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A Ciência perde José Rodrigues Coura

O jovem que deixou o sertão do Cariri, na Paraíba, movido pelo sonho de continuar os estudos se tornaria uma das referências obrigatórias da Medicina Tropical no país

Autor reconhecido com o prêmio Jabuti de Literatura. Professor de referência para gerações de médicos e cientistas. Incansável na pesquisa em campo e em laboratório ao longo de décadas. Um dos nomes mais relevantes da Medicina Tropical no país. Ganhador de prêmios e reconhecimentos, membro da Academia Nacional de Medicina. Para falar de José Rodrigues Coura, em qualquer dimensão que seja, a lista de atributos é imensa. Afinal, trata-se de uma das principais personalidades da ciência brasileira contemporânea. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), sua casa ao longo de décadas, perdeu um de seus membros mais notáveis neste sábado (03/04). Coura faleceu aos 93 anos, deixando três filhos e três netos.

Pesquisador emérito da Fiocruz, o cientista foi por duas vezes diretor do IOC. Historicamente, teve relevante papel ao longo do período militar, sobretudo quando designado pelo Ministério da Saúde, na época, para elaborar um diagnóstico sobre a situação do Instituto. Como diretor por duas gestões, atuou na retomada científica do Instituto com a captação de pesquisadores notáveis para os quadros institucionais, incluindo Luis Rey e Leônidas e Maria Deane, entre outros.

Ocupou a cadeira de vice-presidente de Pesquisa da Fundação, liderou o Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC, foi editor da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e um dos criadores do atual Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical. E pensar que essa longeva e produtiva relação com Manguinhos teve início com simples visitas à biblioteca do Castelo da Fiocruz, na década de 1950, quando ainda era estudante de medicina.

Esta e outras curiosidades sobre o cientista foram tema do bate-papo com Coura realizado em 2017 como parte das celebrações por seu aniversário de 90 anos. [clique aqui para assistir]. Na ocasião, ele compartilhou a trajetória sobre infância, juventude e carreira. Relatou como conviveu com o escritor Ariano Suassuna na cidade natal, a pequena Taperoá, no Cariri da Paraíba. Contou a aventura de vir, sozinho, praticamente sem recursos, aos 19 anos de idade, para continuar os estudos no Rio de Janeiro. A entrevista é um documento vivo da relevância e de toda a peculiaridade do cientista, que despachava em seu gabinete observado por paredes cobertas pelos incontáveis prêmios e reconhecimentos recebidos ao longo da carreira, incluindo a condecoração Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, mais alta insígnia concedida pela Presidência da República, e o Prêmio da Fundação Conrado Wessel, uma espécie de ‘Nobel brasileiro’ que reconhece profissionais por sua excelência científica aliada à eficácia social. Mesmo diante de tantos reconhecimentos pessoais, ele sempre destacava um ponto em especial da saleta: a estante repleta com as dissertações e teses dos alunos que orientou, no Brasil e no exterior, eram motivo de grande orgulho para o pesquisador.

Recentemente, levantamentos realizados pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e pela Agência de Gestão da Informação Acadêmica da Universidade de São Paulo (Aguia/USP) destacaram a presença de Coura entre os mais influentes cientistas do planeta [clique aqui para saber mais]. O estudo da doença de Chagas foi uma de suas contribuições mais importantes. Em 2019, quando o Dia Mundial da Doença de Chagas foi estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ele comentou: “A OMS tem dias para muitas doenças, e Chagas era esquecida por ser uma infecção limitada à América Latina. Foi um escândalo quando publiquei um artigo com Pedro Albajar chamando atenção para a presença da doença em países de primeiro mundo e a necessidade de medidas para conter o risco de transmissão por transfusões de sangue e doações de órgãos [Nature, 2010]”, o que traduz uma de suas numerosas contribuições no campo [clique aqui para ler mais].

Uma das últimas homenagens recebidas pelo pesquisador ocorreu em edição do Centro de Estudos do IOC realizada em agosto de 2020, com falas repletas de emoção de pessoas que tiveram suas vidas diretamente impactadas pelo cientista [clique aqui para assistir].

Coura também foi professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou ao longo de décadas e o criou o Programa de Pós-graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias, primeiro curso da área médica credenciado pelo Conselho Federal de Educação. Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), além de membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências. A lista de atributos prossegue, mas não tanto quanto a saudade e o imenso reconhecimento por sua marca profunda, que são compartilhados por toda a instituição neste momento.

Para conhecer mais sobre Coura, acesse o especial produzido pelo site do IOC em 2017, quando ele completou 90 anos [clique aqui].

03/04/2021
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