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Vacina contra doença de Chagas em destaque

Promovido em parceria com o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), sessão integrada do Centro de Estudos recebeu pesquisador da Universidade do Texas

Brasileiro radicado há dez anos nos Estados Unidos, onde atua como professor e diretor do Núcleo de Análises de Biomoléculas do Border Biomedical Research Center da Universidade do Texas em El Paso (UTEP), Igor Correia de Almeida foi o pesquisador responsável por inaugurar a primeira edição integrada do Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) com o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). Convidado para vir ao Brasil por meio do Programa Ciência Sem Fronteiras, Almeida se reuniu com mais de 60 pesquisadores ao longo do mês de junho e, na última sexta-feira (28/06), falou a mais de 100 pessoas no Auditório Arthur Neiva, no campus da Fiocruz, em Manguinhos (RJ). De acordo com o diretor do IOC, Wilson Savino, a iniciativa está alinhada à proposta da nova gestão do Instituto de estreitar e fortalecer a conectividade com as diversas Unidades da Fiocruz.

Gutemberg Brito

 

Igor de Almeida lidera o projeto de desenvolvimento de uma vacina contra a doença de Chagas, em andamento na Universidade do Texas em El Paso, nos EUA 

Na palestra intitulada ‘Desenvolvimento de drogas e vacinas contra doenças infecciosas e câncer’, o pesquisador falou sobre contaminantes ambientais possivelmente envolvidos em casos de câncer e apresentou dados de uma nova estratégia vacinal contra a doença de Chagas. “Trabalhei nos últimos 20 anos investigando as moléculas presentes na superfície do Trypanosoma cruzi e que poderiam ser exploradas como alvos para vacinas. Hoje, sabemos que o parasita é revestido, basicamente, por glicoproteínas, ou seja, moléculas contendo açúcar”, disse. Dentre estas moléculas, está a alfa-galactose (α-Gal), contra a qual o corpo humano produz anticorpos, conhecidos como anti-alfa-Gal. “Este anticorpo é muito eficiente no controle da parasitemia nas formas aguda e crônica da doença de Chagas. Estima-se que 3% das imunoglobulinas de um paciente chagásico sejam anti-alfa-Gal”, explicou. Atualmente, a equipe de Almeida trabalha no desenvolvimento desta 'vacina de açúcar', cuja base são glicoconjugados, ou seja, proteínas glicosiladas com o grupamento alfa-Gal.

De acordo com o pesquisador, glicanos como o alfa-Gal são as estruturas mais preservadas na evolução das espécies e, por isso, bons candidatos-alvo para a construção de vacinas. No entanto, cerca de 98% dos projetos até hoje realizados no mundo vêm utilizando extratos dos parasitas, DNA ou proteínas recombinantes. “As técnicas de purificação, caracterização estrutural e síntese de glicoconjugados são muito complexas e demandam laboratórios muito bem equipados. Parabenizo a iniciativa inovadora do CDTS em implementar uma unidade de glicobiologia, pois há poucas do gênero no Brasil”, assinalou. O especialista recomendou, ainda, que a Fiocruz sensibilize os governantes quanto à necessidade de se criar um centro de pesquisa clínica para testar vacinas. Para Almeida, “falta tirar os antígenos do freezer e testá-los na população”.

A vacina contra Chagas desenvolvida na UTEP será testada em primatas não-humanos através de uma colaboração com o Southwest National Primate Research Center, em San Antonio, Texas. O diretor do CDTS, Carlos Morel, sinalizou que, além de um gargalo financeiro, a área padece de entraves técnicos. "É complicada a missão de criar uma vacina, pois são necessários materiais de excelente qualidade fabricados sob normas de boas práticas e com aprovação em uma série de órgãos regulatórios. A Fiocruz, a partir do CDTS e do Centro Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos de Bio-Manguinhos é uma das esperanças no Brasil, porque oferece todas as competências pertinentes ao processo”, apontou, sinalizando a possibilidade de estabelecer uma parceria com Almeida.

Chagas avança fronteiras

O projeto contribui com os esforços da comunidade científica norte-americana para conter o avanço da enfermidade. Embora seja considerado um agravo negligenciado e endêmico em nações latino-americanas, a doença de Chagas vem se disseminando com rapidez pelos Estados Unidos. “No Texas, estima-se que já existam 270 mil pessoas infectadas com o T. cruzi. Já no Arizona, um estudo constatou que 40% dos triatomíneos encontrados em torno da cidade de Tucson têm o parasita”, ressaltou. O pesquisador lembrou, ainda, o caso de um aluno que vivia a alguns minutos do campus da UTEP e que achou um barbeiro dentro da própria casa. Ele levou-o ao laboratório para análises, onde foi constatada a infecção pelo parasita. "Nosso campus está localizado na fronteira com o México", assinalou o pesquisador. 

Gutemberg Brito

Primeira edição do Centro de Estudos integrado com o CDTS levou mais de 100 pessoas ao auditório Arthur Neiva, no campus da Fiocruz em Manguinhos (RJ)

Assim como os Estados Unidos, a Espanha também possui um alto contingente de imigrantes latinos e um número preocupante de casos: estima-se que 70 mil pessoas estejam cronicamente infectadas. “A maior parte vive na região da Catalunha”, disse Almeida. 

Para o pesquisador, o desenvolvimento de uma vacina contra a doença de Chagas se faz cada vez mais urgente: os medicamentos utilizados no tratamento – benzonidazol e nifurtimox – têm boa eficácia quando administrados na fase aguda, ou seja, logo após a infecção. No entanto, é difícil realizar o diagnóstico precoce do agravo, uma vez que seus sintomas se confundem com os de outras infecções agudas. Na fase crônica, a terapia já possui efeito menor e incorre em situações de toxicidade. Além disso, o próprio acesso a estes medicamentos se tornou problemático: o pesquisador chamou atenção para a dificuldade de produção e fornecimento das drogas. “O Brasil assumiu a responsabilidade de ser o fornecedor mundial do medicamento e não está cumprindo prazos e nem atendendo a demanda, colocando em risco milhões de pessoas”, criticou.

 

Isadora Marinho
02/07/2013
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