Publicada em: 10/09/2018 às 15:56 |
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Compromisso com a saúde e a educação Parasitoses intestinais, diagnóstico da hepatite B e ensino de química são temas de teses vencedoras do Prêmio Alexandre Peixoto 2018 :: Conheça outras teses premiadas Com abordagens inovadoras, três pesquisas ganhadoras do Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto 2018, entregue nesta terça-feira (11/09), durante sessão extraordinária do Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), buscam contribuir para o acesso à saúde e o exercício da cidadania. Criado em 2013 para contemplar, anualmente, as melhores teses desenvolvidas por doutorandos dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC, a premiação é uma homenagem ao pesquisador Alexandre Peixoto, falecido precocemente no mesmo ano. Indo da produção de materiais educativos à caracterização genética dos parasitos, a tese da bióloga Maria Fantinatti Fernandes da Silva visa gerar instrumentos para auxiliar no controle da giardíase, parasitose intestinal que afeta, sobretudo, as crianças. O desenvolvimento de métodos alternativos para reduzir custos e permitir o diagnóstico da hepatite B em amostras de saliva está no centro do estudo da biomédica Moyra Machado Portilho. Já o trabalho da professora de química Ana Paula Sodré da Silva Estevão elabora uma história em quadrinhos sobre o tema lixo eletrônico para promover o ensino da disciplina conectado ao contexto social. Rotas da giardíase
As duas creches incluídas na pesquisa estão localizadas em comunidades pobres do Rio de Janeiro e de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde há aglomeração em muitos domicílios, fornecimento de água tratada irregular ou inexistente e ausência de rede de coleta de esgoto. Na instituição carioca, os exames parasitológicos de fezes das crianças apontaram taxas de 49% de infecção por G. lamblia em 2014 e 39%, em 2015. Já na creche de Belford Roxo, o índice ficou em 14% em 2015. Entre os funcionários, a parasitose foi identificada em um trabalhador da creche do Rio, em 2015. Considerando a alta taxa de infecção, a pesquisa avaliou possíveis origens da contaminação na comunidade carioca. A água da creche mostrou-se livre do parasito. Por outro lado, entre quatro amostras de água de residências de crianças infectadas analisadas, duas foram positivas para G. lamblia, sendo ambas originadas em uma mina. A caracterização genética dos parasitos revelou a presença de protozoários do genótipo A nos casos da Baixada Fluminense, enquanto no Rio, foram encontrados parasitos dos genótipos A, B e E, o que surpreendeu a autora da pesquisa. “Os genótipos A e B são conhecidos por infectar o homem e diversos animais, enquanto o genótipo E é apontado pela literatura científica como específico de animais de fazendo. Esse achado muda o paradigma, apontando a possibilidade de um novo ciclo antropozoonótico, que precisa ser estudado”, afirma Maria. A orientadora do trabalho ressalta a importância da abordagem multidisciplinar para os resultados alcançados. “A tese une aspectos de pesquisa de ponta, como a caracterização genética dos parasitos, com análises de parasitologia e de epidemiologia, além da educação em saúde. Essa combinação foi fundamental para detectar a alta prevalência da doença e apontar possíveis vias de transmissão”, ressalta Alda. Acesso ao diagnóstico
Entre outros resultados, a pesquisa compara três metodologias para detecção do DNA viral (chamadas de metodologias de PCR qualitativas), apontando uma com maior concordância com os testes comerciais. O trabalho também apresenta um método para quantificação do material genético do vírus (chamado de método de PCR quantitativo) que atingiu 85% de concordância com um exame comercial em amostras de soro e apresentou potencial para utilização em amostras de saliva. A avaliação de diferentes formas para coleta de saliva demonstrou ainda que a escolha do coletor pode impactar no sucesso do exame, indicando o coletor da marca Salivette como o mais eficiente. “Considerando que os métodos comerciais são caros e não estão disponíveis em todos os laboratórios do país, a padronização de metodologias in house (desenvolvidas internamente nos laboratórios) pode ampliar o acesso ao diagnóstico molecular, oferecendo um melhor acompanhamento aos pacientes com hepatite B crônica”, destaca Moyra, acrescentando que mesmo nos casos de pacientes com hepatite B oculta, que apresentam uma baixa carga viral, foi possível padronizar um método com alta sensibilidade para o diagnóstico. A orientadora do estudo ressalta ainda que a pesquisa traz avanços importantes para que o diagnóstico da hepatite B possa ser realizado também em amostras de saliva. “Os testes rápidos em saliva já são usados para diagnóstico de HIV e outras infecções. Embora ainda sejam necessários mais estudos para aumentar a sensibilidade dos métodos de diagnóstico de hepatite B em amostras de saliva, a tese aponta que isso é possível e traz uma contribuição importante ao apontar o método mais adequado para coleta desse tipo de amostra”, afirma Lívia. Química no contexto social
A criação da revista contou com um levantamento teórico e com oficinas realizadas com estudantes de licenciatura em química do IFRJ-CDUC sobre o uso de histórias em quadrinhos como ferramenta didática e o tema lixo eletrônico. Em seguida, o roteiro foi elaborado coletivamente pelos licenciandos e pela autora da tese, em colaboração com o artista Hamilton Manoel da Silva Junior. A narrativa contemplou questões ambientais e sociais, como o consumismo, a obsolescência programada e a contaminação ambiental, assim como conteúdos específicos de química, como metais, tabela periódica, polímeros e combustão. O produto final foi analisado por docentes do IFRJ-CDUC, que avaliaram a revista positivamente, tanto do ponto de vista estético quanto em relação à abordagem do conteúdo da disciplina, embora tenham mencionado possíveis dificuldades para trabalhar com quadrinhos em sala de aula. “Problematizar o tema lixo eletrônico no ensino de química é uma forma de mostrar aos alunos que o conteúdo da disciplina tem impacto na vida deles. O ensino de ciências articulado ao contexto social é fundamental para promover a participação ativa nas discussões da sociedade e o exercício pleno da cidadania”, ressalta Ana Paula, acrescentando que é importante abordar metodologias contemporâneas na formação inicial dos professores, como ocorreu nas oficinas realizadas durante a pesquisa, para facilitar a adoção dessas práticas no dia-a-dia das salas de aula. O orientador destaca que a tese incorpora a dimensão lúdica a situações reais de agravos sociais e ambientais. “O lixo eletrônico é um tema estratégico, haja vista a escalada da produção, do consumo e do descarte desses materiais. Ao gerar um produto, a tese poderá contribuir para o processo ensino-aprendizagem da química, motivando alunos e professores para a compreensão e atitudes sobre essa realidade”, completa Marco. Reportagem: Maíra MenezesEdição: Vinicius Ferreira 11/09/2018 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
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