Nível de Biossegurança 3 (NB-3)




NuBio


Práticas Padrões
Práticas Especiais
Equipamento de Segurança (Barreiras Primárias)
Instalações do Laboratório (Barreiras Secundárias)

NuBio




   O nível de Biossegurança 3 possui semelhanças ao nível de Biossegurança 2 e ao nível de Biossegurança 1, sendo acrescentado de especificidades que veremos a seguir, porisso recomendamos a leitura dos dois níves anteriores.

   O laboratório de nível de Biossegurança 3, ou de contenção, destina-se ao trabalho com agentes de risco biológico da classe 3, ou seja, com microrganismos que acarretam elevado risco individual e baixo risco para a comunidade. É aplicável para laboratórios clínicos, de diagnóstico, ensino e pesquisa ou de produção onde o trabalho com agentes exóticos possa causar doenças sérias ou potencialmente fatais como resultado de exposição por inalação. A equipe profissional deve possuir treinamento específico no manejo de agentes patogênicos, potencialmente letais, devendo ser supervisionados por profissional altamente capacitado e que possua vasta experiência com estes agentes.

   Esse nível de contenção exige a intensificação dos programas de boas práticas laboratoriais e de segurança, além da existência obrigatória de dispositivos de segurança e do uso, igualmente obrigatório, de cabine de segurança biológica. Os trabalhadores devem usar roupas de proteção específicas para esta área e equipamentos de proteção individual.

   Além dos práticas padrões e especiais estabelecidas para os laboratórios NB-1 e NB-2, devem ser adotadas as recomendações abaixo descritas que se aplicam à manipulação de agentes classificados como sendo da classe de risco 3.


  • Práticas Padrões

  • 1.  O acesso ao laboratório é rigorosamente limitado.


    2.  O trabalho no laboratório deve ser executado em dupla.


    3.  Lavar as mãos:

    ­  antes e após a manuseio de materiais viáveis, após a remoção das luvas e antes de sair do laboratório.

    ­  antes e após o uso de luvas.

    ­  depois de manusear material infectante, mesmo quando as luvas tenham sido usadas.


    4.  É proibido comer, beber, fumar, manusear lentes de contato e aplicar cosméticos dentro da área de trabalho. As pessoas que usarem lentes de contato em laboratórios devem também usar óculos de proteção ou protetores faciais. Os alimentos devem ser armazenados fora do ambiente de trabalho em armários ou geladeiras utilizadas somente para este fim.


    5.  O símbolo de "Risco Biológico" deve ser colocado na entrada do laboratório onde agentes etiológicos estiverem sendo utilizados. Este sinal de alerta deverá conter informações como o(s) nome(s) o(s) agente(s) manipulado(s), o nível de Biossegurança, as imunizações necessárias, o nome e número do telefone do pesquisador resposável, o tipo de equipamento de proteção individual que deve ser usado no laboratório e os procedimentos necessários para sair do laboratório.


    6.  É obrigatório o uso de roupas de proteção específicas (macacões, uniformes que possuam menor solução de descontinuidade, não se admitindo roupas abotoadas na frente), uso de máscaras, gorros, luvas, pró-pés ou sapatilhas. Os EPI devem ser autoclavados antes de serem lavados ou descartados.


    7.  Os trajes do laboratório não serão utilizados fora da área de biocontenção.


    8.  É proibido a pipetagem com a boca, devem ser utilizados dispositivos mecânicos.


    9.  Restringir ao máximo a utilização de agulhas. Deve haver procedimentos padrões para o manuseio de agulhas e de outros materiais perfurocortantes e seu cumprimento ser constantemente supervisionado.


    10.  Todos os procedimentos devem ser realizados cuidadosamente a fim de minimizar a formação de aerossóis.


    11.  As superfícies de trabalho devem ser descontaminadas com desinfetantes que sejam eficazes contra os agentes manipulados, ao final do trabalho ou no final do dia e após qualquer vazamento ou borrifada de material viável.


    12.  Todas as culturas, colônias e outros resíduos relacionados devem ser obrigatoriamente descontaminados antes de serem descartados, através da esterilização por calor úmido, ou seja, autoclavação. Todos os resíduos devem ser obrigatoriamente esterilizados antes de serem removidos do laboratório.

    13.  Os procedimentos de Biossegurança devem ser incorporados aos procedimentos operacionais padrões ou a um manual de Biossegurança específico do laboratório, adotado ou preparado pelo diretor do laboratório. Todo pessoal deve ser orientado sobre os riscos e devem ler e seguir as instruções sobre as práticas e procedimentos requeridos.

    14.  O chefe do laboratório deve assegurar que o laboratório e a equipe de apoio receba um treinamento apropriado sobre os riscos potenciais associados ao trabalho desenvolvido, as precauções necessárias para prevenção de exposição e os procedimentos para avaliação das exposições. A equipe de funcionários deve receber cursos de atualização anuais ou treinamento adicional quando necessário e também no caso de mudanças de normas ou de procedimentos.

    15.   Deve ser providenciado um programa rotineiro de controle de insetos e roedores.


  • Práticas Especiais

  • 1.  Não é permitido o trabalho ou a presença de mulheres grávidas, de pessoas portadoras de ferimentos ou queimaduras, imunodeficientes ou imunodeprimidas.


    2.  O chefe do laboratório deve estabelecer normas e procedimentos pelos quais só serão admitidas no laboratório que já tiverem recebido informações sobre o potencial de risco, que atendam todos os requisitos para a entrada no mesmo (por exemplo, imunização) e que obedeçam a todas as regras para entrada e saída no laboratório.


    3.  O pessoal do laboratório deve ser apropriadamente imunizado ou examinado quanto aos agentes manipulados ou potencialmente presentes no laboratório (por exemplo, vacina para hepatite B ou teste cutâneo para tuberculose) e exames periódicos são recomendados.


    4.  Amostras sorológicas de toda a equipe e das pessoas expostas ao risco devem ser coletadas e armazenadas adequadamente para futura referência. Amostras sorológicas adicionais poderão ser periodicamente coletadas, dependendo dos agentes manipulados ou do funcionamento do laboratório.


    5.  O chefe do laboratório deve assegurar que antes que o trabalho com os microrganismos classificados com da classe de risco 3 se inicie, toda a equipe do laboratório demonstre estar apto para as práticas e técnicas padrões de segurança e demonstre habilidade também nas práticas e operações específicas do laboratório.


    6.  Deve-se tomar uma extrema precaução, quando objetos cortantes, incluindo seringas e agulhas, lâminas, pipetas, tubos capilares e bisturis forem manipulados.

    a.  Agulhas e seringas hipodérmicas ou outros instrumentos perfurocortantes devem ficar restritos ao laboratório e usados somente quando não houver outra alternativa. Recipientes plásticos devem ser substituídos por recipientes de vidro sempre que possível.

    b.  Devem ser usadas somente seringas com agulha fixa ou agulha e seringa em uma unidade descartável (por exemplo, quando a agulha é parte integrante da seringa) usada para injeção ou aspiração de materiais infecciosos. As agulhas descartáveis usadas não devem ser dobradas, quebradas, reutilizadas, removidas das seringas ou manipuladas antes de serem desprezadas. Elas devem ser cuidadosamente colocadas em um recipiente de paredes rígidas, resistente a perfurações, localizado próximo à área de trabalho, utilizado para recolhimento de objetos perfurocortantes desprezados. Estes recipientes devem ser esterelizados antes de serem removidos da área de biocontenção para o descarte e disposição final.

    c.  Vidros quebrados não devem ser manipulados diretamente com a mão, devem ser removidos através de meios mecânicos como uma vassoura e uma pá de lixo ou pinças.


    7.  Todas as manipulações abertas que envolvam materiais infecciosos devem ser conduzidas no interior de cabines de segurança biológica ou de outros dispositivos de contenção física dentro de um módulo de contenção. Nenhum trabalho onde tenhamos que abrir a pele para alcançarmos os vasos deverá ser conduzido em bancadas abertas. A limpeza deverá ser facilitada através do uso de toalhas absorventes com uma face de plástico voltada para baixo, recobrindo as superfícies de trabalho não perfuradas das cabines de segurança biológica.


    8.  O equipamento laboratorial e as superfícies de trabalho devem ser descontaminadas rotineiramente com um desinfetante eficaz após a conclusão do trabalho com materiais infecciosos, especialmente no caso de derramamento, vazamentos ou outras contaminações por materiais infecciosos.

    a.  Vazamentos de materiais infecciosos devem ser descontaminados, contidos e limpos pela equipe do laboratório equipadas para trabalharem com material infeccioso concentrado. Os procedimentos operacionais padrões a respeito deste tipo de incidente devem ser desenvolvidos.

    b.  Respingos e acidentes resultantes de uma exposição ao material infeccioso devem ser imediatamente notificados ao chefe do laboratório. A avaliação médica, a vigilância e o tratamento devem ser providenciados e registros do acidente e das providências adotadas deverm ser mantidos por escrito.

    c.  Os equipamentos laboratoriais com defeitos devem ser descontaminados antes de serem enviados para conserto ou removidos do local.


  • Equipamento de Segurança (Barreiras Primárias)

  • 1.  Roupas de proteção como macacões, uniformes que possuam menor solução de descontinuidade, não se admitindo roupas abotoadas na frente, devem ser usadas pela equipe quando estiver dentro do laboratório. A roupa de proteção não deve ser usada fora do laboratório. Antes de ser lavada ou descartada esta roupa deve ser esterilizada e deve sempre ser trocada quando contaminada.


    2.  É obrigatório o uso de luvas quando estiver manuseando materiais infecciosos. Avaliar a utilização de dois pares de luva. Recomenda-se a mudança freqüente das luvas acompanhada de lavagem das mãos.


    3.  Todas as manipulações de materiais infecciosos devem ser conduzidas em uma cabine de segurança biológica de Classe II ou de Classe III.


    4.  Quando um procedimento ou processo não puder ser conduzido dentro de uma cabine de segurança biológica devem ser utilizadas combinações apropriadas de equipamentos de proteção individual (por exemplo, respiradores, protetores faciais) com dispositivos de contenção física (por exemplo, centrífugas de segurança e frascos selados).


  • Instalações do Laboratório (Barreiras Secundárias)

  • 1.  O laboratório deverá estar separado das áreas de trânsito irrestrito do prédio com acesso restrito. Uma maneira de separá-lo consiste em localizá-lo na extremidade cega do corredor ou em levantar uma divisão e, a via de acesso feita através de uma ante-sala (air-lock) depois do laboratório de nível de Biossegurança 2.


    2.  Acesso é feito através de vestíbulo pressurizado, com sistema de dupla porta e intertravamento automático como requisito básico para entrada no laboratório a partir de corredores de acesso ou outras áreas contíguas.


    3.  A área de escritório deve ser localizada fora da área de biocontenção.


    4.  Existência de um lavatório para as mãos, lava-olhos e chuveiro de emergência, no vestíbulo de acesso ao laboratório, com dispositivo de acionamento com os pés ou automatizado.


    5.  As superfícies das paredes internas, pisos e tetos das áreas, onde os agentes da classe de risco 3 são manipulados, devem ser construídas e mantidas de forma que facilitem a limpeza e a descontaminação. Toda a superfície deve ser selada e sem reentrâncias. As paredes, tetos e pisos devem ser lisas, impermeáveis e resistentes a substâncias químicas e desinfetantes normalmente usados no laboratório. Os pisos devem ser monolíticos e anti - derrapante. Orifícios ou aberturas nas superfícies de pisos, paredes e teto devem ser selados. Dutos e espaços entre portas e esquadrias devem permitir o selamento para facilitar a descontaminação.


    6.  As bancadas devem ser impermeáveis e resistentes ao calor moderado e aos solventes orgânicos, ácidos, álcalis e solventes químicos utilizados para descontaminação de superfícies e equipamentos.


    7.  Os móveis do laboratório devem suportar cargas e usos previstos com espaçamento suficiente entre as bancadas, cabines e equipamentos para permitir acesso fácil para a limpeza. As cadeiras e outros móveis utilizados em um laboratório devem ser cobertos por uma material que não seja tecido e possa ser facilmente descontaminado.


    8.  Todas as janelas do devem possuir caixilhos metálicos, ser fixas e hermeticamente vedadas.


    9.  Deve estar disponível, na área de biocontenção, uma autoclave para descontaminação de todo o material utilizado nesta área. Deve-se considerar os meios de descontaminação de equipamentos.


    10.  Cabines de segurança biológica devem ser instaladas, de forma que a variação da entrada e saída de ar da sala, não provoque alteração nos padrões de contenção de seu funcionamento. As cabines de segurança biológica devem estar localizadas longe de portas, janelas que possam ser abertas e fora de áreas laboratoriais com fluxo intenso de pessoas, de forma que sejam mantidos os parâmetros de fluxo de ar nestas cabines de segurança biológica.


    11.  O laboratório deve ter um sistema de ar independente, com ventilação unidirecional onde o fluxo de ar penetra no laboratório através da área de entrada. O ar de exaustão não deve recircular em outras áreas do prédio. Equilíbrio do sistema de ventilação/exaustão prevenindo pressurização e assegurando pressão negativa. O ar exaurido da área de biocontenção deve ser descarregado, verticalmente, para fora do prédio, em áreas livres de construções e de entradas de ar. Deve ser filtrado através de filtro HEPA (High Efficiency Particulated Air).


    12.  Alarmes para falhas nos sistemas de insuflação, exaustão, pressurização, intercomunicação, temperatura, umidade, incêndios dentre outros. Providenciar monitor visual com um painel de controle.


    13.  O ar exaurido de uma cabine de segurança biológica Classe II, filtrado por filtro absoluto tipo HEPA poderá recircular no interior do laboratório se a cabine for testada e certificada anualmente. O ar exaurido das cabines de segurança biológica deve ser retirado diretamente para fora do ambiente de trabalho através do sistema de exaustão do edifício.


    14.  As linhas de vácuo devem ser protegidas por sifões contendo desinfetantes líquidos e filtros HEPA, ou o equivalente. Os filtros devem ser substituídos quando necessário. Uma alternativa é usar uma bomba a vácuo portátil (também adequadamente protegida com sifões e filtros).


    15.  A iluminação deve ser adequada para todas as atividades, evitando reflexos e brilhos que possam ofuscar a visão.

    16.  O projeto da instalação e os procedimentos operacionais do nível de Biossegurança 3 devem ser documentados. Os parâmetros operacionais e das instalações devem ser verificados quanto ao funcionamento ideal antes que o estabelecimento inicie suas atividades. As instalações devem ser verificadas pelo menos uma vez ao ano.


    17.  Deve haver um sistema de segurança para combate à incêndios e saídas de emergência.


    18.  A água utilizada deve ser de boa qualidade e nunca deve faltar. O sistema de água pública precisa ser protegido por um dispositivo anti-refluxo.


    19.  O fornecimento de eletricidade precisa ser adequado. Sistema de gerador, afim de manter os equipamentos indispensáveis (cabines de segurança biológica, freezers, etc).


    20.  Proteções adicionais ao meio ambiente (por exemplo, chuveiros para a equipe, filtros absolutos tipo HEPA para filtração do ar insuflado, contenção de outras linhas de serviços e a descontaminação dos efluentes líquidos) deve ser considerada em conformidade com a avaliação de risco, com as recomendações para manipulação de determinado agente patogêncico, atividade desenvolvida , condições do local ou outras normas locais, estaduais ou federais aplicáveis.


      Referências Bibliográficas

    Cardoso, T. A. O. Biossegurança no Manejo de Animais em Experimentação. Pp.105-159. In: Oda, L.M. & Avila, S.M. (orgs.). Biossegurança em Laboratórios de Saúde Pública. Ed. M.S., 1998. 304 p. ISBN: 85-85471-11-5

    Centers for Disease Control and Prevention - CDC. Biosafety in microbiological and biomedical laboratories. 4a. ed. U.S. Department of Health and Human Services, Atlanta, 1999. 250p.

    Lima e Silva, F. H. A. Barreiras de contenção. In: Oda, Leila Macedo; Ávila, Suzana (Orgs) et al. Biossegurança em laboratório de saúde pública. Rio de Janeiro: Fiocruz. 1998. 304 p. ISBN: 85-85471-11-5