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Mangaratiba é palco de evento sobre doença de Chagas

Nem a paisagem paradisíaca de Mangaratiba (RJ) fez com que cerca de 60 pesquisadores e estudantes de pós-graduação deixassem o auditório. Tudo isso, para discutir os avanços no estudo e no combate à doença de Chagas, que matou mais de 25 mil pessoas no Brasil desde 2004.  O 8º Encontro do Programa Integrado de Doença de Chagas (PIDC) da Fiocruz foi realizado de 14 a 16 de setembro. Durante o evento, foram discutidas as realizações de 2010/2011 e as metas de 2011/2012 do PIDC, assim como o papel dos laboratórios de referência e políticas e programas educacionais.

 Foto: Gutemberg Brito

 

 “Me orgulha estar aqui e fazer parte disto. Se depender de mim o PIDC sempre será incentivado para que continue fazendo sucesso”, enfatiza Claude Pirmez.

A vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Claude Pirmez, disse que o momento é de alegria. “Fiz questão de estar aqui pela importância do PIDC e por ter a oportunidade de encontrar tanta gente querida. O Programa que existe há mais de dez anos, tem caráter multidisciplinar e reúne diversos centros de pesquisas da Fiocruz”, diz. Segundo Claude, a doença de Chagas foi o que internacionalizou a Fundação e que projetou a ciência brasileira.

“A principal meta do PIDC é vincular a pesquisa institucional de forma integrada e multidisciplinar para que sejamos capazes de unir esforços para captação de recursos e para o desenvolvimento de projetos que deem retorno à sociedade”, sublinha Constança Britto, uma das organizadoras do encontro e coordenadora-geral.

 Foto: Gutemberg Brito

 

De acordo com Constança Britto, a ideia do PIDC é agregar pesquisadores de diferentes unidades da Fiocruz e de outras instituições de ensino e pesquisa do Brasil.

Renato Vieira Alvez, representante de Jarbas Barbosa, Secretário de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, apresentou as mudanças no perfil epidemiológico da doença de Chagas e da soroprevalência da infecção em adultos e crianças. “Foram notificados casos agudos de doença de Chagas em alguns locais do Brasil. Hoje, esta notificação é obrigatória e deve ser feita imediatamente tanto para surtos como para casos isolados”, afirmou. De acordo com dados apresentados por Alvez, entre 2000 e 2010 foram registrados 1087 novos casos em todo o Brasil, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Os casos de infecção aguda aconteceram em 2009 e 2010, atingindo maior incidência em indivíduos entre 20 a 39 anos. Naqueles anos, foram registrados 391 casos. A transmissão da doença ocorre pela picada do vetor, inseto conhecido como barbeiro, e também em decorrência da ingestão de alimentos como o açaí e a cana-de-açúcar, que são triturados com o inseto infectado pela parasita Trypanosoma cruzi.

O representante destacou a importância de se ter sempre um canal de comunicação aberto entre a Fiocruz e o Ministério da Saúde. “Nós entendemos, dentro da SVS, que não só as mudanças do perfil epidemiológico e transmissão da doença de Chagas devem ser analisadas, mas tudo o que envolve este tema deve ter uma interface com a Fundação. Devemos repensar e reformular a vigilância epidemiológica da doença”, conta.

‘Nova vigilância’ 

No encontro, Renato Alvez apresentou uma proposta do que seria uma “nova vigilância epidemiológica”, que possa prevenir e reduzir os danos causados pela doença descoberta pelo cientista Carlos Chagas em 1909. Para a SVS, “o ano de 2011 está sendo um fundamental para identificar os focos residuais de Triatoma infestans e ampliar mais o conhecimento sobre vetores.” Ele afirmou que o Sistema Nacional para registro das atividades de campo sobre a doença ainda está em construção. “Há uma capacitação insuficiente em estados e municípios, pois constatamos a falta de recursos humanos e financeiros. Precisamos mudar este quadro”, diz.

Foto: Gutemberg Brito

 

Renato Vieira Alvez, representante da SVS, apresentou dados atuais sobre a doença de Chagas. Em cinco anos (2004-2008), foram 24.708 óbitos provocados pela doença.

A nova proposta de vigilância epidemiológica dos casos humanos da doença de Chagas é centrada “nas ações de prevenção de casos e na redução de danos, baseadas na identificação de situações de risco e na vigilância de casos agudos e crônicos de forma indeterminada”.

Os próximos passos desta proposta são: estabelecer mecanismos mais eficientes para o controle da transmissão oral na região Amazônica e a transmissão vetorial com vetores não domiciliados; detalhar situações ‘inusitadas’ como transmissões verticais e acidentais; e buscar medicamentos, terapêutica e ensaios clínicos mais eficazes. “Há que se definir o critério de cura, avaliar o percentual de cura e de complicações, conhecer a efetividade e o impacto do tratamento de casos crônicos, avançar em estratégias com maior participação dos agentes da Saúde da Família, ficar atento aos efeitos adversos do medicamento Benzonidazol, entre outros”, pondera. O representante afirma também a necessidade da coleta de mais informações sobre os vetores e a ecologia de ciclos de transmissão do Trypanosoma cruzi, sobre a resistência dos barbeiros a inseticidas, sua distribuição na Amazônia, além de desenvolver ferramentas mais sensíveis para detecção do vetor em ambientes silvestres.

“Um outro aspecto crucial que merece toda nossa atenção é a educação. Ela é decisiva para a obtenção do sucesso da estrutura da vigilância. Ela tem que ser a protagonista desta estratégia. O fortalecimento das ações voltadas para a realidade da comunidade, a vigilância entomológica e a participação comunitária são importantes. Temos que ter uma educação continuada entre universidades, a capacitação de técnicos e a educação no ensino fundamental”, finaliza.

PIDC

Há onze anos, o Programa Integrado de Doença de Chagas (PIDC) começou a ser articulado a partir de iniciativa de pesquisadores da Fiocruz. Em 2006, o PIDC foi oficialmente criado com apoio da vice-Presidência de Pesquisa da Fiocruz, reunindo pesquisadores de seis unidades da Fundação: o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR), Centro de Pesquisas Ageu Magalhães (CPqAM), Centro de Pesquisas Gonzalo Moniz (CPqGM), Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC) e Instituto Carlos Chagas (ICC).

O PIDC articula a cooperação entre pesquisadores em cinco redes temáticas, de modo a aumentar a eficiência da pesquisa institucional e fortalecer a capacidade de captação de recursos financeiros para o desenvolvimento de pesquisas relevantes que dêem retorno à sociedade. A iniciativa assegura a contribuição efetiva da Fiocruz para o controle da doença de Chagas no século XXI, com metas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

João Paulo Soldati

15/09/11

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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