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Mudanças climáticas nas grandes cidades foi tema de encontro na Rio+20

:: Participação do IOC na Rio +20 ::

Encontro organizado por pesquisadora do IOC debateu a vulnerabilidade dos centros urbanos e pediu maior pro-atividade das prefeituras

Em uma convenção como a Rio+20, chegar ao consenso sobre mudanças pode ser uma tarefa difícil - mas as autoridades brasileiras e os pesquisadores que se reuniram na Cúpula dos Prefeitos nesta segunda-feira (18/06) mostraram que uma pequena troca de abordagem é o suficiente para transformar o problema em solução. “A máxima dos anos 70 ainda persiste: pense de forma global, aja de forma local”, disse o economista Sergio Besserman sobre o papel de protagonismo que as cidades devem exercer frente as transformações sociais e ambientais. O encontro 'Cidades na linha de frente das alterações climáticas: questões chave para o Segundo Relatório de Avaliação da Rede sobre Clima Urbano', organizado pela pesquisadora em clima do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Martha Barata, girou em torno dos problemas que as megalópoles já enfrentam em virtude das mudanças climáticas e abordou exemplos de políticas de adaptação e mitigação em curso. Hoje, já são 3,5 bilhões de pessoas vivendo em grandes cidades e, no Brasil, 86% da população vivem em centros urbanos.

Gutemberg Brito

Especialistas da NASA, ONU, IOC, Global Carbon Project e autoridades se reuniram para debater as consequências das mudanças climáticas nas cidades 

A discussão foi baseada em estudos desenvolvidos por pesquisadores de 50 cidades ao redor do mundo, cujos resultados foram compilados no relatório 'Mudanças Climáticas e as Cidades', desenvolvido pelo Urban Climate Change Research Network (UCCRN). Além de Besserman e Martha, palestraram sobre o assunto o diretor executivo do Global Carbon Project, Shobhakar Dhakal; a diretora do escritório das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres (UNISDR), Helena Valdes; o vereador de São Paulo Gilberto Natalini; a chefe do Grupo de Impactos Climáticos da Agência Espacial dos Estados Unidos (NASA) e pesquisadora responsável pela organização do relatório, Cynthia Rosenzweig.

Martha Barata participou do relatório como coordenora do capítulo sobre Saúde e Meio Ambiente. No evento, ela ressaltou que as enchentes decorrentes das mudanças climáticas são os fenômenos que mais vêm afetando as megalópoles de países em desenvolvimento. Além dos transtornos nas esferas habitacional e social, precisam ser considerados, também, os desdobramentos no campo da saúde pública. “Eventos como este  favorecem a disseminação de doenças transmitidas pela água e por alimentos, além daquelas decorrentes da expansão de vetores. No Estado do Rio, a ocorrência da dengue, leptospirose, leishmaniose e diarreia infantil são consequências diretas deste processo”, destacou. Em sua fala, a  diretora do escritório das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres complementou com dados recentes: na última década, dois bilhões de pessoas foram afetadas por tempestades, secas e inundações – sendo esta última a que mais faz vítimas.

Gutemberg Brito

Martha Barata falou sobre os desdobramentos das mudanças climáticas sobre a saúde pública

Frente a esta realidade, os governantes locais devem ser pró-ativos e assumirem suas responsabilidades no controle e na prevenção de tragédias. Afinal, implementar mudanças nas cidades é uma tarefa bem mais simples do que implementá-las no mundo inteiro. A orientação é do diretor do Global Carbon Project, Shobhakar Dhakal. “As prefeituras estão mais familiarizadas com a realidade das populações locais e não podem esperar medidas globais para agir”, disse. Dentre essas responsabilidades, estão o encorajamento na mudança do estilo de vida da população e o oferecimento de serviços e produtos baseados em baixa emissão de dióxido de carbono. “Os centros urbanos são os responsáveis pela emissão de 86% do total de CO2 encontrado na atmosfera – principalmente devido à queima de combustível de veículos. Consumo de bens importados também contribui para este quadro”, explicou Dhakal.

Para tomar a frente nas decisões e proteger as cidades dos efeitos das mudanças climáticas, Helena, que também coordena a campanha da UNISDR “Making cities resilient” (Tornando as cidades resilientes, em tradução livre), amplamente difundida na cidade de São Francisco (EUA), fez algumas sugestões aos tomadores de decisão: reservar um orçamento para adaptações dos centros urbanos aos fenômenos climáticos mais comuns, assim como um orçamento para administração de desastres; contar com avaliações de risco desenvolvidas por cientistas de forma a saber com precisão quais locais e populações são mais vulneráveis; substituir a infraestrutura da cidade gradativamente e contar com escolas e hospitais seguros. “Reduzir os riscos causados por desastres é investimento, e não gasto”, assinalou.

Assim como o relatório 'Mudanças Climáticas e Cidades', o encontro serviu, também, para apresentar exemplos de boas práticas. O vereador de São Paulo Gilberto Natalini falou que de 2005 até agora a área verde em parques municipais foi ampliada de 13 mil km² para 42 mil km². “O objetivo é chegar a 50 mil km² até dezembro”, reforçou. Além disso, a atual gestão já plantou 1,8 milhão de mudas de árvores e tratou 30 dos 480 córregos existentes na cidade. “Isso exige realocação da população, implementação de estrutura de saneamento e diversas outras intervenções. Estamos indo devagar, mas muito comprometidos”, reforçou.

Cynthia Rosenzweig, a pesquisadora responsável pela organização do relatório, coletou sugestões dos convidados para a elaboração da próxima edição do documento. Dentre as questões levantadas pelos presentes, está a inclusão de um capítulo sobre saneamento básico e a importância da inclusão dos urbanistas nas primeiras etapas de desenvolvimento de projetos para revitalizar e adaptar espaços públicos. A Urban Climate Change Research Network (UCCRN), rede criada pelo The Earth Institute, vinculado à Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, integra, de forma independente, mais de 100 pesquisadores de distintas partes do mundo. O relatório é semelhante, em conteúdo, ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), mas leva metade do tempo para ficar pronto - cerca de três anos. "As cidades vêm mudando rapidamente e, por isso, precisamos de dados consolidados de forma imediata para abastecer os tomadores de decisão", disse Cynthia.  

Isadora Marinho
19/06/2012
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