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Pesquisa básica e inovação, artigo de Eloi Garcia

Por Eloi S. Garcia*

Recentemente, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifestou, com razão, sua preocupação com o financiamento federal para o desenvolvimento da pesquisa em nosso país. Não temos que convencer ninguém, e menos os cientistas, que uma das finalidades da atividade científica é dar uma melhor condição de vida à população e contribuir para o desenvolvimento do conhecimento no planeta.

Não resta dúvida de que a atividade científica no Brasil cresceu nos últimos anos de maneira significativa, mas o nosso sistema de ciência e tecnologia ainda continua frágil, fragmentário. Com os cortes orçamentários na área, não sabemos aonde poderemos chegar e qual a fatura que teremos que pagar no futuro. A própria SBPC mostrou preocupação com o que hoje está virando moda: pesquisa inovativa, que visa, com ênfase excessiva, a transformação de dados obtidos no laboratório para aplicação quase que imediata. Esta visão pode ser prejudicial ao desenvolvimento da ciência de bancada em nosso país.

Vários resultados obtidos nos laboratórios ainda não são explicados com clareza, e é difícil a possibilidade de suas aplicações. Muitas vezes, os dados obtidos em um experimento demoram muitos anos a serem explicados com evidências científicas sólidas. Antes que se possam encontrar explicações racionais para os resultados, devem-se realizar mais pesquisa básica sobre o fenômeno biológico. Ou seja, deve-se investir sempre em pesquisa básica.

Fomentar o conhecimento básico é aprender mais sobre os fenômenos científicos. É importante assumir que o fundamental é o conhecimento, e que daí deriva a aplicação da ciência na saúde, na indústria, na economia. É também importante entender que a pesquisa básica é o condutor dos processos de inovação tecnológica. Basta recordar que o raio laser foi descoberto em 1920 e somente 40 anos depois se encontraram suas primeiras aplicações industriais e médicas; 55 anos depois foi possível utilizá-lo para a leitura do código de barras (primeira aplicação comercial); e quase 80 anos depois foi utilizado na oftalmologia. É necessário assumir que o conhecimento científico é importante para a futura utilização pela sociedade.

O Brasil está cada vez mais entrando no ranking dos países que têm produção científica relevante no mundo. Em pouco mais de oito anos, incrementamos o número de trabalhos publicados em revistas científicas de impacto para a comunidade científica internacional.  Hoje estamos chegando ao décimo segundo lugar entre os países que mais publicam artigos científicos.

Para aumentar o número de patentes – ainda muito pequeno em nosso país -- e desenvolver a inovação tecnológica, é necessário estimular a ciência básica, e que cada setor público, federal, estadual e municipal, faça seu trabalho aumentando os recursos orçamentários, estimulando a investigação fundamental, apoiando a formação de recursos humanos em todos os níveis e acreditando que sem isto não há inovação. 
 
* Eloi S Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), assessor da presidência do Inmetro, ex-presidente da Fiocruz, e membro da Academia Brasileira de Ciências.

Originalmente publicado na editoria de Opinião do Jornal do Brasil Online em 23/03/2011

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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