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Vacinas: êxitos e desafios

A trajetória de pesquisadores que se dedicam ao desenvolvimento de imunizantes foi tema de mesa-redonda realizada no segundo dia do II Simpósio de Pesquisa do IOC

 

:: Cobertura especial do II Simpósio de Pesquisa e Inovação do IOC

 

Experiências bem-sucedidas e desafios enfrentados por pesquisadores brasileiros no desenvolvimento de imunizantes: este foi o tema abordado na mesa-redonda ‘Determinantes dos sucessos e falhas em vacinas em doenças infecciosas’, realizada nesta terça-feira, 19 de março, durante o II Simpósio de Pesquisa e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Coordenada pela pesquisadora e chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC, Joseli Lannes, o debate abordou a segurança dos imunizantes, o histórico da vacina Leish-Tec contra leishmaniose visceral canina e da Sm14, contra a esquistossomose, e o potencial das vacinas de vírus recombinantes.

O pontapé inicial ficou por conta do pesquisador Nelson Vaz, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), responsável por lançar algumas reflexões sobre a vacinologia moderna. De acordo com o especialista, os cientistas ainda não conhecem o corpo e seus mecanismos mediados pelo sistema imunológico de forma satisfatória. “Precisamos entender como nosso corpo reage ao que a gente come, ao meio ambiente. Afinal, vivemos imersos num mundo de bactérias e essas defesas não podem ser destacadas dos mecanismos gerais de sobrevivência”, disse. Ele ressaltou que, das 300 mil linhagens de bactérias identificadas até hoje, apenas 70 estão envolvidas em processos patológicos. “Pessoas que morrem de infecções nos hospitais, em geral, são vítimas de bactérias que elas mesmas carregaram no corpo a vida inteira. Ou seja, o problema não está no antígeno. Está no corpo, e nós precisamos voltar as atenções para ele”, destacou.

 Gutemberg Brito

 

O pesquisador Nelson Vaz, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi o responsável por lançar algumas reflexões sobre a vacinologia moderna

Maurício Rodrigues, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), abordou o potencial de vacinas de vírus recombinantes para estimular a imunidade mediada pelos linfócitos T CD8. Rodrigues analisou que, das 25 vacinas existentes, a grande maioria funciona pela indução da produção de anticorpos. “Foram as primeiras descobertas na imunologia e, por isso, é o principal mecanismo das vacinas. Só que patógenos crônicos resistem a anticorpos”, explicou. O pesquisador contou que, há 20 anos, enviou um artigo para a revista Nature onde comprovava a eficácia de um imunizante, composto por dois tipos de adenovírus, que induzia a produção de células T CD8 que agiam contra o parasita Plasmodium vivax, causador da malária. “Foi considerada uma técnica muito complexa e, por isso, tivemos o estudo rejeitado. No entanto, outro grupo publicou um estudo praticamente igual recentemente. Demorou, mas eles viram que não havia nada mais simples do que o complicado, afinal, o complicado funciona”, revelou.

Já o pesquisador da Fiocruz-Minas, Ricardo Gazzineli, falou sobre o desenvolvimento da vacina Leish-Tec, contra a leishmaniose visceral canina, disponível no mercado desde 2008. Gazzineli ressaltou que o ciclo de tentativa e erro é indispensável na busca por novas vacinas. O especialista, que também faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas (INCTV), afirmou que os pesquisadores devem se comprometer com a qualidade para alcançar a inovação. “Publicar artigos em quantidade não é mais problema no Brasil. O mesmo já não se pode dizer da qualidade desses trabalhos. Só que as novas ideias, que resultam em patentes, são aquelas que nascem de estudos de qualidade, inspirados pela pesquisa básica”, opinou.

 Gutemberg Brito

Miriam Tendler, pesquisadora do IOC e líder no projeto da primeira vacina do mundo contra a esquistossomose, destacou que o desenvolvimento de vacinas deve obedecer, de forma rígida, ao critério da segurança

Pesquisadora do Laboratório de Esquistossomose Experimental do IOC e líder no projeto da primeira vacina do mundo contra a esquistossomose, Miriam Tendler, destacou que a segurança deve nortear, de forma rígida, o desenvolvimento das vacinas hoje. “Não se desenha vacina para um indivíduo, mas para populações inteiras, e a eficácia nós só temos condições de avaliar quando a vacina é testada em larguíssima escala. Nada é garantido até conhecermos o impacto na dinâmica populacional”, disse. Ela citou como exemplo o caso da vacina recombinante para a hepatite B. “Acreditava-se que o vírus era perpetuado na natureza por grupos de risco compostos por profissionais de saúde. A vacinação cobriu todo esse contingente, mas nada mudou em termos de transmissão. Mais tarde, ficou comprovado que o vírus estava disseminado na população devido à transmissão por via sexual, e a vacina, que tinha sido pensada para adultos, passou a ser obrigatória para recém-nascidos”, contou.


Isadora Marinho
20/03/10
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