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Encerrado Seminário Comemorativo dos 30 anos do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical

O último ciclo de debates do segundo dia do Seminário Comemorativo de 30 anos do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical foi marcado pela suavidade da música clássica, as narrativas poéticas de três escritores brasileiros e a relação da estória de Alice no país das maravilhas com a teoria da evolução.

 Guttemberg Brito

 

Manuel Paes conta detalhes da vida de Chopin e Schuman, dois compositores clássicos que sofriam de doenças infecciosas

As doenças infecciosas de Chopin e Schuman

A palestra A Música e as Doenças Infecciosas, ministrada pelo professor e médico dermatologista do Instituto de Pesquisas Clínicas Evandro Chagas (IPEC/Fiocruz), Manuel Paes Oliveira-Neto, começou sua apresentação com a lembrança do início das vitórias sobre as doenças infecciosas na década de 30 com a introdução da quimioterapia e a descoberta da penicilina nos anos 40. Manuel lembrou que em 2010, é comemorado os 200 anos de nascimento de dois importantes compositores: Frederic Chopin e William Schuman. Ambos, provavelmente, foram vítimas de doenças infecciosas, que contribuíram para acabar mais cedo com a carreira desses mestres da música clássica.

Segundo o professor, Chopin foi um caso típico de doente tuberculoso, pois sofria de constantes crises de tosse. Durante uma viagem a Majorca, na Espanha, os médicos confirmaram o diagnóstico. Sempre com a saúde frágil, o famoso compositor morreu em Paris com apenas 39 anos de idade.

Já Schuman passou a apresentar distúrbios de comportamento agressivo e períodos de depressão em 1850, aos 40 anos. Quatro anos mais tarde, atirou-se no rio Reno, em Paris. Foi internado e veio a falecer. O compositor apresentava sintomas de paralisia geral, fase terciária da sífilis, adquirida em 1831, quando tinha apenas 21 anos. Apesar de ter tido oito filhos com sua esposa, nunca a infectou visto que nesta fase a doença não é transmitida pela relação sexual.

“Descobrir ao certo a doença de certos compositores que viveram em séculos anteriores é muito difícil porque tudo é baseado em relatos, cartas trocadas por familiares e amigos. Um bom exemplo foi a descoberta, em 1991, do diário do médico que tratava de Shuman no asilo, o que confirmou de que o músico sofria de sífilis”, concluiu Manuel Paes.

Ode aos três tísicos

A palestra Ode dos três escritores contemporâneos tísicos: Augusto dos Anjos, Raul de Leoni e Manuel Bandeira, apresentada pelo professor de Língua Portuguesa e de Literatura Brasileira da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Mário Newman, contou detalhes da vida e da obra dos escritores. Todos eles sofreram de tuberculose quando a doença ainda era considerada um tabu na sociedade.

O primeiro, Augusto dos Anjos, nasceu em Engenho Pau d'Arco, atualmente município de Sapé, na Paraíba, em 1884. Conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, o escritor publicou o livro Eu, o único de sua vida, em 1912. A poesia de Augusto dos Anjos chocou a muitos, pois buscava usar o verso para expressar da forma mais crua a realidade. Ele morre em 1914 em decorrência da tuberculose, apesar de não constar na sua certidão de óbito nenhuma referência à doença. “Pesquisadores acreditam que o preconceito da época fez com que a família afirmasse que a pneumonia foi a sua causa mortis’, detalhou Newman.

 Guttemberg Brito

 

Mário Newman relata aspectos desconhecidos
de três poetas brasileiros portadores de tuberculose

O menos conhecido dos três, mas talvez o poeta mais publicado na literatura brasileira, Raul de Leoni nasceu em Petrópolis, Rio de Janeiro, em 1895. Assim como Augusto dos Anjos, publicou apenas um livro em vida: Luz Mediterrânea, em 1922. Na época era o grande nome da literatura brasileira. “Diferentemente de Augusto dos Anjos, Raul era o poeta da pureza, apesar de ser um grande leitor do seu contemporâneo. Em 1923 aparece o primeiro registro da tuberculose em sua vida, apesar de todo o seu empenho em esconder o seu estado de saúde”, relatou o especialista. Ele morreu em 1926, em Itaipava, para onde havia fixado residência na tentativa de se curar da doença.

Manuel Bandeira é o mais famoso dos três, até quando o assunto é tuberculose. Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Nascido em Recife, em 1886, Bandeira foi poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura, além de tradutor. Doente dos pulmões, sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente. A perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra. Em seu poema clássico Pneumotórax, ele brinca com a própria enfermidade, do qual era portador desde os 17 anos. Como se considerava um “tísico profissional”, Bandeira conseguiu conviver com a tuberculose até a velhice. Morreu, aos 82 anos, já curado da tuberculose, com hemorragia gástrica. “Uuma observação interessante que podemos destacar é que Manuel Bandeira, dentre os três tísicos, é aquele que resiste aceitando a doença. Em nenhum momento negou que era tuberculoso em uma época em que as pessoas morriam escondendo o seu estado de saúde”, finalizou o professor.

Alice no país dos parasitos

Encerrando o ciclo de palestras, o pesquisador do Laboratório de Avaliação em Ensino e Filosofia das Biociências do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Ricardo Waizbort, trouxe o tema Alice no país dos parasitos. Logo no início, o palestrante relatou estudo publicado na revista Nature por biólogos da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, em que indica que o biólogo americano Leigh Van Valen estava correto em sua "hipótese da Rainha Vermelha". A ideia, proposta pela primeira vez nos anos 70, recebeu esse nome por conta de um trecho do livro Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll, em que a Rainha Vermelha diz a Alice que "é preciso correr tudo o que se pode para não sair do lugar". O trecho é associado ao conceito de que as espécies estão numa constante corrida  pela sobrevivência e precisam evoluir o tempo todo.

 Guttemberg Brito

 

Ricardo Waizbort explica a hipótese da Rainha Vermelha, personagem da estória de Alice no país das maravilhas

No passado, acreditava-se que a maior parte da evolução se dava em resposta à necessidade de adaptação ao ambiente. A hipótese da Rainha Vermelha modifica isso ao indicar que a maior parte da seleção natural acontecerá, na verdade, de interações co-evolutivas entre diferentes espécies, e não de interações com o ambiente. “Não existe existência, mas sim co-existência. Vivemos em um mundo em que as coisas acontecem concomitantemente. A estrutura de um predador de que, alguma forma corresponde à estrutura de uma presa, reflete uma lógica de co-existência”, explicou o especialista.

Úrsula Neves

16/12/2010

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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