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Instituto Oswaldo Cruz atua no esclarecimento de casos suspeitos de febre maculosa no Rio de Janeiro

Em vídeo, chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses explica detalhes sobre a doença

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), por meio do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses, está atuando junto às Secretarias Municipal e Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, no esclarecimento de casos suspeitos de infecção por febre maculosa.

Até o momento, o Laboratório, que atua como Serviço de Referência junto ao Ministério da Saúde (MS) para Rickettsioses, confirmou por diagnóstico laboratorial um caso de infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii em um paciente que foi a óbito no dia 23/10.

O processamento foi realizado por meio de análise molecular a partir da Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR), que permite detectar a presença do material genético da bactéria.

A doença
O primeiro caso de febre maculosa no em território nacional ocorreu em 1929. Passados mais de 90 anos, a falta de informação continua sendo um dos maiores desafios no enfrentamento da doença. Com quadro clínico marcado por febre alta, dores de cabeça, náuseas e vômitos, o diagnóstico correto depende do conhecimento dos profissionais de saúde sobre este agravo, que compartilha os mesmos sintomas com diversas doenças. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, nas últimas décadas, praticamente todos os casos de óbito por febre maculosa tiveram o diagnóstico inicial de dengue.

Chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Elba Lemos esclarece dúvidas e alerta para a prevenção da doença que, entre 2000 e 2019, já provocou mais de 2100 infecções, com mais 680 óbitos. A maior concentração de casos é nas regiões Sudeste e Sul. Em 2021, até o mês de setembro, o país registrou 69 casos e 19 mortes, de acordo com dados do MS.

Confira abaixo mais detalhes sobre a doença:

O que é a febre maculosa?
A febre maculosa é uma doença infecciosa febril aguda, que pode causar desde formas assintomáticas até casos mais graves, com alta possibilidade de óbito. No Brasil, os casos graves estão associados à infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecido como carrapato-estrela. No entanto, existem no mundo mais de 20 espécies de rickettsias que podem causar febre maculosa.

Por que a doença recebe esse nome?
Por dois motivos: o primeiro, por causar um quadro de febre no paciente, e em segundo, por poder provocar o aparecimento de manchas avermelhadas na pele, conhecidas como máculas.

Quais são os sintomas?
O quadro clínico é marcado por início brusco, com febre alta e dores de cabeça, podendo haver dores musculares intensas e prostração. Na evolução da doença, podem ocorrer hemorragias, náuseas e vômitos. As manifestações clínicas surgem após um período de incubação que leva em média 7 dias, podendo variar de 2 a 15 dias. O surgimento de lesões na pele, no 3º ao 5º dia de doença, aumenta o grau de suspeição, muito embora existam casos nos quais este sinal pode não ser detectado – no caso de pacientes idosos, submetidos a tratamento específico precocemente, ou mesmo em pacientes negros, pela dificuldade de se observar as manchas negras, por exemplo.

Arquivo LHR/IOC

Manchas avermelhadas na pele, também conhecidas como máculas, deram origem ao nome da doença

Como ocorre a transmissão?
A doença é transmitida ao homem basicamente pelo carrapato infectado, não havendo risco de transmissão pessoa a pessoa. Para que a infecção ocorra, o carrapato precisa ficar aderido à pele. Se houver lesões na pele, o contágio pode ocorrer no momento do esmagamento do inseto. Uma vez infectados, os carrapatos permanecem assim durante toda a vida.

Há tratamento para a doença?
Por ser causado por uma bactéria, o tratamento tem como base o uso de antimicrobiano específico e de baixo custo, ministrado por via oral quando o paciente tem condições de ingerir a medicação. No entanto, em pacientes graves, com edema (inchaço) e vômitos, por exemplo, o antibiótico deve ser ministrado por via endovenosa, além do tratamento de suporte, dependendo da gravidade do caso. Como a bactéria pode destruir a parede do vaso sanguíneo, o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível. A partir do 7º dia de doença, a lesão torna-se, geralmente, irreversível e o óbito, inevitável.

Embora exista vacina para a febre maculosa, a sua utilização não é indicada considerando a sua proteção parcial e a falta de indicação de vacinação para o controle de uma doença que responde muito bem ao tratamento antimicrobiano.

Foto: Gutemberg Brito

Pesquisadora esclarece dúvidas sobre febre maculosa, doença com sintomas semelhantes à outros agravos

O grau de letalidade é alto?
Sim. Apesar de ser considerada uma doença de baixa frequência, a taxa de mortalidade é elevada devido à agressividade da Rickettsia rickettsii para o organismo humano, falta de diagnóstico adequado e de tratamento precoce. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, nas últimas décadas praticamente todos os casos de óbito por febre maculosa tiveram o diagnóstico inicial de dengue. Diante de um caso suspeito, deve-se coletar o sangue para a análise laboratorial e iniciar o tratamento imediatamente, mesmo sem a confirmação laboratorial.

Quais as formas de prevenção da doença?
A melhor forma de se prevenir é evitando áreas infestadas por carrapato, principalmente durante o período de maio a outubro. Vale mencionar a importância de animais como o cachorro, o cavalo e a capivara no ciclo de transmissão da doença, que, além de fonte de alimentação para os carrapatos, podem auxiliar no deslocamento de vetores infectados e estão próximos ao homem. Por isso, é preciso ficar atento à presença do vetor nos animais e no ambiente.

É essencial que toda a população e os profissionais de saúde tenham conhecimento sobre os riscos do contato com carrapa­tos, direta ou indiretamente, pois esses artrópodes são o segundo maior transmissor de doença para o homem, depois dos mosquitos vetores. Ao ser observado algum carrapato aderido à pele, é importante removê-lo com cuidado e rapidez.

Outro ponto importante: o controle de carrapatos em animais, assim como o uso de carrapaticidas devem ser realizados somente sob orientação de médicos veterinários, profissionais de saúde pública, agricul­tura e meio ambiente, considerando a concentra­ção do produto, o melhor período do ano para o seu uso, e acima de tudo, os efeitos prejudiciais e a presença de resistência.

Foto: Gutemberg Brito

No Brasil, a transmissão ocorre por meio do carrapato da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecido como carrapato-estrela

Assim como ocorre com outras doenças, também é possível que haja surtos de febre maculosa?
Diferentemente da dengue, da malária e da leishmaniose, por exemplo, na maioria das vezes a febre maculosa apresenta-se como casos isolados ou como pequenos surtos, geralmente entre membros de uma mesma família ou grupos de indivíduos com atividades em comum. Surtos com dezenas ou centenas de casos não ocorrem na febre maculosa e, assim, outras doenças precisam ser consideradas.

Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico da febre maculosa é geralmente realizado a partir do teste sorológico, mais espe­cificamente pela reação de imunofluorescência indireta. O diagnóstico sorológico permite identificar a presença de anticorpos anti-Rickettsia no sangue do paciente. É importante destacar que durante a doença, principalmente até o 10º dia, o indivíduo pode não ter anticorpos para a febre maculosa e que o resultado da análise de sangue coletado no início da doença pode ser negativo. Assim, a coleta de uma segunda amostra de sangue passa ser necessária. O Ministério da Saúde recomenda que isso aconteça do 14º  ao 21º dia após a primeira coleta de sangue.

Outro teste disponível para o diagnóstico, porém menos utilizado, é a análise molecular a partir da Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) que permite detectar a presença do material genético da bactéria. Recomendado especialmente em casos graves e óbitos, este teste deve ser realizado na fase inicial da doença, quando anticorpos anti-Rickettsias ainda não são detectados. Existem outras técnicas diagnosticas como a histopatologia asso­ciada à imunohistoquímica e isola­mento, mas raramente são realizadas.

Qual o papel do Laboratório enquanto serviço de referência para o Ministério da Saúde?
Além de colaborar com a vigilância da febre maculosa no território nacional, a presença do Serviço de Referência para Rickettsioses no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC possibilita a integração das atividades voltadas para o desenvolvimento tecnológico de técnicas de diagnóstico, pesquisa e ensino, com o objetivo de contribuir para a promoção da saúde da população brasileira por meio da vigilância epidemiológica desta zoonose e da geração e difusão de conhecimentos na área.

 

Vinicius Ferreira, com informações de arquivo
28/10/2021
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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