Programação da semana comemorativa dos 115 anos do IOC foi encerrada com edição especial do Centro de Estudos, realizada em parceria com a Vice-presidência de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz
Uma sessão especial do Centro de Estudos encerrou em grande estilo a semana de comemorações dos 115 anos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Cerca de 200 pessoas, entre alunos, pesquisadores e profissionais do IOC, lotaram o auditório Emmanuel Dias na manhã da sexta-feira, dia 29 de maio, para assistir à mesa-redonda ‘A serviço de que(m) está a ciência feita no Brasil?'. A iniciativa compôs o calendário do Ciclo de Debates Preparatórios para o Seminário Educação, Saúde e Sociedade do Futuro, organizado pela Vice-presidência de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz.
Gutemberg Brito |
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O público lotou o evento, que encerrou a semana comemorativa dos 115 anos do IOC |
Uma crítica à elitização do ensino
A doutoranda Maria Fantinatti iniciou sua apresentação destacando a diferença entre ciência e pesquisa. Em seguida, criticou a elitização do ensino e a falta de compromisso com a divulgação científica. “As pesquisas têm cumprido o papel de preencher uma lacuna sobre determinado conhecimento. Em contrapartida, os estudantes que as desenvolvem não geram nada para sociedade. Muitos estão apenas preocupados com a titulação e a renovação de suas bolsas de estudos”, desabafou a aluna, acrescentando que o papel de gerar produtos para a sociedade, muitas vezes, está concentrado em empresas privadas.
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Em sua apresentação, Maria Fantinatti reforçou a relevância do Ensino no âmbito da produção científica |
Fantinatti concluiu sua participação defendendo a ideia de que o estudante de pós-graduação é parte fundamental do processo científico, de forma que o ensino e a produção de conhecimento estão intimamente conectados. “O aluno deve superar a mera busca pela titulação e se empenhar em estudos que correspondam às necessidades da sociedade”, sentenciou.
Pesquisa translacional como desafio
O pesquisador Vinícius Frias ressaltou o aumento gradativo de publicações científicas brasileiras e destacou o empenho contínuo das instituições de ensino e de pesquisa na formação de recursos humanos – ações que, segundo ele, são imprescindíveis para o fazer científico. Frias deixou claro que, apesar do cenário promissor, melhorias precisam ser feitas, principalmente na área da divulgação científica e da pesquisa translacional.
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O pesquisador Vinícius Frias questionou a estratégia de publicação fatiada, na qual os resultados são fracionados em uma série de artigos |
“A divulgação científica é importante aliada, pois garante o retorno para a sociedade daquilo que é fruto da pesquisa, permite a aplicação do conhecimento produzido e atrai jovens pesquisadores para a prática da ciência”, disse o palestrante. Sobre a questão translacional, foi enfático: “se aproximarmos a pesquisa básica da clínica teremos maior impacto sobre as descobertas”. Vinícius criticou as exigências de alguns órgãos por cotas mínimas de publicação , o que conduz a estratégias como a divisão de resultados científicos em uma série de revistas, em lugar de uma publicação consolidada em periódicos de maior impacto.
Conhecimento e inovação para o desenvolvimento
Geração de patentes no país, desafios da inovação no século XXI e os impasses da política industrial brasileira foram alguns dos temas abordados na palestra de Carlos Morel. Com uma fala descontraída, o coordenador do CDTS/Fiocruz iniciou sua apresentação contando o caso do professor da Universidade Federal do Ceará, Manoel Odorico Moraes: seu pedido de foi patente negado depois que um ex-aluno de pós-graduação, tendo como base um estudo realizado por Odorico, patenteou o projeto nos Estados Unidos. “Não houve nenhuma ilegalidade por parte do ex-aluno. Infelizmente, Odorico não pode patentear seu trabalho no Brasil em função do marco regulatório até então vigente no país”, comentou.
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Carlos Morel, coordenador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fiocruz, frisou a lacuna entre o volume de publicações e o número de patentes no Brasil |
Usando um comparativo entre Brasil e Coreia do Sul, Morel foi enfático ao denunciar a desproporção entre os depósitos de patentes realizados pelos dois países. E ressaltou que a produção científica baseada principalmente nas universidades, muito comum no Brasil, precisa ser rediscutida. Sobre os desafios da inovação, ele citou como principais entraves a fragilidade entre os pilares ‘conhecimento, informação e criatividade’, e a complicada relação do setor público com o privado. “O desenvolvimento tecnológico, fruto da inovação, vem da pesquisa básica e aplicada. A tensão entre elas e a separação entre os setores públicos e privados dificultam esse processo de evolução científica”, explicou.
Discussão
Mediador do debate juntamente com Nísia Trindade Lima, vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, o diretor do IOC chamou a atenção para a crescente importância conferida ao impacto das publicações científicas e ao relevante papel da Fiocruz no rumo da ciência brasileira. “Antigamente, os cientistas eram reconhecidos por suas descobertas, e não pelos números de papers. Hoje, o fazer ciência está direcionado mais para a competição do que para a cooperação”, comentou Wilson Savino.
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O público trouxe para o debate questões como o incentivo governamental à pesquisa |
Para a vice-presidente, a temática levantou questionamentos cujas respostas não são exatas. A começar pela missão institucional da Fiocruz, que, segundo ela, define com clareza a quem deve servir a ciência, mas não determina como deve seu uso. Ela destacou a necessidade de acesso ao conhecimento, frente à qual a Fundação tem dedicado esforços recentemente.
Lucas Rocha e Kadu Cayres
29/05/2015
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