Publicada em: 17/04/2008 às 10:05 |
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Pesquisadores integram simpósio sobre dengue Especialistas em dengue participaram nesta sexta-feira, 11 de abril, do II Simpósio Nacional sobre a Dengue. O evento, realizado pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica / Regional RJ, foi oportunidade para compartilhar conhecimentos sobre os diversos aspectos envolvidos na doença com um público formado por mais de 180 profissionais de saúde reunidos no auditório da Academia Nacional de Medicina. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC) integrou o simpósio com quatro representantes. O pesquisador Hermann Schatzmayr coordenou as palestras e debates na parte da tarde. Rita Nogueira, chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC, destacou aspectos relevantes do diagnóstico laboratorial da doença. Claire Kubelka, chefe do Laboratório de Imunologia Viral do Instituto apresentou a imunopatologia associada à dengue. Na mesa abertura do evento, o pesquisador Hermann Schatzmayr, virologista do IOC que liderou a equipe responsável pelo isolamento dos sorotipos 1, 2 e 3 da dengue no Brasil, resumiu bem o sentimento que reunia os presentes. “Diante da difícil situação epidemiológica do dengue no país, com elevados índices de infestação pelo vetor em áreas urbanas, onde o controle encontra uma série de obstáculos, pode-se aceitar a existência de infecções por dengue”, afirmou. “O que é inaceitável são os casos fatais da doença. O acesso rápido aos serviços de saúde deve ser assegurado pelo poder público.” Serviço de referência em dengue de Campos apresenta resultados
Gutemberg Brito Luiz de Souza defendeu que a hidratação imediata é fundamental para a recuperação dos pacientes O conferencista destacou a ocorrência de casos graves, envolvendo insuficiência hepática e problemas neurológicos, entre outros – tema que também foi destacado por outros especialistas durante o simpósio. Segundo Luiz José, o diagnóstico diferencial da doença é um obstáculo, já que a dengue pode apresentar sintomas semelhantes a diversas patologias, como leptospirose e outras infecções bacterianas. Outra dificuldade apontada pelo especialista reside na especificidade dos protocolos de testagem para diagnóstico da dengue. “Para algumas metodologias, encontramos casos de tumores hepáticos e de leptospirose com resultados falso-positivos para dengue”, afirmou. “A detecção da dengue a partir de antígenos, que estão presentes desde o início da infecção, é o grande avanço no diagnóstico da dengue.” Maior gravidade de casos entre crianças até 15 anos é tendência nacional
Giovanini destacou que a OMS fez em julho de 2007 um alerta mundial sobre a possibilidade de ocorrência de epidemias de dengue de grande magnitude em diversas partes do planeta. “De fato, 2007 foi o segundo pior ano de transmissão da dengue no país, sendo superado apenas por 2002”, avaliou. O coordenador do PNCD afirmou que entre 1996 e 2006 houve uma duplicação do número de municípios onde há presença do vetor da dengue, mas, segundo o especialista, não se pode reduzir a questão da dengue ao controle do mosquito. “Um conjunto complexo de determinantes está associado à doença: o aumento da densidade populacional, sobretudo em áreas urbanas; problemas presentes nos centros urbanos que estão ligados à presença do Aedes aegypti, como a oferta regular de água e a maior produção de lixo urbano com destino inadequado; além da ampliação da mobilidade de pessoas e cargas, favorecendo a dispersão do vetor e dos sorotipos virais”, destacou. Sobre a possibilidade de introdução de novos sorotipos do vírus, foi definitivo: “Manaus tem um fluxo intenso de 35 mil pessoas por mês com a Venezuela, onde circula o tipo 4. Portanto, a entrada do novo sorotipo é questão de tempo, mas até o momento ainda não foi constatada.”
“Hoje temos disponíveis diferentes abordagens, incluindo métodos sorológicos e moleculares, que formam um arsenal que permite confirmar a etiologia dos casos. É importante termos em mente que quanto maior o número de metodologias de diagnóstico disponíveis, maior a chance de confirmação do diagnóstico”, completou, indicando o Manual de Dengue do Ministério da Saúde como base para consultas sobre o diagnóstico da doença. Sintomas alertam para gravidade de casos
“Minha opinião é que a dengue veio para ficar. Não é uma doença exótica ou esporádica, como se pensou quando surgiram os primeiros casos. Temos que ficar atentos aos sinais de gravidade da doença para evitarmos aquelas mortes que poderiam ser evitadas pela hidratação a tempo do paciente”, afirmou. Sônia destacou que os sintomas da dengue são bastante inespecíficos. A doença geralmente causa febre de início abrupto. A maioria dos pacientes relata dores intensas no corpo, muitas vezes na região lombar – justamente por isso a doença já foi chamada de febre do quebra ossos. Perda de apetite e náusea intensa e contínua também são comuns. A prostração característica da doença pode durar até de 1 a 2 meses para desaparecer. Claire apresentou que, do ponto de vista científico, a genética é uma das possíveis explicações para a gravidade de casos. Assim, devido a características genéticas, alguns indivíduos estariam mais susceptíveis a desenvolver formas graves da dengue. Já segundo a teoria do enhacement, a infecção por sorotipos diferentes estaria associada a casos mais graves. Os anticorpos circulantes no organismo específicos para determinado sorotipo de dengue não seriam neutralizantes para outros sorotipos do vírus e facilitariam a entrada destes nas células. Os linfócitos T CD8+ também não promoveriam uma resposta citotóxica adequada ao novo sorotipo, gerando assim condições propícias para casos mais graves. O evento contou ainda com o debate sobre o desenvolvimento de vacinas e sobre a ocorrência de casos em gestantes. Raquel Aguiar Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz). |
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