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Um vírus órfão que pode atuar como termômetro ambiental

Altamente disperso, a prevalência do torque teno vírus (TTV) foi avaliada pela primeira vez em fezes por pesquisadores brasileiros. Resultados apontam que a presença do TTV em vias hídricas pode indicar contaminação ambiental


Altamente prevalente em populações de todo o mundo, o torque teno vírus (TTV) foi identificado pela primeira vez em 1997. Até o momento, não há evidências do desenvolvimento de doenças diretamente associadas à presença deste vírus, assim como não existem manifestações clínicas exclusivas. Por isso, o TTV é considerado um vírus ‘órfão’. Em estudo inédito, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificaram a prevalência, a diversidade genética e a carga viral de TTV em fezes. A presença de TTV também já tinha sido verificada na água, mas nenhum estudo havia realizado um levantamento completo a respeito da presença do TTV nas fezes, o que pode ser importante para embasar que a presença deste vírus em via hídrica pode ser devido a esse tipo de contaminação. A pesquisa sugere que o vírus pode ser empregado como uma ferramenta indicativa de contaminação ambiental.

Tema da tese de dissertação de mestrado do biólogo Carlos Augusto Nascimento, defendida no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC, a investigação sugere o TTV como um indicador de presença de vírus no ambiente e de avaliação da qualidade da água. “Apesar de até hoje não ser conhecida nenhuma manifestação de sintoma associada ao TTV, é possível que esse vírus seja responsável por algum tipo de patologia ainda desconhecida. Cada vez mais, grupos de pesquisa em todo o mundo descobrem novos genogrupos de TTV", explica o biólogo.

Metodologia

Para o estudo, foram utilizadas metodologias moleculares na análise de 135 amostras de fezes diarréica de pacientes de 0 a 90 anos, que apresentavam sintomas de gastroenterite, coletadas entre novembro de 2006 e fevereiro de 2007 em cinco estados brasileiros (Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul). “Não havia estudos anteriores para fundamentar que a presença do TTV na água estaria ligado à contaminação por fezes. Por conta desta lacuna de conhecimento, consideramos importante analisar a questão, para investigar se a presença de TTV em amostras hídricas poderia ser devida à contaminação fecal”, destaca Carlos Augusto.

A pesquisa não apenas diagnosticou as amostras, detectando a presença do vírus, como também mapeou a variabilidade genética do TTV. “O objetivo do estudo foi avaliar de forma quantitativa a presença e o tipo de TTV presente em fezes. O vírus é dividido em cinco genogrupos e, a partir desses métodos, foi possível saber o genogrupo mais prevalente nas amostras”, detalha. Apesar de ser um vírus de DNA, o TTV apresenta uma grande variabilidade genética e alguns estudos associam essa variabilidade genética com o potencial patogênico do TTV – por isso o interesse em identificar quais os tipos de TTV circulantes.

Resultados

Os resultados revelam que 121 amostras (91,1%) foram positivas em pelo menos um método de análise. Em 37 (27,4%), 27 (20,0%), 57 (42,2%), 29 (21,5%) e 33 (24,4%) amostras fecais, verificou-se a presença dos genogrupos TTV 1 a TTV 5, respectivamente. “Detectamos que o TTV é altamente prevalente nas fezes. Então, é possível afirmar que, se o TTV está presente na água, muito provavelmente é oriundo de uma contaminação fecal nesse ambiente aquático”, destaca o biólogo.

A pesquisa mostrou ainda que 52 amostras (38,5%) continham mais de um genogrupo de TTV, indicando a coinfecção dos pacientes. De acordo com Carlos Augusto, o estudo indica o potencial de usa TTV como um marcador de contaminação de seres humanos na virologia ambiental. “A questão do TTV nas fezes ainda tem muito estudo pela frente, considero interessante, por exemplo, associar diversos fluidos corporais de um mesmo paciente e identificar quais são os tipos de TTV detectados em cada um desses fluidos, assim seria possível identificar se existe algum tipo de tropismo, ou seja, um favorecimento ou facilidade de infecção de determinado tipo do TTV por determinado tipo celular”, finaliza o pesquisador.

 

Cristiane Albuquerque
30/05/2012
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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