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ONU lança o Panorama Ambiental Global

Pesquisadora do IOC colaborou em dois capítulos do relatório Geo5, que norteará as discussões da convenção Rio +20

Vinte anos depois de reunir chefes de estado e cientistas preocupados em traçar metas para a preservação do meio ambiente, o Rio de Janeiro se prepara para retomar os debates na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20. Agora, chegou o momento de os governos fazerem um mea culpa pelos compromissos firmados e não cumpridos, mostrarem metas alcançadas e as novas ideias que nortearão o futuro do planeta. Para embasar as reuniões, a ONU produziu, por meio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a quinta edição do Panorama Ambiental Global (Geo5). O relatório, de 500 páginas, é dividido em três partes temáticas e traz os casos de sucesso e de retrocesso e, principalmente, dados sobre o preocupante cenário em que a humanidade se encontra. A pesquisadora Martha Barata, especialista em clima do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), participou como colaboradora do relatório, que foi lançado de forma simultânea no Palácio Itamaraty, no Centro do Rio, e em outros nove países na última quarta-feira (06/06). Clique aqui e acesse o site do Relatório.

Participaram da mesa de abertura representantes do governo federal e das Nações Unidas, como o sub-secretário-geral da ONU, Achim Steiner; a coordenadora executiva da Rio +20, Henrietta Thompson; a chefe do setor de Avaliação Científica do PNUMA, Fatoumata Keita-Ouane; o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre; além do secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Klink. Na mesa redonda, as autoridades frisaram sua preocupação com o atual panorama global: a uma velocidade impressionante, o planeta perde biodiversidade, as geleiras do Ártico derretem e a produção de lixo cresce. “O cenário é aterrorizante”, disse Steiner.

Gutemberg Brito

Representantes da ONU e do governo federal apresentaram o Geo5 à imprensa

O capítulo sobre atmosfera, presente na primeira parte do relatório – Estado e Tendências do Meio Ambiente – contou com a colaboração de Martha Barata.  De acordo com ela, o problema do buraco na camada de ozônio já foi solucionado devido ao avanço tecnológico que permitiu que as substâncias e os processos nocivos fossem substituídos. “Por outro lado, o material particulado [grupo de poluentes produzido a partir da queima de materiais e combustíveis] continua sendo um grande problema nas cidades da Ásia e da América Latina enquanto que, na Europa, foi resolvido”, explica. A chuva ácida é uma das consequências do acumulo destes poluentes na atmosfera.

A pesquisadora participou, ainda, da segunda parte do relatório – Opções Políticas –, que ressalta os problemas específicos de cada região do planeta e as ações bem sucedidas. No capítulo sobre a América Latina e o Caribe, o programa 'Bolsa Floresta' é retratado como um exemplo de boa prática, responsável por diminuir a taxa de desmatamento na Amazônia de 25 mil km² ao ano para 5 mil km². Outro exemplo foi o sistema de trânsito rápido para ônibus, implementado em Curitiba e adotado na capital colombiana de Bogotá, cuja eficiência permite uma redução na emissão de gases poluentes.

O secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Klink, elogiou o formato do relatório: “Por incluir cientistas brasileiros no seu desenvolvimento e falar sobre as especificidades de cada região do planeta, chama seus governantes à responsabilidade. Além disso, mostra os bons exemplos praticados pelo mundo, o que serve para inspirá-los”, disse.

De acordo com a chefe do setor de Avaliação Científica do PNUMA, Fatoumata Keita-Ouane, cerca de 500 medidas foram propostas nas últimas décadas para a mitigação de problemas ambientais – no entanto, foram poucas as áreas que obtiveram avanço. Fatoumata citou Albert Einstein para assinalar o maior problema enfrentado durante o desenvolvimento do relatório. “Como diria o físico, o que não pode ser medido, não pode ser gerenciado. Pior do que constatar que 24 das 90 metas acordadas internacionalmente não obtiveram qualquer avanço, é constatar que não há dados para avaliar outras 14", disse. De acordo com a cientista, a limitação do monitoramento e da geração de dados oficiais sobre as políticas ambientais é fruto da falta de vontade política, que acomete países de todas as partes do mundo. "O compromisso dos governantes se mostrou determinante para o sucesso ou fracasso das políticas ambientais", acrescentou.

Gutemberg Brito

De acordo com Fatoumata Keita-Ouane, poucos foram os avanços na mitigação dos problemas ambientais 

Um ponto crítico apontado no Geo5 é a redução do estoque de peixes que, aliada à progressiva destruição dos recifes de coral, coloca em risco a economia, o abastecimento das populações e o equilíbrio da vida marinha. Além disso, a contaminação provocada pelo descarte de lixo eletrônico e químico, responsável por quase seis milhões de mortes por ano, vem se acentuando em países emergentes como a China. “Sem uma mudança urgente no curso da humanidade, vários limites poderão ser ultrapassados, desencadeando mudanças abruptas e irreversíveis. Mande um economista calcular o prejuízo gerado pela contaminação de lençóis freáticos ou extinção de florestas inteiras”, ressaltou o sub-secretário-geral da ONU, Achim Steiner.

Gutemberg Brito

 

O sub-secretário-geral da ONU, Achim Steiner, atentou para a responsabilidade dos formadores de opinião

 

Expectativas sobre a Rio +20

A coordenadora executiva da Rio +20, Henrietta Thompson, repetiu o famoso discurso de Martin Luther King para falar sobre a importância do evento para o futuro da humanidade. “King disse que tinha um sonho. Ele não mencionou que estava vivendo um pesadelo. O Geo5 nos mostra um cenário muito preocupante, mas fornece informações valiosas que podem subsidiar as decisões certas que irão mudar nossa história”, disse.

Gutemberg Brito

A coordenadora da Rio +20, Henrietta Thompson, ressaltou a importância do evento

Steiner reforçou que fatos sobre o meio ambiente não dizem respeito apenas aos ambientalistas, mas a todo o mundo. Por isso, ao saber de um jornalista que cerca de 40 mil ativistas vêm ao Rio para a convenção, o sub-secretário disse que o relatório foi feito em linguagem simples justamente para ser utilizado de diversas formas pela sociedade. “Empunhem o Geo5 e questionem seus governantes por que seu país não avançou em determinado aspecto. Criem novas formas de negócio inspiradas na economia verde e na sustentabilidade. O Geo5 é, acima de tudo, uma mensagem de esperança”, disse. Steiner destacou, ainda, que os governos precisam abandonar o conceito de 'desenvolver primeiro e limpar depois'. “Vivemos na era da irresponsabilidade. Mas vivemos na era da informação também. Não estamos condenados a seguir pelo caminho errado, mas, se não mudarmos, estaremos condenando as gerações futuras a não poderem mudar seu destino”.

Gutemberg Brito

Carlos Nobre: "O futuro que nós queremos não vai esperar por nós"

O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, fez uma breve apresentação sobre as possíveis consequências do aumento da temperatura global sobre a economia brasileira e corroborou as declarações de Steiner. "O tempo está contra nós. Vinte anos depois da Eco-92 e ainda vivemos na inércia. Só que o futuro que nós queremos não vai esperar por nós. Precisamos começar a construí-lo ontem”, declarou.

 

Isadora Marinho
08/06/2012
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