No Brasil do pós-guerra, os mesmos veículos que divulgavam notícias sobre comportamento, religião, política, beleza e novelas eram aqueles que abordavam temas científicos. Não havia, naquela época, publicações de peso especializadas em ciência. Assim, a cobertura de ciências a que o público tinha acesso era aquela presente em jornais, como O Globo e Correio da Manhã, e revistas, como Manchete e O Cruzeiro – esses veículos divulgavam com certa freqüência notícias de ciência, dentro e fora de seções exclusivamente dedicadas ao tema.
Em relação às notícias internacionais, as publicações, sobretudo os jornais, dedicavam extenso espaço à divulgação de notícias e imagens recebidas por telegrama de agências de notícias como a norte-americana United Press e a soviética TASS. Durante a Guerra Fria e a corrida espacial, essas agências funcionavam, por um lado, como aceleradores do processo de globalização das notícias e, por outro, como propagandistas culturais e ideológicos cujos posicionamentos eram reproduzidos pelos veículos brasileiros.
Já a ciência brasileira recebeu destaque na imprensa em momentos particularmente importantes de seu desenvolvimento, privilegiando a imagem do cientista mais do que a ciência propriamente dita. Cientistas eram tratados como celebridades comparáveis aos ídolos de futebol e astros do cinema, e, assim, tornavam-se eles próprios a pauta das reportagens. Foi o caso do físico César Lattes, tema de grandes fotorreportagens em O Cruzeiro.
Entre as seções específicas sobre ciência, destacam-se, no jornal Correio da Manhã, “Um pouco de ciência”, que trazia notas sobre o tema e, em O Globo, "O leitor em dia com a ciência", que trazia informações internacionais da agência Copyright Science Service, e "O que v. precisa saber de medicina", em que médicos discorriam sobre vacinas e tratamentos para várias doenças.
Variando entre textos didáticos e sensacionalistas, a imprensa da época contribuiu tanto para o reforço de mitos e falsas premissas sobre a ciência quanto para favorecer a criação de espaços para algumas áreas da pesquisa científica, como a física. Com visão pouco crítica, exaltou cientistas e destacou a qualidade inquestionável de trabalhos estrangeiros. Quanto aos trabalhos nacionais, por vezes eram retratados em suas dificuldades financeiras e estruturais.
Algumas publicações investiram também em reportagens sensacionalistas sobre ficção científica, sobretudo temas como discos voadores e seres extraterrestres, que tinham grande apelo público. Como utilizavam linguagem próxima à dos meios acadêmicos, por vezes essas reportagens confundiam o leitor leigo, impossibilitando-o de distinguir entre a pesquisa e a ficção científicas.
Nas propagandas de produtos e serviços, a ciência era utilizada para dar credibilidade àquilo que se desejava vender: o selo “cientificamente comprovado” era a garantia de produtos de higiene pessoal, eletrodomésticos, cosméticos, remédios e automóveis.
Fonte:
CARDOSO, José Leandro Rocha. A Ciência em Órbita: Guerra Fria, Corrida Espacial e Divulgação da Ciência na Imprensa Carioca (1957/1961). Niterói: UFF, 2003. 150p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2003.
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