Publicada em: 21/02/2019 às 12:19 |
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Mudanças climáticas e cidades Com colaboração de mais de 400 especialistas e 115 exemplos de diferentes regiões do planeta, livro analisa consequências do aquecimento global para as áreas urbanas e aponta soluções concretas para mitigação e adaptação
Com projeções para 153 cidades, incluindo dez no Brasil, o livro aponta que as temperaturas podem subir de 1,7°C a 5°C até 2080, enquanto o nível do mar nas áreas costeiras deve aumentar de 21 cm a 118 cm. Ondas de calor, inundações, chuvas e secas são exemplos de fenômenos que devem se tornar mais frequentes e intensos devido às mudanças climáticas, com impactos diretos sobre as áreas urbanas. Em 16 capítulos, o relatório analisa os impactos desse cenário em temas como desastres, planejamento urbano, saúde humana, justiça ambiental, economia, biodiversidade, zonas costeiras, energia, água, transporte, habitação, resíduos sólidos e governança. A publicação inclui ainda um resumo para os líderes de cidades, que foi apresentado na 21ª Conferência das Partes (COP-21), em Paris, em 2015, com conclusões preliminares do trabalho. Segundo Martha, a obra atualiza e amplia a gama de assuntos discutidos no primeiro relatório da UCCRN, publicado em 2011. “Todos os capítulos pensam em benefícios para as cidades, não só para o futuro, mas para os dias atuais. Por exemplo, expandir as áreas verdes nas cidades com objetivo de reduzir as ilhas de calor pode gerar benefício imediato para a saúde da população ao contribuir para a melhoria da qualidade do ar e a gerar oportunidades para atividade física”, comenta ela, citando como exemplo o projeto ‘um milhão de árvores’, implantado em Nova York. A cientista acrescenta ainda que o relatório evidencia o avanço das pesquisas sobre mudanças climáticas e cidades, sobretudo em países em desenvolvimento. “Em 2011, quase não havia dados disponíveis sobre a América Latina, mas agora temos mais de vinte estudos de caso da região. Isso é importante porque há diferenças regionais significativas. Por exemplo, a poluição atmosférica é a questão mais pesquisada nos países de clima temperado. Já nas áreas tropicais, os estudos relacionados a doenças transmitidas por vetores são expressivos”, comenta a pesquisadora. Um dos estudos de caso apresentados no livro aborda os impactos das chuvas que atingiram a Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011. Além de provocar mais de 800 mortes em deslizamentos de terra e enchentes, o desastre elevou a transmissão de doenças infecciosas. Em Nova Friburgo, os casos de leptospirose passaram de sete em 2010 para 167 em 2011, enquanto os registros de dengue subiram de 31 para 936. O custo social das doenças, incluindo gastos do sistema de saúde e perdas de produtividade, foi estimado entre aproximadamente US$ 50 mil e US$ 280 mil. Para os cientistas, dados desse tipo podem apoiar a avaliação e implementação de medidas preventivas, uma vez que o gasto “pós-desastre” pode ser maior que o investimento na prevenção do dano. Perspectiva financeira O financiamento das ações é um dos temas abordados de forma inédita no relatório. Segundo estimativas, o custo para adaptação às mudanças climáticas deve ser de 80 a 100 bilhões por ano, com 80% dos gastos nas áreas urbanas. Uma vez que as cidades não conseguirão arcar com os investimentos sozinhas, o livro apresenta projetos desenvolvidos para incluir o setor privado nas ações. Um deles é o programa de comércio de emissões de carbono de Tókio, que estabelece uma cota anual para grandes consumidores de energia e obriga aqueles que emitem demais a comprar cotas daqueles que reduziram suas emissões. Os riscos nas áreas costeiras é outro assunto destacado pela primeira vez. O relatório aponta que, considerando o ritmo de crescimento da população em cidades à beira-mar, a elevação do nível dos oceanos entre 10 cm e 21 cm, fará com que 411 milhões de pessoas vivam em áreas com risco de inundação em 2060. Os cientistas afirmam que o custo para proteger esses locais pode alcançar entre US$ 12 bilhões e US$ 71 bilhões até 2100, mas o valor ainda será menor do que os gastos para reparar danos caso nada seja feito. Construção de estruturas de defesa e soluções naturais, como recuperação de manguezais e dunas, são apontadas como possibilidades, ao lado de projetos para preparar a infraestrutura física das cidades e seus habitantes para lidar com a maior frequência de inundações. Caminhos para a transformação Além de detalhar ações setoriais, o livro aponta cinco caminhos para alcançar a transformação urbana necessária para enfrentar as mudanças climáticas. Em primeiro lugar, integrar mitigação e adaptação. Em segundo, coordenar a redução do risco de desastres no curto prazo e a adaptação às mudanças climáticas no longo prazo. Em terceiro, gerar informações sobre riscos associados ao clima com participação de cientistas e uma ampla gama de interessados, incluindo diferentes níveis político-administrativos, atores econômicos e sociedade civil. Em quarto, ter como foco prioritário as populações desfavorecidas, como pobres, idosos, mulheres, minorias e imigrantes recentes, que costumam ser mais vulneráveis às alterações do clima. Por fim, avançar na construção de redes de governança, financiamento e produção de conhecimento, para possibilitar o planejamento, a implantação e a coordenação das ações. “Esses caminhos têm sido adotados em diferentes graus por cidades do mundo que estão engajadas na preparação para as mudanças climáticas. As evidências apontam que essa é uma transformação urgente e é importante integrar a perspectiva climática ao planejamento das intervenções urbanas porque o custo posterior pode ser muito maior”, alerta Martha. Serviço Climate Change and Cities: Second Assessment Report of the Urban Climate Change Research Network Cambridge University Press 811 páginas US$ 64,00 – livro digital US$ 79,99 – livro físico Como adquirir: Clique aqui e acesse o site da editora Reportagem: Maíra Menezes Edição: Vinicius Ferreira 21/02/2019 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
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