Publicada em: 27/05/0009 às 00:00 |
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Diagnóstico preciso para a doença de Chagas
A técnica de PCR – sigla para Reação em Cadeia da Polimerase – é usada amplamente para o diagnóstico de uma série de infecções, uma vez que permite identificar, de forma exata, a presença do DNA do agente causador da doença em amostras de sangue do paciente. Há 20 anos, a doença de Chagas também pode ser diagnosticada por esta técnica, a partir de um protocolo desenvolvido de forma pioneira pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Além de permitir o diagnóstico exato da doença, a PCR também pode ser aplicada para monitorar a eficácia dos esquemas terapêuticos adotados no tratamento de pacientes. No entanto, ainda hoje não existe uma padronização internacional da técnica, o que dificulta o controle eficaz da doença. Por isso, o IOC investe no esforço para a padronização do método. Foi durante seu doutoramento que a bióloga Constança Britto, atual chefe do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC, desenvolveu a padronização da PCR para diagnóstico da doença de Chagas crônica. Ela conta que desde a descoberta da doença por Carlos Chagas, em 1909, as técnicas de detecção do parasito Trypanosoma cruzi passaram por um processo de sofisticação, até chegar à PCR. De picadas ao PCR O diagnóstico da doença de Chagas pode ser realizado a partir de diferentes estratégias, dependendo do estágio da infecção. Na fase aguda ou inicial, ocorre uma elevada parasitemia – ou seja: o parasito acaba de entrar no ambiente novo do hospedeiro vertebrado, que ainda não tem resposta imune contra o parasito, fazendo com que esse se reproduza em grande quantidade. Esta fase dura de 10 a 15 dias após a infecção inicial, podendo chegar no máximo a um mês. A fase crônica é subseqüente a este período, quando o indivíduo começa a desenvolver resposta imunológica contra os antígenos do T. cruzi, desencadeando uma redução brusca da parasitemia. Na fase aguda, o diagnóstico pode ser feito por meio da análise em microscópio de amostras de sangue do paciente, uma vez que ocorre abundância de parasitos. A fase crônica demanda apurações por meio da sorologia e testes parasitológicos (xenodiagnóstico, hemocultura), os quais, apesar de suas especificidades possuem uma sensibilidade limitada em pacientes crônicos soropositivos e podem gerar resultados falso-negativos. Para assegurar os resultados dos procedimentos diagnósticos para doença de Chagas crônica, o Consenso Brasileiro em Doença de Chagas (1995) recomenda o uso de duas metodologias diferentes de sorologia (imunofluorescência e hemaglutinação) e, se houver discordância, sugere aplicação do teste confirmatório de ELISA. Resultados demandam mais rigor
Gutemberg Brito
Etapa de fracionamento da PCR processada por Constança Britto no laboratório do IOC A técnica pioneira do IOC tem desapertado interesse em diversos países da Europa e principalmente nos Estados Unidos, onde apesar de não haver a presença de vetores, a doença de Chagas tem avançado continuamente pela via da transfusão sanguínea. Estudos apontam que o parasito T. cruzi chega a estes países por meio de imigrantes clandestinos, provenientes de regiões endêmicas, que fazem doações de sangue em troca de vantagens financeiras. “Observamos uma mobilização internacional para o desenvolvimento de métodos diagnósticos e o monitoramento da eficácia de esquemas terapêuticos para a doença de Chagas por meio da aplicação da técnica PCR, que é adotada por laboratórios de todo o mundo. Definir um protocolo consensual para o uso do teste molecular é fundamental para o avanço das pesquisas e do conhecimento científico mundial na área”, reforça Constança. Para a bióloga, a aplicação da PCR na rotina ambulatorial hospitalar e em bancos de sangue, auxiliando na triagem de doadores, com a finalidade de solucionar o problema dos resultados sorológicos falso-positivos e o conseqüente descarte de sangue não-contaminado, seriam formas de conter o avanço da doença de Chagas. Entretanto, o alto custo e a demanda de tecnologia de ponta ainda limitam esta realidade. Outra contribuição da PCR apontada por Constança é a potencialização no monitoramento da eficácia dos esquemas terapêuticos, visto que auxilia na precisão dos diagnósticos e com isso pode ajudar na formação de critérios para o controle da cura de pacientes.
Em 2008, a pesquisadora coordenou um workshop sobre padronização e validação da tecnologia PCR, realizado no Instituto de Pesquisas em Engenharia Genética e Biologia Molecular da Argentina (INGEBI, na sigla em espanhol), em parceria com o IOC e instituições do Brasil, Argentina e Colômbia. O evento, promovido pela OMS e pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), reuniu pesquisadores que trabalham com a técnica de diagnóstico e monitoramento de esquemas terapêuticos da doença de Chagas para estabelecer um protocolo internacional unificado. O relatório do encontro será publicado ainda este ano, preservando parte significativa do trabalho desenvolvido por Constança na definição do protocolo universal de uso da PCR. O Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC já prepara um protocolo também para a PCR em Tempo Real, modalidade ainda mais sensível do método, para diagnosticar as diferentes linhagens do T. cruzi e possibilitar o monitoramento da parasitemia em pacientes submetidos aos regimes terapêuticos. “Após o amadurecimento deste estudo, o passo seguinte será submeter a técnica para avaliação da OMS e pleitear seu protocolo”, Constança finaliza. :: voltar para o Especial de Chagas Pâmela Pinto 27/05/2009
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