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Combinação de antirretrovirais contra a Aids é mais eficaz

IOC colaborou no estudo sobre transmissão vertical do HIV, desenvolvido pelo Ipec e pela Universidade da Califórnia

Concluída a primeira fase, o estudo conduzido pelo Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) em parceira com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e a Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, já tem resultados que podem ajudar a reduzir pela metade o índice de bebês infectados pelo HIV no mundo. Os testes clínicos realizados com humanos comprovaram que a combinação de dois ou três antirretrovirais (nevirapina, nelfinavir e lamivudina) nas primeiras 48h de vida é duas vezes mais eficaz do que o uso de zidovudina (AZT) no corte da transmissão vertical. Atualmente, o uso do AZT é considerado o método mais eficaz de prevenção pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O artigo foi publicado na revista científica norte-americana The New England Journal of Medicine.

Gutemberg Brito

Combinação de antirretrovirais pode reduzir pela metade índice de infecções em recém-nascidos

A pesquisa teve início em 2004 e contou com a participação de 1.684 bebês nascidos de mães soropositivas que descobriram a doença pouco antes do parto e, por isso, não foram tratadas durante a gestação. Cerca de 70% das crianças eram brasileiras e coube ao Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC realizar todos os testes moleculares envolvendo diagnóstico e contagem da carga viral. O restante dos participantes era oriundo de países onde o AZT também é utilizado como principal método de prevenção: África do Sul, Argentina e EUA.

De acordo com a chefe do laboratório, Mariza Morgado, atual vice-diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Instituto, a segunda fase dos estudos vai enfocar na análise da genotipagem dos bebês e das gestantes. Ela ressalta o aprendizado que a pesquisa propiciou. “Esses estudos internacionais são extremamente rígidos e nossa participação nos proporcionou uma importante capacitação e um diferencial para a Instituição, o que permitirá integrar outros estudos internacionais do mesmo porte no futuro”, disse.

Segundo o Boletim Epidemiológico da Aids de 2011, nos últimos dez anos houve uma queda de 40% nos casos notificados de transmissão vertical. No entanto, a incidência vem aumentando nas regiões Norte e Nordeste, e o número de bebês infectados por ano gira em torno de 500.


IOC na linha de frente contra o HIV

Do isolamento do vírus ao desenvolvimento de jogos educativos, há 25 anos o Instituto Oswaldo Cruz se dedica à produção de conhecimento na área.

Em 1987, o imunologista Bernardo Galvão e sua equipe de pesquisadores do IOC realizavam o primeiro isolamento do HIV-1 na América Latina, integrando um conjunto de estudos pioneiros na área – tanto dentro como fora de Manguinhos. Desde então, já foram registrados 600 mil casos da doença somente no Brasil, a uma taxa de 34 mil novos casos ao ano. Hoje, pesquisadores de diversos laboratórios do IOC estão comprometidos com a produção de conhecimento na área. Resistência aos antirretrovirais, desenvolvimento de kits de diagnóstico, pesquisas clínicas sobre insumos, estudos experimentais sobre tipos e subtipos do vírus e coinfecção são algumas das abordagens realizadas.

Monika Barth/IOC

Vanguarda: primeira imagem brasileira do HIV foi obtida em 1987 pela pesquisadora Monika Barth, do Instituto Oswaldo Cruz

Uma das recentes conquistas na área foi o credenciamento do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que passou a ser Centro de Referência Nacional no Monitoramento da Resistência do HIV – título que rendeu ao Brasil uma vaga na rede Global HIV Drug Resistance Network (HIVResnet). 

Síndrome
No Laboratório de Aids e Imunologia Molecular, Mariza destaca a pesquisa sobre Síndrome Inflamatória de Reconstituição Imune (Iris), que se manifesta em pacientes coinfectados com HIV e tuberculose ou outras comorbidades. A Iris é uma resposta inflamatória aguda do sistema imunológico, observada em pacientes que já estão respondendo positivamente à terapia antirretroviral. Paradoxalmente, a Iris agrava os sintomas das infecções, levando a uma piora do quadro geral. No Brasil, é observada uma ocorrência em torno de 10% dos casos de coinfecção HIV-tuberculose. No Camboja, já são 30%. “Buscamos identificar os fenômenos imunológicos e os biomarcadores associados a este processo, além do impacto na evolução do quadro do paciente”, explica Mariza. A pesquisa é apoiada pelo acordo Pasteur/Fiocruz e pela Agência Francesa de Pesquisas sobre Aids (ANRS) e é realizada em parceria com o Instituto Pasteur – o primeiro, no mundo, a isolar e caracterizar o HIV-1.

Origens
No mesmo laboratório, o pesquisador Gonzalo Bello desenvolve estudos sobre evolução e dispersão geográfica do vírus. Em pesquisas recentes, ele verificou que o subtipo C, mais prevalente na região Sul do Brasil e no resto do mundo, corresponde à mesma variante que circula apenas em países do leste da África. Ou seja, uma localidade com a qual o Brasil nunca teve relações políticas ou sociais, por conta da ausência de ex-colônias portuguesas na região. “Antes especulava-se que o vírus teria vindo da Angola ou de Moçambique. Agora, temos um enigma em mãos: saber como uma variante exclusiva daquela região chegou até o Brasil”, disse. Já se sabe que o vírus foi introduzido no país entre 1970 e 1980 pelo Paraná e, logo depois, se disseminou para Santa Catarina e para o Rio Grande do Sul, onde é responsável por 30% a 70% dos casos. Hoje, de acordo com Bello, o subtipo C está se espalhando para São Paulo, Rio de Janeiro e região Centro-Oeste.

Imunidade
O pesquisador Dumith Chequer Bou Habib, que integrou a equipe responsável pelo isolamento do vírus em 1987, lidera, hoje, no Laboratório de Pesquisa em Timo, estudos básicos e experimentais, voltados para a influência de células e moléculas da imunidade inata e adquirida sobre a replicação do HIV. De acordo com Bou Habib, algumas substâncias produzidas naturalmente pelo nosso sistema imunológico podem aumentar a replicação do vírus, enquanto outras produzem o efeito oposto, inibindo-a. “No momento, estamos analisando o efeito que receptores do tipo Toll, além de neurotrofinas, neuropeptídeos e interleucinas, têm sobre o processo de replicação do HIV-1 em macrófagos e em linfócitos T, que são as células permissivas à infecção pelo vírus”, explicou.

Coinfecção
No Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas, a coinfecção é o foco das investigações. A pesquisadora Alda Maria da Cruz destaca a recém concluída tese de doutorado da aluna Joana Reis Santos Oliveira, “Imunopatogenia da coinfecção leishmania-HIV”, orientada no programa de pós-graduação de Medicina Tropical. Foi constatado que tanto os portadores de leishmaniose visceral quanto os soropositivos sofrem uma diminuição da barreira imunológica do intestino, o que permite a passagem de toxinas produzidas pelas bactérias da flora para a circulação sanguínea. “Esses produtos microbianos estimulam uma inflamação sistêmica e agravam a evolução da doença – em casos de coinfecção, as consequências são ainda mais severas”, explica Alda. Na pesquisa, foram analisadas as implicações do processo na resposta imunológica do paciente às terapias retrovirais. Tanto o Laboratório de Aids e Imunologia Molecular como o Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR/Fiocruz), em Minas Gerais, atuam como parceiros nesta pesquisa.

Jogos educativos
Desenvolvidos pelo Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde, o 'Zig-Zaids' e o 'Jogo da Onda' fornecem informações de forma lúdica e divertida, estimulando o debate sobre a transmissão e a prevenção do HIV/AIDS, bem como questões sociais e psicológicas relacionadas ao tema. Ressaltam, ainda, a importância da responsabilidade individual e coletiva, a relação da doença com as drogas e reforçam o respeito e a solidariedade que devem ser praticados com soropositivos. O 'Zig Zaids' é interativo e está disponível para download. Já o 'Jogo da Onda' tem o formato de cartas e tabuleiro. Saiba mais sobre ambos.

 

Isadora Marinho
17/08/2012
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