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Plágio e fraudes na ciência no I Simpósio de Bioética

Confira a matéria sobre a abertura do evento

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Plágio, fabricação de mentiras e fraude científica. Estes foram os termos ecoados na manhã desta quinta-feira (22/09), fazendo com que a temperatura subisse no último dia do I Simpósio de Bioética e Saúde Pública do Instituto Oswaldo Cruz - Desafios do século XXI e Workshop para comitês de ética em pesquisa com seres humanos e animais. Durante a mesa redonda, temas sobre a integridade dos trabalhos científicos, plágios detectados em artigos e assuntos como conflitos de interesses em divulgações nos periódicos especializados estiverem em pauta.

 Foto: Gutemberg Brito

 

 Da esquerda para a direita, Miguel Roig (St. John’s University), Sonia Vasconcelos (UFRJ) e Claude Pirmez, da Fiocruz.

“Honestidade tem que ser uma obrigação e não um atributo”, dispara Claude Pirmez, vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz. Claude foi a moderadora do debate entre o público e os palestrantes da St. John’s University e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sonia Vasconcelos, professora do Programa de Educação, Gestão e Difusão em Biociências do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, apresentou trabalho sobre o impacto da discussão da integridade em pesquisa da comunicação de descobertas científicas. A pesquisadora questionou a integridade das divulgações cientificas em periódicos e a originalidade da comunicação em ciência – que está sendo posta em xeque devido às falsificações, fabricação de dados e plágios. 

Erro e reparação

“A prática de má conduta em pesquisa está impactando o cenário de publicações e criando novas demandas para os autores. Esses pesquisadores estão sendo questionados frequentemente sobra a originalidade de suas contribuições”, afirma Sônia. Uma reportagem especial de 2005, na revista Nature, confirma que casos de plágio estão forçando os editores de revistas científicas a adotarem medidas de controle dessa prática. “Muitas destas revistas têm questionado os autores, antes da publicação, sobre suas reais contribuições”, destaca. “O pesquisador, ao assinar um trabalho científico, tem que assumir suas responsabilidades. Atualmente, a pesquisa científica passa por um processo de forte internacionalização, onde as redes de colaboração são cada vez maiores e os pesquisadores estão cada vez mais expostos. Se a autoria é compartilhada, a questão da responsabilidade tem que ser levada em consideração”, pondera.

 Foto: Gutemberg Brito

 

 "Falar de integridade científica envolve vários contornos como, por exemplo, a cultura e o comportamento de grupos de indivíduos envolvidos", destaca Sonia Vasconcelos. 

 

Será que os autores estão reconhecendo eventuais erros em publicações? Segundo a pesquisadora, sim. “A retratação [a especialista usa o termo ‘retraction’, em inglês] em publicações vem sendo cada vez mais freqüente nos últimos anos. O principal objetivo é corrigir a literatura científica e invalidar trabalhos que contém erros, foram plagiados e/ou falsificados”, diz. Quando ocorre o cancelamento de uma publicação, a retratação é uma declaração pública, feita pelo autor, que confessa o engano e o equívoco cometido relativo a  publicação original. Sonia exemplificou citando o caso do jovem pesquisador Jan Hendrik Schön, publicado na revista Science em outubro de 2002. O físico do Bell Labs ficou marcado por simular dados de seus trabalhos, fazendo com que pelo menos 16 publicações fossem canceladas somente em 2002. O pesquisador teve que se retratar publicamente e inclusive perdeu o título de doutor.

 Informações clonadas

O professor Miguel Roig, do Departamento de Psicologia da St. John’s University, dos Estados Unidos, discutiu sobre plágio nas ciências da saúde e mostrou como a desonestidade na comunicação científica é perigosa. “De 1990 a 2010, o número de publicações científicas plagiadas pelo mundo cresceu, e vem aumentando especialmente nos últimos cinco anos”, afirma.

 Foto: Gutemberg Brito

 

De acordo com o especialista Roig, em 2005, pesquisa realizada pelo PubMed detectou que aproximadamente 300 artigos científicos usaram da má conduta na confecção dos trabalhos.

“Nos Estados Unidos, plágio é definido como apropriação de ideias de outras pessoas, de processos, de resultados ou palavras, sem o apropriado crédito. Alguns indivíduos acreditam que não é plágio pegar trechos do texto já publicado de um autor, mudando apenas as palavras e a ordem delas. É plágio sim! Pegar a citação de alguém sem creditar é roubo”, frisa Roig. O pesquisador norte-americano disse ainda que a ideia de plagiar projetos surge frequentemente durante o período universitário e que práticas de ‘self-plagiarism’ também são comuns. “O pesquisador que usa seus próprios materiais produzidos e recicla-os como se fossem originais também configura fraude”, diz.  “Existe um software (e-TBLAST) nos Estados Unidos [desenvolvido pela Virginia Bioinformatics Institute] que detecta a similaridade entre os textos e ajuda a identificar plágios”, conta o pesquisador, que mostra em slides uma série de trabalhos plagiados e detectados pelo equipamento.

Foto: Gutemberg Brito

 

Para proteger pesquisadores, em 2010, durante a II Conferência Mundial sobre Integridade da Investigação Científica, foi desenvolvida em consenso, a Declaração de Cingapura.

Antes de abrir o debate, Claude fez uma provocação ao público. “Ciência é troca de informação constante. É nesta troca que você gera um estudo, uma ideia para se obter um resultado. Isso é plágio? E se for, o quanto seria?”. Para ela, o limite desta troca é tênue: “Existe um limite muito sutil nisto. A percepção de que plágio exista e seja maior hoje, deve-se ao fato de que foram criadas ferramentas para detectar essas fraudes”, finaliza.

Encerramento

À tarde, com a moderação de Catarina Macedo Lopes (Comitê de Ética em Pesquisa do IOC) e Márcia Cassimiro, organizadora do evento, o workshop “A percepção dos CEP Fiocruz RJ sobre o Sistema CEP-CONEP após 15 anos de implantação da Resolução CNS 196/96 e o uso de animais em pesquisas: Sugestões para o manejo e a gestão dos conflitos” encerrou o evento de três dias. Coordenadores dos CEPs de diversas unidades da Fiocruz participaram do debate, mediado por Carlos Adriano Silva dos Santos, representante da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), e Carlos Debenedito, coordenador do CEP INCA.

O encontro, que durou três dias e contou com mais de 130 inscritos, reuniu pesquisadores, gestores, membro de comitês de ética de diversas instituições, integrantes de programas de pós-graduação e demais interessados no assunto para trocar experiências e estimular a formação e a prática em bioética e ética aplicada à pesquisa envolvendo seres humanos e animais. Clique aqui para conferir a abertura do encontro. Ao final do evento foram entregues certificados para aqueles com mais de 75% de participação.

João Paulo Soldati

22/09/11

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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