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Pesquisa e educação popular em museus brasileiros no século 19

Embora tenham surgido na América Latina no final do século 18 no contexto das políticas ilustradas de Portugal e Espanha – no Brasil, nessa época, foi criado um gabinete chamado “Casa dos Pássaros” –, os museus de história natural viveram um curto período de apogeu a partir da segunda metade do século 19 e até as primeiras décadas do século 20.

Nessa época, os museus se tornaram espaços privilegiados para o estudo de especialidades baseadas em coleções, como antropologia e paleontologia, entre outras. Muitos deles surgiram na esteira dos processos de independência dos países latino-americanos e eram vinculados a universidades ou outras instituições de ensino.

Acompanhando um movimento mundial, os museus de ciências brasileiros assumiam, no século 19, duas funções primordiais: pesquisa e educação.

As linhas de pesquisa conduzidas nos museus, além de sua importância acadêmica, prestavam consultoria ao governo sobre seus temas de especialidade. O Museu Nacional do Rio de Janeiro, por exemplo, por meio de seu laboratório de análises químicas, funcionou desde sua criação – em 1818 – como um consultor governamental para assuntos como geologia, mineração e recursos naturais.

Por meio das seções de antropologia, desvendava ainda os mistérios da “raça brasileira”. Recolher e colecionar crânios, flechas, armas e utensílios – e até os próprios indígenas – fazia parte daquilo que os diretores de museus consideravam como missão para si e para suas instituições: responder às questões sobre a origem da espécie humana.

Já no final do século, o Museu Nacional viveu dias de intensa atividade científica sob o comando de Ladislau Netto, que se debruçava sobretudo às coleções arqueológicas e etnográficas. Foi obra dele a organização dos Archivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, a primeira revista brasileira duradoura dedicada às ciências naturais, que tornou-se um importante instrumento de divulgação do museu no exterior.

Porém, o final do século viu também uma descentralização das atividades científicas com a criação ou fortalecimento de instituições de pesquisa fora da capital. Assim, o Museu Nacional passou a dividir espaço com o Museu Paulista e o Museu Paraense, por exemplo. Este ocupou lugar de destaque no cenário científico brasileiro, sobretudo sob a direção de Emílio Goeldi, na qual a produção científica do museu se intensificou de maneira expressiva.

Mas os museus brasileiros não estavam isolados do resto do mundo. Ao contrário, realizavam intensas atividades de intercâmbio com outros museus da América Latina. Peças arqueológicas, exemplares de animais e plantas foram trocados para completar coleções, além de livros e trabalhos acadêmicos. Os próprios diretores dos museus transitavam entre os países para facilitar essa interação.

Em relação aos propósitos educativos, os museus dedicavam-se à instrução pública como uma forma de valorizar a ciência e consolidar o papel do cientista na sociedade, assumindo também um propósito civilizador.

Educar a população requeria, porém, uma certa adaptação por parte dos museus, de modo a facilitar a compreensão do público sobre suas coleções – por exemplo, a opção por exibir esqueletos inteiros de animais em vez de apresentar peças soltas. Afinal, naquela época, a “lição das coisas” era considerada indispensável para a educação da juventude e das populações urbanas iletradas, em outras palavras, para a ampliação da educação popular.

Fontes:

LOPES, Maria Margaret. A mesma fé e o mesmo empenho em suas missões científicas e civilizadoras: os museus brasileiros e argentinos do século XIX. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 21, n. 41, p. 55-76, 2001.

LOPES, Maria Margaret. Cooperação científica na América Latina no final do século XIX: os intercâmbios dos museus de ciências naturais. Interciencia, Caracas (Venezuela), v. 25, n. 5, p. 228-233, agosto 2000.

LOPES, Maria Margaret e MURRIELLO, Sandra Elena. Ciências e educação em museus no final do século XIX. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 12, suplemento, p. 13-30, 2005.

SANJAD, Nelson R. A Coruja de Minerva: O museu paraense entre o Império e a República, 1866-1907. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. 442p. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde, Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, 2005.


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