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Emmanuel Dias

Emmanuel Dias, pesquisador carioca nascido em 1908, foi o terceiro dos seis filhos de Maria Cândida Fonseca Dias e Ezequiel Dias, eminente cientista que trabalhou em parceria com Carlos Chagas e Oswaldo Cruz desde a fundação do Instituto Soroterápico Federal, mais tarde intitulado Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Encarregado de estabelecer uma filial do IOC em Belo Horizonte, Ezequiel leva a família para Minas Gerais, onde Emmanuel cresce em meio a serões semanais promovidos pelo pai. Nestas reuniões, os médicos e naturalistas mais ilustres da capital mineira liam e discutiam artigos científicos nacionais e estrangeiros, incutindo no jovem o desejo de se tornar cientista.

 

Em 1922, aos 14 anos, Emmanuel perde o pai, evento que reforça a decisão de dar prosseguimento aos estudos sobre a doença de Chagas, tripanossomíase identificada por seu padrinho de batismo, Carlos Chagas, em 1908, e estudada por Ezequiel nos seus últimos anos de vida. A família retorna, então, para o Rio de Janeiro, onde vive a família de Maria Cândida. Após se formar na Escola Militar, Emmanuel ingressa na Faculdade Nacional de Medicina aos 19 anos - a mesma que havia formado seu pai, Chagas, Cruz e Miguel Couto, presidente da Academia Nacional de Medicina à época. Estuda ao lado do primo Walter Oswaldo Cruz, e de Evandro Chagas e Carlos Chagas Filho, este último um dos maiores parceiros de trabalho que Dias viria a ter. No segundo ano, passa a integrar a equipe de Carlos Chagas no IOC como estagiário voluntário. A pedido do padrinho, se concentra nos estudos básicos sobre o parasito e o exodiagnóstico.

Das investigações no IOC nasce a tese Estudos sobre o Schizotrypanum cruzi, defendida em 1933 para obtenção do grau de doutor junto à universidade. Publicada em 1934 no periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz , a tese é, até hoje, uma das referências científicas mais citadas no campo da doença de Chagas. Além de uma minuciosa revisão morfológica do parasito, que mais tarde receberia a nomenclatura definitiva de Trypanosoma cruzi, Emmanuel descreve os ciclos biológicos do flagelado no vetor Triatoma infestans e em hospedeiros vertebrados, além de comprovar que a transmissão ocorria por via posterior, ou seja, através das fezes infectadas do triatomíneo. O achado contrariou as ideias iniciais de Chagas, que defendia a transmissão pela picada do inseto.

Acervo COC

Afilhado de Carlos Chagas e sobrinho de Oswaldo Cruz, Emmanuel Dias (5º, à esquerda) se inspirou no pai Ezequiel para construir uma brilhante carreira como pesquisador em doença de Chagas

Emmanuel é, então, selecionado para realizar o Curso de Aplicação do IOC, iniciativa semelhante aos cursos de pós-graduação de hoje em dia. Em seguida, presta concurso e é aprovado, se consagrando como biologista de Manguinhos – o único cargo empregatício que teve durante sua vida. Ainda em 1933, casa-se com Nícia de Magalhães Pinto, de tradicional família mineira, graduada em Filosofia da História, e tem cinco filhos: Emmanuel, Eduardo, João Carlos, Ezequiel e Aloísio.

Em 1935, viaja na companhia de Evandro Chagas para a IX Reunião da MEPRA, em Mendoza, Argentina. A edição havia sido dedicada à memória de Carlos Chagas, falecido no ano anterior. Lá, os pesquisadores conhecem Cecílio Romaña, que apresenta seus achados sobre um sinal ocular que seria a porta de entrada da infecção. A descoberta do argentino possibilitaria a detecção da doença de Chagas em seu estágio inicial. Entusiasmados, Emmanuel e Evandro propõem o nome de 'sinal de Romaña' ao sintoma e convidam o cientista para trabalhar no IOC ao lado de Emmanuel.

Acervo COC

Coração de um paciente estudado por Emmanuel

Nos anos seguintes, Dias defende a descoberta de Romaña, revê o ciclo do parasito, aperfeiçoa o xenodiagnóstico e a criação de triatomíneos em laboratório, estuda o parasita Trypanosoma rangeli e o vetor Triatoma maculata, alerta os médicos do interior do Brasil para a moléstia e para a transmissão por transfusão de sangue, estuda as diferentes interações de cepas do parasito com espécies diversas de vetores, descreve novos reservatórios vertebrados, faz ampla revisão sobre a biometria do T. cruzi, descreve focos urbanos da doença no Rio de Janeiro, estuda a transmissão digestiva em mamíferos e a não-suscetibilidade do pombo ao flagelado. Ele dá início, ainda, a um ambicioso projeto de mapear a doença no continente, indicando os principais parâmetros epidemiológicos.

Em 1943, é convidado pelo diretor do IOC, Henrique de Beaurepaire Aragão, a liderar o Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas (CEPMC). A unidade, vinculada à Divisão de Estudos de Endemias do IOC, seria implantada na cidade mineira de Bambuí em virtude da descoberta de um foco da doença. Seguindo os passos do pai, Emmanuel leva a família a Belo Horizonte e percorre o trajeto até Bambuí diariamente para trabalhar. Uma nova e brilhante etapa de sua carreira tem início, com o desenvolvimento de estudos na área clínica, de epidemiologia e de controle de vetor. Mapeia, no município, a distribuição do triatomíneo e das habitações vulneráveis à infestação, bem como os casos agudos e crônicos. Ao lado de Francisco Laranja, José Pellegrino e outros brilhantes cientistas, realiza profundo estudo sobre a cardiopatia chagásica crônica, que viria a ser o marco histórico do reconhecimento e da divulgação da patologia. Dá auxílio e faz alianças com pesquisadores em toda a América Latina, representando o Brasil e a luta contra a doença de Chagas em congressos e encontros com autoridades brasileiras e internacionais.

Acervo COC

A frente do Centro de Bambuí (MG), hoje chamado Posto Avançado de Pesquisas Emmanuel Dias, o pesquisador (à direita) deu início às ações que possibilitariam ao Brasil conquistar o certificado de interrupção da transmissão pelo T. infestans em 2006

O combate aos triatomíneos se torna uma de suas grandes bandeiras, levando-o a buscar a ajuda de químicos, físicos, arquitetos, educadores, militares e políticos no desenvolvimento de ferramentas multilaterais contra os insetos. Em 1947, com o auxílio de Pellegrino, descreve a ação eficaz do composto ‘gammexane’ e promove, em Bambuí, uma bem-sucedida campanha de desinsetização continuada. Em dez anos, o principal vetor da região, T. infestans, praticamente desapareceria. A medida seria reproduzida pelo poder público em diversas regiões do Brasil, garantindo ao país, em 2006, o certificado de interrupção da transmissão da doença de Chagas pelo principal vetor.

Pai amoroso e atento à formação dos cinco filhos, Emmanuel adorava o pai Ezequiel por sua postura correta, seu alto valor científico e sua valentia. Espelhava-se em Chagas e Eurico Villela, pais adotivos e peças essenciais em sua formação. De Oswaldo, guardava o mote 'Não esmorecer para não desmerecer'. Morreu aos 54 anos, no auge da carreira, em um desastre de automóvel no dia 22 de outubro de 1962. Como legado, deixou 154 artigos publicados, a continuidade exemplar do trabalho de seus mestres e do Instituto Oswaldo Cruz e o novo nome para o CEPMC: Posto Avançado de Pesquisas Emmanuel Dias, em funcionamento até os dias de hoje.


Com informações da 'Súmula biográfica de Emmanuel Dias', feita por João Carlos Pinto Dias para a Organização Pan-Americana de Saúde (PAHO).

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