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Oficina sobre vírus dengue reuniu 21 países

Mais de 30 autoridades de 21 países da América Latina e da península Ibérica participaram da ‘Oficina Virored Dengue 2011’, sediado no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) entre 7 e 10 de novembro. O evento incluiu a discussão de metodologias utilizadas no diagnóstico do dengue e como foco principal a capacitação dos países em análise filogenética dos vírus dengue. Solidificar a comunicação entre os laboratórios que atuam na vigilância virológica do dengue foi um dos pontos abordados.

Para Rita Nogueira, chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC e uma das coordenadoras do evento, a oficina foi uma forma de discutir em maior profundidade a questão da dengue no nosso continente. “Todos os conhecimentos produzidos aqui terão uma aplicação imediata, pois abordamos não apenas o diagnóstico, como também a epidemiologia molecular (estudo que consiste em se conhecer a origem e o espalhamento dos vírus que causam surtos e mesmo epidemias)”, diz. Segundo Rita, a dengue ocorre na grande maioria dos países latino-americano e o Brasil tem se destacado como um pólo importante nos estudos sobre esta doença que no momento apresenta uma mudança no perfil clínico com aparecimento de formas graves em crianças.

Foto: Peter Ilicciev

 

Apresentação de um dos trabalhos na ‘Oficina Virored Dengue 2011’ realizado no Pavilhão Hélio e Peggy Pereira.

“O diagnóstico da dengue no nosso país, ao longo destes 25 anos, desde a primeira epidemia na segunda metade da década de 80, evoluiu muito e nós detemos todas as tecnologias, desde as técnicas de diagnóstico clássico ao molecular. Sendo assim, nos sentimos no compromisso de compartilhar nossos conhecimentos e experiências com outros países da região”, destaca Rita.

Colaboração é o caminho

Na mesa de abertura do evento, o reforço da perspectiva de colaboração entre países foi o tema central. Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC, reforçou que, para cooperações internacionais, é necessário garantir financiamento de pesquisas científicas com apoio de órgãos de saúde como a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde de cada país.

“Temos que trabalhar juntos e coerentes com todas as instituições científicas e com as autoridades de saúde dos países aqui presentes para avançar na vigilância epidemiológica dos vírus dengue. Queremos que a rede Virored/Cyted seja permanente”, afirmou Juan Arbiza, atual coordenador da rede. Segundo Juan, é fundamental o diálogo e a aproximação com cada representante convidado, para que eles busquem identificar uma autoridade em seus países de origem para se estabelecer um vínculo institucional mais forte. “A rede possui apoio em vigilância epidemiológica e tem finalidades científico-acadêmicas sobre questões ligadas aos vírus emergentes, e o vírus dengue é um deles”, enfatizou.

O diretor da Fiocruz-Bahia, Mitermayer Galvão Reis, corroborou Juan Arbiza. “A rede tem que ter a visão do desenvolvimento tecnológico e cientifico, além de capacitar profissionais que atuam na área”, sintetizou. Valcler Rangel Fernandes, vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, complementou a perspectiva, destacando o papel da Fiocruz neste campo.

Para Jordi Aguiló, coordenador do Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (CYTED), a cooperação entre os países é a melhor saída. “Se não houver cooperação, não resolveremos nossos problemas. Por isso, parcerias como esta são fundamentais, especialmente na área da saúde pública. A Fiocruz vem colaborando muito neste processo”, ponderou. O CYTED foi criado em 1984 por meio de um acordo assinado por 19 países da América Latina, além de Espanha e Portugal. O programa multilateral contempla diferentes perspectivas e visões para fomentar a cooperação em investigação e inovação para o desenvolvimento da região ibero-americana.

Conquistando o Velho Mundo

E quem disse que o mosquito transmissor da dengue é algo exclusivo dos trópicos? O Aedes aegypti e o Ae. albopictus vêm conquistando terras nunca antes exploradas de forma sutil. Maria João Alves, pesquisadora do Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde (CEVDI / INSA) de Portugal, disse que os casos que existem atualmente naquele país são importados, especialmente do Brasil e do Caribe. “Já registramos 15 a 20 casos de dengue 1 e 2 no país por ano, todos importados, diagnosticados no Laboratório de Virologia do Instituto, que é referência nacional”, afirmou.

Segundo a virologista, casos autóctones ainda não foram registrados, pois os vetores Ae. aegypti e Ae. albopictus ainda não chegaram à parte continental de Portugal. “Encontramos o Ae. aegypti na ilha da Madeira há seis anos, introduzido provavelmente de um país do Caribe. Hoje, é a espécie dominante”, disse. Para ela, a situação é preocupante. “A dengue tem assustado a população portuguesa, que até então não tinha tido contato com este mal, ainda mais quando foi constatada a ocorrência de casos autóctones na França [em setembro de 2010]. Não há muitos hospitais que fazem o diagnóstico rápido e raramente temos boas amostras para fazer o diagnóstico molecular, pois quando o médico solicita o diagnóstico o paciente já viajou ou demorou demais para ir à clínica”, contou. Desde 1928, a Europa continental não registrava um caso autóctone.

Outros temas

A oficina também abordou temas como a análise filogenética dos vírus dengue circulantes nos países ibero-americanos em 2010, a análise in silico do desenho dos métodos moleculares utilizados no diagnóstico dos vírus dengue, e realizou uma plenária sobre a integração dos resultados das análises filogenéticas dos 4 sorotipos de dengue e discutiu planos futuros.

Números preocupantes

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, um terço da população mundial (mais de 2,3 bilhões de habitantes), vive em áreas onde há risco de contato com o vetor da dengue. Nas próximas décadas, este número pode dobrar. Até o final do século, de acordo com um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais da metade da população mundial estará vivendo em áreas infestadas pelo Aedes aegypti, vetor da dengue, febre amarela e chikungunya.

João Paulo Soldati

11/11/2011

Permitida à reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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