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Fator de Impacto: prós e contras

Implicações do fator de impacto nos periódicos científicos foi tema de movimentada sessão no Centro de Estudos

As publicações científicas desempenham, atualmente, papel significativo no processo de avaliação da produtividade de cientistas e do desempenho de Programas de Pós-graduação. Se por um lado o fator de impacto dos periódicos científicos pode ser  considerado uma métrica interessante para estas avaliações, por outro, também é alvo de críticas dos pesquisadores, que colocam em xeque a quantificação em detrimento à qualidade da produção científica. Com o tema ‘Fator de Impacto: prós e contras nas avaliações de pesquisa e pesquisadores’, o assunto polêmico e de extrema relevância para a Ciência brasileira foi debatido durante sessão do Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), realizada na última sexta-feira, 04 de outubro.  

Gutemberg Brito

Pesquisadores debateram sobre os indicadores de avaliação científica durante Centro de Estudos

 

Estímulo ao debate

Os indicadores que mensuram quantitativamente a produção científica e o desempenho dos Programas de Pós-graduação foram os principais alvos de crítica da comunidade científica. Para o diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Wilson Savino, estimular o debate entre os pesquisadores sobre as implicações da avaliação da pesquisa é fundamental para o avanço da ciência. “Este debate tem ganhado força com a Declaração de São Francisco [San Francisco Declaration Research on Assessments - DORA], que ocorreu em dezembro de 2012, na Sociedade Americana de Biologia Celular (American Society for Cell Biology), e que está causando muito impacto no meio acadêmico”, opinou o diretor do IOC. Essa declaração envolve um grupo de editores e editoras de revistas científicas de várias partes do mundo, que reconhece a necessidade de aprimorar maneiras pelas quais os resultados da pesquisa científica são avaliados. 

Gutemberg Brito

Para o diretor do Instituto de Oswaldo Cruz, Wilson Savino, estimular o debate sobre o tema é fundamental para a comunidade científica

De acordo com a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, é necessário que o debate sobre o tema não se limite a uma crítica que contraponha a análise quantitativa à análise qualitativa. “Não se trata de fazer um discurso contra a análise, mas propor uma reflexão para aperfeiçoar os métodos, agregando outros indicadores, como os de desenvolvimento tecnológico e de inovação, para saber como o conhecimento chega à sociedade e gera novas práticas e benefícios sociais, por exemplo”, avaliou.  “O impacto de uma pesquisa pode ocorrer não somente por meio da publicação científica, mas também por meio de ações que levem ao desenvolvimento de políticas públicas e à formação de recursos humanos, que somente poderão ser aferidos através de avaliações de média e longa duração", acrescentou.

Já o vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli, lembrou que a discussão sobre o tema é um marco para a instituição, que vem buscando incentivar a comunidade científica a discutir os índices utilizados pelas agências de fomento brasileiras. “A divisão que as agências fazem ao avaliar os Programas de Pós-gradação acaba cerceando o aspecto social deles. É essa a discussão que temos que colocar em prática para refletir sobre os atuais mecanismos de avaliação”, destacou Stabeli.

 

Destaque científico versus fator de impacto

Referência para a busca de artigos científicos em doença de Chagas e outros temas, a revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz está entre os mais destacados periódicos da América Latina indexados pelo Institute for Scientific Information (ISI) nas áreas de Medicina Tropical, Biologia Parasitária e Microbiologia. Editor do periódico e pesquisador do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC, Ricardo Lourenço, destacou a importância da centenária publicação para o desenvolvimento da ciência brasileira. “Há trabalhos publicados na revista Memórias que são fundadores do conhecimento, como a descrição do Trypanosoma cruzi. Nesta área, ela é reconhecida como uma fonte importante de consulta, sendo assim, é a principal fonte de citação. Isso também acontece em outras áreas, como a leishmaniose e esquistossomose”, ressaltou.

Gutemberg Brito

O editor da Revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Ricardo Lourenço, considera que a adoção do fator de impacto como norteador da avaliação da pesquisa não favorece publicações editadas fora do hemisfério norte

Durante três anos, a Memórias do IOC foi o único periódico cientifico latino-americano com fator de impacto acima de dois. Apesar da relevância da revista, Lourenço considera que o fator de impacto como norteador da avaliação da pesquisa não favorece publicações editadas fora do hemisfério norte, como é o caso da Memórias.

“O alto fator de impacto dos periódicos provoca no ciclo de produção e submissão de artigos científicos para estas revistas. Quanto maior o índice, maior será o número de artigos submetidos e, consequentemente, o número de citações também será alavancado. Por meio deste processo, é possível ser mais seletivo e aceitar os artigos mais originais”, explicou o pesquisador.

 

Novos critérios de avaliação

Editora acadêmica do periódico científico PLoS ONE e chefe do Laboratório de Imunofarmacologia do IOC, Patrícia Bozza, alertou que, recentemente, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) discutiu sobre os novos critérios de avaliação de pesquisa, incluindo a adoção de novos indicadores que se fundamentem no quesito qualidade e na avaliação por pares, tendo em vista que as métricas quantitativas não podem ser um indicador isolado em substituição a uma análise aprofundada: elas devem apenas auxiliar no processo de avaliação.

A pesquisadora reforçou ainda que o fator de impacto foi uma métrica criada para analisar periódicos científicos, e não para análise de pesquisadores ou pesquisas científicas, e que seu uso foi distorcido ao longo dos anos. A pesquisadora alerta que o fator de impacto, por si só possui várias limitações na sua composição que devem ser levadas em consideração quando é utilizado para a mensuração de dados. “Hoje em dia, usamos este parâmetro para fazermos a análise indiscriminada tanto do fator de impacto como o julgamento do pesquisador e da pesquisa”, afirmou a pesquisadora.

O periódico científico PLoS ONE  adotou um modelo editorial que, de acordo com a editora acadêmica, vai na contramão do que vem sendo praticado atualmente,  privilegiando a avaliação por pares. “A PLoS ONE vem se debruçando em ferramentas novas com métricas voltadas para cada artigo”, finalizou a pesquisadora.

 

Vanessa Sol
08/10/2013
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