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Estudo investiga inseticida natural contra vetor da doença de Chagas

Estudo realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) investiga um inseticida natural contra o barbeiro, vetor responsável pela transmissão clássica da doença de Chagas. A pesquisa investigou a atividade de substâncias presentes no extrato de Physalis angulata - planta conhecida por sua ação anti-inflamatória -, em barbeiros infectados pelo Trypanosoma rangeli, parasita que também infecta o homem, mas diferentemente do Trypanosoma cruzi, não causa a doença. Os insetos infectados submetidos às substâncias da planta tiveram sua resposta imune amenizada e, consequentemente, apresentaram alta taxa de mortalidade em função da infecção. Como o T. rangeli tem muitas semelhanças em relação ao T. cruzi, os pesquisadores estão otimistas sobre verificar o mesmo efeito nesta espécie. O próximo passo do trabalho, desenvolvido em parceria com a pesquisadora Theresinha Tomassini do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), prevê a realização do estudo em barbeiros infectados com o T. cruzi.

 

 Gutemberg Brito

 

 A especialista Daniele Pereira monitora alimentação do barbeiro no laboratório

“A Physalis angulata é utilizada na culinária e também como planta medicinal, essencialmente contra doenças inflamatórias. Dela são extraídas substâncias chamadas fisalinas. Resolvemos investigar o potencial desses compostos no inseto vetor”, explica Daniele Pereira de Castro, do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC, que desenvolveu a pesquisa como tema de seu trabalho de doutorado. “Da planta são extraídas 11 tipos de fisalinas e nós testamos quatro delas. Primeiro investigamos se elas tinham algum efeito sobre a fisiologia do inseto, ou seja, se interferiam em seu ciclo ou se inibiam sua alimentação, e observamos que não. Mas quando o inseto tratado com a fisalina foi infectado com o T. rangeli, percebemos uma alta mortalidade”, completa.

Segundo o estudo, a alta mortalidade dos barbeiros ocorreu porque as substâncias aumentaram a atividade de uma enzima envolvida na regulação de uma das vias de ativação da resposta imune do inseto. “No inseto, são conhecidas três vias de sinalização, que acionam o alerta de defesa de seu organismo para que desenvolva a resposta imune. Em pelo menos uma dessas vias, as substâncias investigadas interferiram, amenizando essa resposta”, descreve. “A partir desses resultados, outros estudos poderão ser realizados e contribuir para o desenvolvimento de um inseticida natural contra o barbeiro”, aponta Daniele.

 Gutemberg Brito

 

 Preparação das mamadeiras onde serão alimentados os barbeiros analisados na pesquisa

A especialista ressalta que a opção pela investigação em insetos infectados com o T. rangeli não foi por acaso. “Enquanto o T. cruzi se aloja no intestino do barbeiro, o T. rangeli é mais agressivo, entra na circulação sanguínea do inseto. Se os compostos mostraram resultados promissores na infecção por esse parasito, a expectativa é que os mesmos resultados se repitam na infecção do inseto pelo T. cruzi”, conclui.  

 Gutemberg Brito

 

 O pesquisador Eloi Garcia, do Laboratório de Bioquímica de Insetos do IOC, e a orientanda Daniele Pereira

Interação entre o T. cruzi e a fisiologia do vetor como principal linha de pesquisa

O Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC realiza estudos sobre a interação entre o T. cruzi e moléculas existentes no tubo digestivo bem como a microbiota do barbeiro, local onde o parasito se aloja e multiplica no inseto vetor. “A investigação da interação do T. cruzi com o inseto vetor é a principal linha de pesquisa do laboratório. Estudamos várias frentes que incluem moléculas que interagem com o parasito, fatores que diminuem ou aceleram seu crescimento dentro do organismo do barbeiro. E dentro desta linha está o estudo da imunologia do vetor”, reforça o pesquisador Elói Garcia, que orientou o estudo juntamente com a pesquisadora Patrícia Azambuja, chefe do Laboratório. “O sucesso da transmissão da doença depende do equilíbrio entre o sistema digestivo e imunológico com o desenvolvimento e diferenciação do parasita. O T. rangeli precisa vencer a resposta imune do inseto e o organismo do inseto precisa impedir que haja uma grande infecção pelo parasita”, acrescenta o pesquisador.

Em 2007, o grupo de pesquisadores foi responsável pelo estudo, desenvolvido em parceria com o Instituto Pasteur, da França, que apontou que a bactéria Serratia marcescens, presente na flora bacteriana natural do tubo digestivo de algumas espécies de barbeiros, é capaz de lisar o Trypanosoma cruzi – isto é, de romper sua membrana, alterar sua estrutura e destruí-lo, anulando o poder de infecção do parasito. O resultado serviu de ponto de partida para a definição de mecanismos capazes de interromper a infecção do inseto vetor e, consequentemente, reduzir o ciclo de transmissão.

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Renata Fontoura

03/06/2009

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