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Perfil proteômico de 'Angiostrongylus costaricensis' é caracterizado

 

:: Homenagem ao pesquisador Henrique Lenzi encerra a edição 2011 do Centro de Estudos

:: Esquistossomose é tema de edição especial da revista Memórias do IOC dedicada ao pesquisador Henrique Leonel Lenzi

 

Desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), estudo descreveu o perfil proteômico de parasitas adultos de Angiostrongylus costaricensis, helminto causador de uma inflamação intestinal aguda conhecida como angiostrongilíase abdominal. Os resultados recentes representam o primeiro passo na busca de proteínas candidatas para ensaios de diagnóstico e tratamento desta infecção. Um dos últimos artigos assinados pelo pesquisador Henrique Leonel Lenzi, que faleceu em setembro deste ano, a pesquisa foi publicada no 'Journal of Proteomics'.

Até o momento, poucas análises concentraram suas atenções sobre o A. costaricensis, causador da angiostrongilíase abdominal. A doença, transmitida por moluscos terrestres, como o caramujo africano, tem difícil diagnóstico já que, por possuir uma sintomatologia pouco específica, pode ser confundida com outras helmintoses. Devido à ausência de ferramentas de diagnóstico, a angiostrongilíase abdominal é considerada uma doença sub-diagnosticada. O trabalho, realizado em parceria pelos Laboratórios de Patologia e de Toxinologia do IOC, descreveu as proteínas mais abundantes expressas por estes parasitos, identificando parcialmente suas proteínas antigênicas  – potenciais candidatas a alvos para o desenvolvimento de novas alternativas para o diagnóstico.

 Laboratório de Patologia IOC

 

 O estudo descreveu o perfil proteômico de parasitas adultos de Angiostrongylus costaricensis (foto), helminto causador de uma inflamação intestinal aguda conhecida como angiostrongilíase abdominal


Principais desafios

De acordo com Ana Gisele C. Neves Ferreira, pesquisadora do Laboratório de Toxinologia e uma das autoras do estudo, a falta de conhecimento e, consequentemente, a dificuldade de diagnóstico da doença são alguns dos desafios encontrados. “A angiostrongilíase abdominal é pouco conhecida pelos médicos. A sintomatologia inespecífica e a dificuldade de diagnóstico contribuem para que a doença seja subdiagnosticada”, destaca. Para ela, outro complicador é a falta de tratamento específico. “Os anti-helmínticos utilizados para o tratamento da angiostrongilíase abdominal acabam sendo os mesmos normalmente empregados no  tratamento de outras helmintoses”, diz. Infelizmente,  ao invés de matar o parasito a medicação tem efeito irritante sobre o A. costaricensis, fazendo com que ele migre das artérias mesentéricas, onde costuma se alojar, para outros órgãos. Isto  pode resultar em problemas mais sérios, como, por exemplo, tromboses. Assim, o próprio tratamento com anti-helmínticos, por ser ineficaz contra o A. costarisensis, pode levar ao agravamento do quadro clínico do paciente.

Estudos

Este estudo é tema da tese de doutorado da bióloga Karina Mastropasqua Rebello, que será defendida no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC em 2012. “Como as informações sobre esse parasito são escassas, o primeiro passo foi descrever o perfil de expressão proteica global dos vermes adultos, com objetivo de compreender melhor a sua fisiologia”, explicou a bióloga. “Demos ênfase às proteínas imunorreativas, ou seja, aquelas reconhecidas pelo sistema imune do animal infectado pelo parasito. Isso, obviamente, possui razões práticas, porque são essas proteínas que poderão ser eventualmente utilizadas em um kit de diagnóstico ”, explica Karina.

A doutoranda acrescenta que o estudo partiu da necropsia de roedores infectados, a fim de retirar os vermes adultos que ficam localizados no intestino desses roedores. “Separamos os vermes machos e fêmeas, que possuem a morfologia bem distinta. A partir daí, os parasitas isolados foram processados para extração de proteínas”, detalha. Posteriormente, foi realizada a dosagem de proteínas dos extratos dos dois gêneros, seguida de fracionamento das proteínas por eletroforese bidimensional, revelação por 'immunoblotting' e identificação por espectrometria de massas.   

 Karina M. Rebello e Rubem Menna Barreto, IOC

 

Os resultados recentes da pesquisa representam o primeiro passo na busca de proteínas candidatas para ensaios de diagnóstico e tratamento da angiostrongilíase abdomina 


Resultados

De acordo com Ana Gisele, o trabalho pioneiro permitiu descrever parcialmente a composição do extrato de proteínas do parasito, além de compreender quais elementos desse extrato podem ser aproveitados na construção de uma ferramenta para diagnóstico. “Com o estudo, foi possível perceber que não há uma correspondência  linear entre a abundância da proteína e sua capacidade antigênica. Em outras palavras: as proteínas mais imunorreativas  se mostraram pouco abundantes. Em contrapartida, durante os testes grande parte das proteínas mais expressas não foi reconhecida pelos anticorpos dos animais infectados pelo parasita”, revela. “Muitos trabalhos descritos na literatura utilizam extratos proteicos não purificados como antígenos, o que leva a uma frequência muito alta de reações cruzadas. Nós conseguimos refinar esta estratégia, trabalhando com proteínas de fato antigênicas presentes na mistura complexa de proteínas do A. costaricensis”, acrescenta Karina M. Rebello.

Próximos passos

As próximas etapas do estudo incluem caracterizar o perfil (imuno)proteômico em todo ciclo de desenvolvimento do Angiostrongylus costaricensis, utilizando-se metodologias proteômicas complementares mais sensíveis, baseadas em nanocromatografia líquida e espectrometria de massas de alta resolução. “O trabalho foi realizado com verme adulto, que é a fase mais abundante, em que o parasito é maior e há mais facilidade de se conseguir massa parasitária. O desafio atual é caracterizar o perfil proteômico em todo ciclo de desenvolvimento do Angiostrongylus costaricensis, com objetivo de verificar também o padrão de expressão proteica nas fases larvais, revelou Karina.

Homenagem

O pesquisador Henrique Lenzi atuou como orientador desta pesquisa, em conjunto com a pesquisadora Ana Gisele C. Neves Ferreira. “Trabalhar com o professor Lenzi me proporcionou um imenso crescimento profissional e pessoal. Ele era uma pessoa extremamente culta; então, toda vez nós parávamos para conversar, seja sobre o trabalho ou outras questões, era sempre um momento de constante aprendizagem, finaliza a bióloga Karina Rebello.

Cristiane Albuquerque

16/12/2011

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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