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Eliminar a Dengue: um programa de pesquisa internacional

Programa colaborativo reúne cientistas de sete países em esforço de pesquisa

::Parceria traz para o Brasil iniciativa internacional pioneira de pesquisa em dengue::
::Como a Wolbachia atua no controle da dengue::
::Informações sobre a dengue::

O projeto ‘Eliminar a Dengue: Desafio Brasil’ é parte do programa internacional ‘Eliminar a Dengue: Nosso Desafio’, que traz uma abordagem nova e natural para o controle da doença. A dengue é considerada a mais relevante doença viral transmitida por mosquitos no mundo. Nos últimos 50 anos, sua incidência aumentou 30 vezes. O objetivo do programa é cessar a transmissão do vírus da dengue pelo Aedes aegypti a partir da introdução da bactéria Wolbachia – que é natural e comumente encontrada em insetos – nas populações locais de mosquitos.

Peter Ilicciev

Testes em laboratório estão sendo realizados com os mosquitos com Wolbachia

A atuação da Wolbachia reduz a transmissão do vírus da dengue do A. aegypti para as pessoas. Quando os mosquitos com Wolbachia são introduzidos na natureza, eles se reproduzem com as populações locais de mosquitos e passam a bactéria para sua prole, fazendo com que todos os A. aegypti daquela localidade tenham a Wolbachia, após algumas gerações. Assim, não conseguem transmitir o vírus da dengue.
 
O programa ‘Eliminar a Dengue’ é uma estratégia de longo prazo que, se for bem sucedida, irá beneficiar um número estimado de 2,5 bilhões de pessoas – ou seja, dois quintos da população mundial que, atualmente, vivem em áreas de transmissão da doença . O método poderá reduzir de forma significativa a dependência em relação às estratégias convencionais de controle do mosquito, como o uso de inseticidas, e será totalmente compatível com uma vacina, uma vez desenvolvida.

LINHA DO TEMPO DO PROGRAMA 'ELIMINAR A DENGUE'

Confira, abaixo, a linha do tempo do programa desde 2006. A motivação original dos pesquisadores era transferir a Wolbachia das moscas-da-fruta para os mosquitos. O objetivo era encurtar a vida das fêmeas adultas do Aedes aegypti – assim, não viveriam tempo suficiente para contrair e transmitir o vírus para humanos. Quando a Wolbachia foi introduzida com sucesso no Aedes aegypti, veio a surpresa: isso não somente encurtou a expectativa de vida do mosquito como também interferiu diretamente na capacidade do vírus da dengue de se desenvolver e, como resultado, de ser transmitido.

Janeiro de 2009 – Wolbachia é transferida para o Aedes aegypti
É publicada na revista ‘Science’ a pesquisa que descreve a introdução estável da Wolbachia no Aedes aegypti, por meio da técnica de microinjeção de embriões.

Peter Ilicciev

A Wolbachia impede o vírus de se desenvolver dentro do mosquito e, consequentemente, de ser transmitido para pessoas

Dezembro de 2009 – Descoberta científica de que a simbiose entre a Wolbachia e o Aedes aegypti limita a infecção por dengue, Chikungunya e Plasmodium
A equipe do programa ‘Eliminar a Dengue’ comprova que a infecção por Wolbachia inibe diretamente a infecção do inseto por uma gama de patógenos humanos, como o vírus da dengue, o vírus Chikungunya (causador de um tipo de febre hemorrágica que ocorre sobretudo na Ásia) e o Plasmodium (protozoário causador da malária). Os achados foram publicados na revista científica ‘Cell’. Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz, foi responsável, junto com pesquisadores da Universidade de Monash, na Austrália, pela descoberta científica. 

2010 – Testes em gaiolas de grandes proporções na Austrália
Com o objetivo de estudar a sobrevivência do Aedes aegypti em condições naturais, é construída, na Austrália, uma gaiola de campo de grandes proporções projetada para recriar o ambiente doméstico em que o mosquito vive. Os experimentos realizaram a liberação de grupos de Aedes com Wolbachia onde só havia Aedes de campo (sem Wolbachia). Por sua característica de reprodução, em pouco tempo os Aedes com Wolbachia passaram a predominar, apontando que não há necessidade de liberação continuada dos mosquitos com a bactéria.

Setembro 2010 – Aprovação governamental para iniciar os experimentos de campo na primeira localidade na Austrália
Após rigorosa avaliação sobre a segurança do projeto para humanos e meio ambiente, a Autoridade Federal Governamental Australiana de Pesticidas e Medicamentos Veterinários (APVMA, na sigla em inglês) aprova o início dos experimentos de campo nas comunidades de Yorkeys Knob e Gordonvale, próximo a Cairns, em Queensland, norte da Austrália.

Janeiro de 2011 – Testes de campo têm início na Austrália
Após a conquista de extensivo engajamento dos moradores, avaliação de risco e aprovação da APVMA, o programa ‘Eliminar a Dengue’ dá início aos experimentos nas localidades aprovadas. O objetivo destes primeiros testes de campo era determinar como a Wolbachia iria se disseminar no ambiente dadas as diferentes condições de liberação do inseto. O projeto é pioneiro neste aspecto: uma vez que um número suficiente de mosquitos com Wolbachia é liberado, o método é autossustentável. Mosquitos com Wolbachia foram liberados uma vez por semana nas residências de ambas as comunidades. Após 10 semanas da primeira liberação e cinco após a última, 100% dos Aedes aegypti em Yorkeys Knob possuíam a Wolbachia e, em Gordonvale, o índice chegou a 90%. Até hoje em ambas as áreas a Wolbachia permanece nos mosquitos.

Julho de 2011 – Indonésia adere ao programa
A Indonésia passa a integrar o programa ‘Eliminar a Dengue’.

Agosto de 2011 – Nature publica o resultado dos testes de campo na Austrália
A revista científica ‘Nature’ publica dois artigos que descrevem os resultados de diversos experimentos científicos empreendidos pelo programa ‘Eliminar a Dengue’ ao longo dos anos – das pesquisas em laboratório ao primeiro teste de campo. Estes resultados apresentam o primeiro exemplo de sucesso em que populações de campo de mosquitos foram alvo de uma intervenção com o objetivo de alterar a capacidade do vetor de transmitir o vírus causador da doença. As descobertas indicam que a estratégia baseada no uso da Wolbachia pode ser uma abordagem prática de supressão da dengue, com potencial para ser implementada a baixo custo em áreas extensas.

2011 – Programa ‘Eliminar a Dengue’ estabelece projetos nacionais em países endêmicos
Seguindo o sucesso do primeiro experimento de campo na Austrália, o programa busca a aprovação de órgãos regulatórios para conduzir experimentos similares no Vietnã e Brasil.

Janeiro de 2012 – Segundo teste de campo é realizado na Austrália
Moradores das localidades de Machans Beach e Babinda, em Cairns, Austrália, manifestam apoio para o início de um segundo experimento com o método.

Setembro de 2012 – Projeto ‘Eliminar a Dengue’ é anunciado no Brasil
O anúncio, realizado durante o 18º Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, contou com a presença do líder internacional do programa ‘Eliminate Dengue: Our Challenge’, Scott O'Neill; do presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha; do líder do projeto no Brasil, Luciano Moreira; e do secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.

Março de 2013 – Colômbia passa a integrar o projeto
A Colômbia torna-se o sexto país a integrar o programa ‘Eliminar a Dengue’.

Abril de 2013 – Primeiros testes de campo no Vietnã
O projeto Eliminar a Dengue no Vietnã começa os testes de campo com a liberação de mosquitos Aedes Aegypti com Wolbachia em Tri Nguyen Island, província de Khanh Hoa.

Janeiro de 2014 – Início dos testes de campo na Indonésia
A Indonésia dá início aos testes de campo com a liberação de Aedes Aegypti com Wolbachia nas áreas de Nogotirto e Kronggahan, em Yogyakarta.

Maio de 2014 – Bill Gates visita equipe de pesquisa da Indonésia
Empresário e filantropo norte-americano Bill Gates visita o projeto ‘Eliminar a Dengue’ na Indonésia para acompanhar de perto o andamento da pesquisa. Gates se reúne com os especialistas do país e visitou um dos locais de teste de campo. O programa recebe financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates.

Setembro de 2014 – Brasil dá início aos estudos de campo
Após aprovação das entidades regulatórias e amplo apoio dos moradores, o bairro de Tubiacanga, na Ilha do Governador, torna-se a primeira região das Américas a receber a etapa de estudos de campo do programa ‘Eliminar a Dengue’. Desde 2012, equipes da Fiocruz atuam na área com a finalidade de monitorar a população de mosquitos locais. São realizados contatos regulares com moradores, lideranças e associações.

 

24/09/2014
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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