Acervo de Herman Lent é incorporado à Biblioteca de Manguinhos
O acervo de Herman Lent, construído durante a carreira do cientista do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), acaba de ser incorporado à Biblioteca de Ciências Biomédicas (Fiocruz/Icict). Lent, que morreu em 2004, é considerado uma das maiores autoridades mundiais em vetores da doença de Chagas, tendo identificado e descrito cientificamente dezenas deles.
Especializada em parasitologia, principalmente de helmintos e triatomíneos, a Biblioteca Herman Lent conta com mais de 18 mil separatas nas áreas de Zoologia, Entomologia, Helmintologia e Protozoologia. A transferência do acervo Biblioteca de Ciências Biomédicas da Fiocruz, que historicamente é originária da Biblioteca do Instituto Oswaldo Cruz, visa preservar, disponibilizar informações e manter o acervo do cientista ao alcance do público. As obras estão em fase de identificação e inventário e, em breve, estarão disponíveis para consulta dos usuários. As separatas doadas farão parte da PROMAN, base de dados que reúne a produção científica do Instituto Oswaldo Cruz desde 1900.
Chefe do Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos e ex-aluno de Lent, o pesquisdor José Jurberg explica que a transferência foi realizada, principalmente, para preservação do acervo. “Já não havia espaço para o acervo no Laboratório, por isso, optamos por transferir as obras para a Biblioteca do Instituto Oswaldo Cruz, hoje biblioteca de Manguinhos. Nosso objetivo é preservar e manter acervo ao alcance da comunidade científica internacional, já que todo o material será digitalizado e informatizado”, explica. “A iniciativa para incorporação se fez pelo esforço e interesse de ambas as partes. Como não tínhamos mais condições de guardar o acervo, devido à falta de espaço e pessoal para manutenção, convenci, em vida, o doutor Herman Lent de que a melhor solução para preservação seria a doação”, completou.
Para Mônica Garcia, Chefe da Biblioteca de Ciências Biomédicas, a doação da biblioteca particular de uma das maiores autoridades mundiais em vetores da doença de Chagas enriqueceu nobremente o acervo, permitindo preservar e disponibilizar informações valiosas. “Ao incorporar as separatas doadas, a Biblioteca segue sua missão de universalizar a informação científica na área Biomédica. O valor científico deste acervo é incalculável, possibilitando o enriquecimento da pesquisa científica não apenas para a Comunidade Científica da Fiocruz, mas também, para todo o mundo”, finalizou.
Para informações sobre acesso ao acervo, entre em contato com proman@cict.fiocruz.br.
Herman Lent: breve perfil
Carioca, Herman Lent nasceu em 1911. Aos 23 anos formou-se pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1933 era contratado para os quadros do Instituto como estagiário de Lauro Travassos. No Instituto Oswaldo Cruz trabalhou durante 49 anos, onde exerceu os cargos de pesquisador, professor, chefe da Secção de Entomologia. Entre 1961 e 1964 chefiou a Divisão de Zoologia. No início publicou vários trabalhos em helmintologia, mas posteriormente, por influências de Arthur Neiva, voltou-se para a entomologia, especializando-se em barbeiros. Foi Lent quem implantou, em 1935, em Manguinhos, a criação de barbeiros.
Herman Lent foi professor do Colégio Pedro II, da Universidade do Distrito Federal, da Escola de Medicina e Cirurgia, de cursos de Saúde Pública do Ministério da Saúde, professor conferencista do CNPq, e da pós-graduação das universidades de Assunção, Bahia, Paraná e Rio de Janeiro, entre outros. Foi editor da "Revista Brasileira de Biologia" e das "Memórias do Instituto Oswaldo Cruz", membro do Conselho Editorial da "Revista Biotrópica" publicada nos Estados Unidos (1969-1975) e chefe da seção de história natural da grande "Enciclopédia Delta Larrousse" (1970).
Com a cassação política durante a ditadura, juntamente com outros nove pesquisadores da Fiocruz, Lent foi para a Universidade de Los Andes, em Mérida, Venezuela e foi pesquisador associado do Museu Americano de História Natural de Nova Iorque. O cientista é autor do livro "O massacre de Manguinhos", considerado um dos pricipais registros históricos do episódio. Ingressou na Universidade Santa Úrsula em 1976, onde foi decano do Centro de Ciências Biológicas. Em 1979, publicou no Bulletin of the American Museum of Natural History o que hoje é considerada a "bíblia" dos taxonomistas em triatomíneos.
Lent foi fundador das sociedades Brasileiras de Zoologia, Microbiologia e da Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); membro da Sociedade Americana de Parasitologistas, das sociedades Chilenas de História Natural e de Entomologia, da Academia de Zoologia de Agra, na Índia, Federação Latino-Americana de Parasitologia e da Association of Tropical Biology.
29/07/2011.
Cristiane Albuquerque
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