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Malária: aspectos de imunidade entre transmissor e parasito são esclarecidos

O ciclo da malária, uma das doenças de maior impacto no planeta, envolve o protozoário causador da doença (plasmódio), o vetor (mosquito anofelino) e o homem. Um estudo pioneiro realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) analisou as moléculas que participam da interação entre Anopheles aquasalis, principal vetor da malária nas regiões litorâneas do Brasil, e Plasmodium vivax, agente etiológico responsável pela maior parte dos casos da doença no país. Os resultados apontam mecanismos imunes adotados por A. aquasalis para combater o P. vivax, fornecendo informações importantes como o momento exato em que a resposta imune do vetor atinge seu pico, e indicam que o fim da resposta imune coincide com o avanço do ciclo evolutivo do parasito para uma nova fase.

Desafio desde o princípio

Como o genoma do A. aquasalis ainda não foi sequenciado e poucos de seus genes são conhecidos, os pesquisadores precisaram recorrer a abordagens alternativas. “Tendo em vista a escassez de dados sobre a genética do vetor, utilizamos duas estratégias. A primeira foi a construção de bibliotecas subtrativas, isto é, contendo genes obtidos através da subtração de cDNAs de duas amostras diferentes com o intuito de revelar genes diferencialmente expressos entre as duas condições analisadas. Já a segunda estratégia foi a obtenção de genes por PCR utilizando oligonucleotídeos degenerados, desenhados com base em nosso conhecimento sobre genes de imunidade já descritos em outros insetos”, explica a recém-doutora Ana Bahia, que desenvolveu o estudo durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC, orientada pelos pesquisadores Yara Traub-Csekö, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Parasitos e Vetores do IOC, e Paulo Pimenta, chefe do Laboratório de Entomologia Médica da Fiocruz-Minas.

A hora H da imunidade

No estudo, foram acompanhados e comparados dois grupos de insetos: um deles foi alimentado artificialmente com o sangue de pacientes diagnosticados com malária enquanto o grupo controle foi alimentado com sangue de indivíduos sadios. Os insetos foram observados 2, 24, 36 e 48 horas após a alimentação sanguínea (ou seja, após a infecção no caso do primeiro grupo de anofelinos).

Arquivo IOC

RNA de dupla-fita injetado em A. aquasalis através da perfuração do tórax com microcapilar

“Os experimentos de subtração de cDNAs não revelaram muitos genes de imunidade nas etapas iniciais da infecção, após 2 e 24 horas, o que indica que o P. vivax não ativa o sistema imune do A. aquasalis de forma tão eficiente como foi observado em outros insetos. No caso do A. aquasalis, a presença do parasito na hemocele (cavidade que se origina da expansão do aparelho circulatório embrionário) do inseto 36 horas após a infecção mostrou-se mais importante no desencadeamento da resposta imune do vetor do que sua presença no intestino”, destacou a pesquisadora.

Na procura de genes através da técnica de PCR com primers degenerados foram escolhidos candidatos da chamada via ‘JAK-STAT’, uma das vias que coordena o sistema imune e cuja importância, em insetos, tem sido descrita na imunidade contra vírus, bactérias e plasmódios. “Resultados de expressão gênica revelaram que os genes STAT, PIAS e NOS são ativados 24 horas e chegam a seu pico máximo de expressão 36 horas após infecção com P. vivax. Experimentos de genética reversa usando injeção de RNA de dupla fita dos genes de interesse, que desencadeia o mecanismo de interferência por RNA (RNAi),  mostraram que insetos que tiveram a expressão do gene STAT suprimida eram mais susceptíveis a infecções por P. vivax. Estes resultados comprovaram que a via de sinalização JAK-STAT é importante na resposta imune do A. aquasalis contra este parasito”, ressaltou Ana Bahia. Estes dados, associados a resultados de microscopia, mostraram que o tecido responsável pela maior parte da resposta imune do A. aquasalis contra o P. vivax é o corpo gorduroso.

Desativação em seguida ao pico

“Nossos dados indicam que a resposta imune deste inseto é ativada 24 horas após a infecção por P. vivax, atingindo seu máximo com 36 horas, enquanto que, 48 horas após a infecção, a resposta imune encontra-se completamente desativada. A desativação precoce do sistema imune do inseto coincide com a mudança de fase do parasito, que deixa de ser um oocineto e vira um oocisto. Com isso, provavelmente ele se torna irreconhecível para o sistema imune do inseto”, ressaltou Ana Bahia.

Os dados inéditos gerados pelo estudo apontam possíveis alvos para estratégias de bloqueio da transmissão da doença. “A manipulação genética destes insetos, de modo a ampliar a duração de sua resposta imune ao parasito, pode ser uma alternativa interessante no desenvolvimento de mecanismos de interrupção do ciclo da malária”, concluiu.

Cristiane Albuquerque

12/04/11

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação/Instituto Oswaldo Cruz)

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