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Pedro Luiz Napoleão Chernoviz

O doutor Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, nome abrasileirado de Piotr Czerniewicz, nasceu na Polônia (Lukov), em 1812. Em 1830, já como estudante de medicina na Faculdade de Varsóvia, foi obrigado a sair de seu país, ainda bem jovem, por ter participado de um levante contra o domínio russo. Assim como milhares de outros poloneses, recebeu abrigo em território francês, onde pôde continuar seus estudos, doutorando-se, aos 25 anos, em medicina pela Faculdade de Montpellier.

Na busca de fama e fortuna, resolveu, em 1840, aventurar-se pelas terras brasileiras, uma vez que o país era visto como promissor na área da saúde. Em dezembro do mesmo ano, teve seu diploma reconhecido pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e foi aceito na Academia Imperial de Medicina, como membro titular. Entretanto, ao entrar em contato com as vivências e costumes da capital brasileira, percebeu que, para atingir seus propósitos de enriquecimento, o meio mais eficaz não seria clinicar ou dedicar-se à arte cirúrgica. Isto porque já existiam muitos consultórios médicos e de cirurgiões renomados na cidade carioca.

Entretanto, esse quadro não se repetia nos vilarejos interioranos, afastados dos grandes centros urbanos. Havia uma numerosa população rural carente de todo tipo de assistência relacionada à saúde. A partir dessa constatação, Chernoviz dedicou-se à idéia de produzir manuais em língua portuguesa, que tivessem explicações sobre o conjunto posológico e indicações de procedimentos básicos, que pudessem orientar leigos e acadêmicos nos atendimentos diários e nos primeiros diagnósticos.

A idéia viria a se materializar com as publicações do Formulário e Guia Médico (1841) e do Dicionário de Medicina Popular e das Ciências Acessórias (1842), que se tornaram referência para as questões médicas. Grande foi a aceitação desses manuais, o que resultou na publicação de várias edições. Segundo o estudioso Hilton Seda, possivelmente em virtude das críticas que estava recebendo pelo fato de seus manuais facilitarem o acesso dos leigos à medicina, Chernoviz teria se desligado, em 1848, da Academia Imperial de Medicina.

Em 1855, retornou a França, em companhia de sua mulher Julie Bernard e de seus seis filhos (um dos quais daria continuidade a seu grande projeto editorial) e morreu, em Paris, em 1881. Sem dúvida, foram várias as contribuições de Chernoviz para o campo da saúde: publicou diversos artigos na Revista Médica Fluminense e na Gazeta Médica da Bahia. Entretanto, não ficou conhecido no Brasil por sua atuação acadêmica ou clínica, mas por seus manuais médicos, que se tornaram instrumentos essenciais para disseminar práticas e saberes aprovados pelas instituições médicas oficiais no cotidiano daquela população.

A imagem de Chernoviz foi, assim, associada aos próprios manuais, como fica claro a partir do poema Dr. Mágico, de Carlos Drummond de Andrade: "Dr. Pedro Luís Napoleão Chernoviz / Tem a maior clientela da cidade. / Não atende a domicílio / Nem tem escritório. / Ninguém lhe vê a cara. / Misterioso doutor de capa preta ou invisível, (...)".

Fontes:


FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. "Os manuais de medicina e a circulação do saber no século XIX no Brasil: mediação entre o saber acadêmico e o saber popular". Educar, Curitiba, n. 25, p. 59-73, 2005. Disponível em <http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/educar/article/viewFile/2238/1870>. Acesso em 09 fev. 2009.

GUIMARÃES, Maria Regina Cotrim. Civilizando as artes de curar: Chernoviz e os manuais de medicina popular no império. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. Dissertação (Mestrado)  - Programa de Pós-graduação em História das Ciências da Saúde, Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2003. Disponível em <http://teses.cict.fiocruz.br/pdf/guimaraesmrc.pdf>. Acesso em 09 fev. 2009.

GUIMARÃES, Maria Regina Cotrim. "Chernoviz e os manuais de medicina popular no Império". História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 501-14, maio-ago. 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v12n2/16.pdf>. Acesso em 09 fev. 2009.


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