Publicada em: 12/03/2009 às 10:45 |
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Caramujos Africanos: Invasores indesejados
Em pouco mais de 20 anos, o molusco que um dia serviu como aposta comercial, na busca de uma alternativa mais barata ao escargot, se transformou em uma verdadeira praga. Com o fracasso dos empreendimentos que introduziram no Brasil o caramujo africano, Achatina fulica, alguns milhares de exemplares foram soltos na natureza. Dotado de alta capacidade de reprodução, o molusco hoje se disseminou em 23 dos 26 estados brasileiros. Os impactos para a biodiversidade são evidentes, mas os riscos à saúde pública também preocupam: dois casos de meningite em 2007, no Espírito Santo, estão relacionadas ao molusco. A prevenção no contato com o animal e o controle das populações do caramujo são fundamentais.
Laboratório de Malacologia/IOC
O mapa mostra a presença do caramujo africano em 23 dos 26 estados brasileiros “Nos ambientes urbanos as populações desses moluscos são densas, invadem e destroem hortas e jardins. Como são formadas por animais de grande porte, com 10cm em média, causam transtornos às comunidades das áreas afetadas”, esclarece a pesquisadora Silvana Thiengo, responsável pelo Laboratório de Referência Nacional em Malacologia Médica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Segundo a especialista, um exemplar do molusco pode colocar uma média de 200 ovos por postura e se reproduzir mais de uma vez ao ano. “As numerosas populações desse molusco no Brasil devem-se principalmente ao seu grande potencial biótico e à ausência de patógenos específicos. Apesar de serem herbívoros, são muito vorazes e pouco exigentes para se alimentar, comendo praticamente de tudo”, explica. O Laboratório de Malacologia recebe e analisa caramujos enviados por secretarias de saúde de todo o Brasil e avalia a presença de parasitos causadores de doenças. A atividade de vigilância epidemiológica contribui para monitorar de que forma os caramujos africanos podem atuar como vetor de doenças, trazendo riscos à população.
Quando infectado por parasitos, o caramujo africano pode transmitir dois tipos de doenças. A meningite eosinofílica é a única que teve casos registrados no país. Ela é causada pelo verme Angiostrongylus cantonensis, que passa pelo sistema nervoso central, antes de se alojar nos pulmões, num ciclo de transmissão que envolve moluscos e roedores. Já a angiostrangilíase abdominal, que ocorre no país, porém sem registro de transmissão pelo caramujo africano, é causada pelo parasito Angiostrongylus costaricensis. Muitas vezes é assintomática e em alguns casos pode levar ao óbito, por perfuração intestinal e peritonite. Com relação a doenças causadas aos animais domésticos, até o presente momento, o caramujo africano pode transmitir um verme, Aelurostrongylus abstrusus, que causa pneumonia em gatos, de acordo com dados publicados em 2008 pela equipe do Laboratório de Malacologia do IOC. Catação manual é a melhor medida de controle Na África, local de origem do caramujo gigante, o ambiente conta com patógenos, como bactérias, fungos e parasitos, que realizam o controle natural dessa população. No Brasil, os estudos ecológicos sobre a espécie ainda são incipientes e as perspectivas para que ocorra um controle natural são baseadas em experiências de outros países, como os Estados Unidos. “No Havaí, a grande explosão do caramujo africano ocorreu poucos anos depois de sua introdução, na década de 30. Hoje, já não existem exemplares grandes como os encontrados aqui e a população diminuiu bastante. Esperamos que o mesmo aconteça no Brasil”, declara Silvana. “Mas o fundamental, sem dúvida, é promovermos o controle com a participação da população através da catação e da eliminação dos exemplares, seguindo as recomendações de segurança”, finaliza.
Espécie nativa pode ser confundida com o caramujo africano A principal diferença entre essas espécies está na concha. “A concha do caramujo africano tem mais giros e é mais alongada. Já o molusco nativo é mais bojudo, gordo, tem menos giros e sua abertura é espessa, não cortante”, Silvana esclarece. Renata Fontoura 16/03/09 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz). |
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