas do vetor da dengue Zika e chikungunya.

Segundo Raquel, a metodologia de silenciamento genético padronizada na pesquisa pode contribuir para o desenvolvimento de um biolarvicida. O método tem como base moléculas de RNA de interferência (RNAi), que inibem a ativação de determinados genes. “Se a molécula de RNAi tiver como alvo o gene da enzima digestiva do Aedes, não haverá impacto sobre outros insetos, reduzindo o dano ambiental”, afirmou a bióloga, que cursou o doutorado com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e realizou período sanduíche na Universidade Lancaster, no Reino Unido.

Alerta para vírus transmitidos por roedores
Ganhadora do Prêmio Capes de Teses 2019 na categoria Medicina II, a tese do farmacêutico Jorlan Fernandes teve como foco os vírus da família Arenaviridae, conhecidos como arenavírus. Transmitidos por roedores silvestres, os microrganismos podem provocar quadros de febre hemorrágica com alta taxa de letalidade.

O trabalho alertou para a necessidade de intensificar as ações de vigilância, ao demonstrar a circulação dos arenavírus em roedores de cinco estados onde nunca tinham sido detectados: Acre, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Nos quatro primeiros, também foram encontrados anticorpos contra o microrganismo em amostras de soro de moradores de áreas rurais, o que evidencia a infecção humana.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Jorlan Fernandes recebeu o Prêmio Capes de Tese pelo trabalho sobre arenavírus


As análises levaram à descoberta de três novas espécies de arenavírus. Dois achados já foram reconhecidos pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus e o terceiro passa por análises. O estudo rompeu um silêncio de mais 30 anos, desde a descrição do vírus Sabiá, identificado a partir do primeiro e único caso natural diagnosticado de febre hemorrágica brasileira por arenavírus. “A febre hemorrágica por arenavírus apresenta manifestações clínicas semelhantes às da dengue, febre amarela e malária. A incidência da doença é baixa, mas a letalidade é alta. Por isso, é importante estar alerta”, ressaltou Jorlan.

O projeto ‘Arenavirus no Brasil: eco-epidemiologia e os aspectos de sua ocorrência no processo de expansão da agricultura familiar’ foi realizado no Programa de Medicina Tropical, sob orientação da pesquisadora Elba Lemos, chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio do Programa Brasil Sem Miséria, Jorlan realizou ainda período sanduíche no Public Health England, em Salisbury, no Reino Unido.

Ampliação no conhecimento do vírus da dengue
A bióloga Fernanda de Bruycker Nogueira, recém-doutora da Pós-graduação em Biologia Parasitária IOC, desenvolveu um amplo estudo que contribui para a vigilância do vírus da dengue. Orientada pela pesquisadora Flavia Barreto dos Santos, do Laboratório de Imunologia Viral do IOC, a tese apresenta um panorama sobre as rotas de introdução e dispersão do vírus no Brasil e nas Américas e reúne descobertas genéticas obtidas através de análises de caracterização molecular. A pesquisa foi desenvolvida nos Laboratórios de Flavivírus e de Imunologia Viral do IOC.

Análises de sequências genéticas de 48 amostras, representando cepas isoladas entre 1986 e 2011 no Brasil, permitiram a caracterização molecular do sorotipo 1 do vírus da dengue circulante no país. A tese também aprofunda o conhecimento da dinâmica do genótipo V do DENV-1, o mais prevalente no continente americano. A reconstrução do histórico evolutivo desse genótipo nas Américas foi realizada com a aplicação de abordagens filogenéticas e filogeográficas. Foram considerados dados de mais de 800 sequências genéticas, originárias de 46 países, abrangendo um período aproximado de 50 anos.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Fernanda Nogueira foi contemplada com menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2019. Estudo analisou a dispersão e características genéticas do sorotipo 1 do vírus dengue no Brasil e nas Américas


“A caracterização molecular e genética dos arbovírus é de suma importância. Mutações pontuais no genoma são suficientes para uma maior virulência, por exemplo, ou até mesmo para a adaptação do vírus a um vetor em particular. Além disso, a circulação de diferentes genótipos do vírus da dengue pode ter impactos distintos na população”, ressaltou Flavia, que recebeu bolsa da Capes durante o doutorado.

O trabalho intitulado ‘História evolutiva, caracterização e vigilância molecular das diferentes linhagens do vírus dengue tipo 1 no Brasil’ foi contemplado com a menção honrosa pelo Prêmio Capes de Tese 2019, na categoria Ciências Biológicas III.

Biodiversidade de maruins
A recém-doutora Maria Clara Alves Santarém, do Programa de Biodiversidade e Saúde do IOC, realizou um estudo aprofundado da biodiversidade de mosquitos maruins na região neotropical, que abrange a parte sul da América do Norte, a América Central e do Sul. O trabalho intitulado ‘Revisão taxonômica dos ceratopogonídeos neotropicais do gênero Downeshelea Wirth e Grogan (Diptera: Ceratopogonidae)’ foi orientado pela pesquisadora Maria Luiza Felippe Bauer, do Laboratório de Díptera do IOC.

Ao todo, foram estudados 936 exemplares depositados em diferentes coleções biológicas brasileiras e estrangeiras. Como principais resultados, os pesquisadores identificaram novos registros da espécie em sete países. Eles também descreveram 25 novas espécies, nove delas presentes no Brasil, e redescreveram outras 11. O trabalho amplia de 21 para 46 o número de espécies registradas em 20 países da região neotropical. “Realizamos uma ampla revisão do gênero predador Downeshelea, cuja redescrição acrescentou dados que facilitam sua caracterização e ampliam o conhecimento do gênero na região neotropical”, explicou Maria Clara, que desenvolveu a pesquisa com bolsa concedida pelo IOC.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Tese da recém-doutora Maria Clara Alves Santarém descreveu 25 novas espécies de maruins do gênero Downeshelea


“O estudo está alinhado às iniciativas globais sobre a biodiversidade e contribui para o conhecimento do gênero, a disponibilização de dados, a biologia da conservação e a relação com a transmissão de doenças tropicais”, pontuou. O desenvolvimento da tese foi alinhado à política institucional de Coleções Biológicas da Fiocruz. Acervos que reúnem importantes registros da diversidade biológica de determinadas áreas, as coleções biológicas oferecem ferramentas para a caracterização de ambientes e prevenção doenças emergentes.

Mecanismo de regulação genética na mira
O código genético contido no DNA dá origem a moléculas de RNA que, por sua vez, orientam a produção de proteínas, que desempenham as mais diversas funções no organismo. Embora este seja um esquema simplificado para explicar como as informações genéticas orientam o desenvolvimento e funcionamento dos organismos, uma série de mecanismos complexos são fundamentais para regular a atividade do genoma.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Deborah dos Santos aplicou combinação de abordagens computacionais para analisar ‘TPP riboswitches’


Em sua tese de doutorado, elaborada na Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas, a bióloga Deborah Antunes dos Santos aplicou uma combinação de abordagens computacionais para investigar características dos ‘TPP riboswitches’, estruturas nucleicas que regulam até 4% de todos os genes bacterianos. O estudo ‘Busca de TPP riboswitch no genoma humano e comparação com outros de diferentes espécies’ foi orientado pelo pesquisador Ernesto Raúl Caffarena, do Programa de Computação Científica (PROCC/Fiocruz), e co-orientado pelo pesquisador Fabio Passetti, do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz-Paraná).

O trabalho, realizado com bolsa concedida pela Capes, apontou diferenças no comportamento estrutural dos ‘TPP riboswitches’ em bactérias Escherichia coli e plantas Arabidopsis thaliana. Além disso, o estudo identificou um potencial candidato a TPP riboswitch no genoma humano. De acordo com Deborah, os resultados são importantes considerando que essas estruturas têm sido investigadas como alvo para desenvolvimento de novos antimicrobianos contra bactérias e fungos. “Compreender o mecanismo de reconhecimento do ligante natural tiamina pirofosfato (TPP) no alvo molecular TPP riboswitch em diferentes espécies é crucial para utilização deste como alvo de um antibiótico”, explicou a autora.

Em busca de uma educação ambiental crítico-transformadora
A tese da professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (IFAC), Renata Gomes de Abreu Freitas, discute perspectivas acerca das representações sociais do meio ambiente por alunos do ensino médio integrado à formação técnica do Instituto.

O estudo ‘Representações de meio ambiente e abordagem temática Freiriana: caminhos metodológicos para a educação ambiental crítico-transformadora no Instituto Federal do Acre’ foi orientado pela pesquisadora Rosane Moreira Silva de Meirelles, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Realizado no âmbito da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde do IOC, o trabalho é resultado de uma turma especial de doutoramento no campo de Ciência, Tecnologia e Educação na Amazônia, fruto de um convênio firmado entre o IOC e o IFAC [saiba mais sobre a iniciativa].

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Estudo desenvolvido pela professora Renata Gomes de Abreu Freitas discutiu as representações sociais do conceito de meio ambiente


A investigação apontou que o conceito de meio ambiente tende a ser representado de forma limitada. “Há uma predominância na percepção do meio ambiente destituído do ser humano e quando este aparece é normalmente como o ‘vilão’”, explicou Renata. Segundo ela, a visão naturalista tende a reduzir o conceito de meio ambiente ao uso racional dos recursos naturais e à preservação dos ecossistemas e biodiversidade, contexto no qual o ser humano ocupa um papel genérico.

De acordo com a pesquisa, a educação ambiental praticada na instituição limita-se a componentes curriculares de cursos que integram, principalmente, os eixos tecnológicos ‘Recursos Naturais e Saúde’ e ‘Segurança do Trabalho’. Os achados apontam, ainda, fragilidades na formação docente, como a escassez de conhecimento sobre os princípios norteadores da educação ambiental no país e a ausência de abordagens teórico-metodológicas na sua implementação.

A tese sugere a promoção de espaços de formação continuada, que integrem os corpos técnicos e docentes, a fim de estimular a apropriação de referenciais metodológicos que possibilitem a implementação de uma educação ambiental crítico-transformadora. “O estado do Acre é carente de doutores. Essa formação nos preparou para fomentar a pesquisa na região aliada a formação de novos pesquisadores”, destacou Renata.

Reportagem: Lucas Rocha e Maíra Menezes
Edição: Vinicius Ferreira
22/11/2019
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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