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Três gerações debatem a produção científica

Programação da semana comemorativa dos 115 anos do IOC foi encerrada com edição especial do Centro de Estudos, realizada em parceria com a Vice-presidência de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz

Uma sessão especial do Centro de Estudos encerrou em grande estilo a semana de comemorações dos 115 anos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Cerca de 200 pessoas, entre alunos, pesquisadores e profissionais do IOC, lotaram o auditório Emmanuel Dias na manhã da sexta-feira, dia 29 de maio, para assistir à mesa-redonda ‘A serviço de que(m) está a ciência feita no Brasil?'. A iniciativa compôs o calendário do Ciclo de Debates Preparatórios para o Seminário Educação, Saúde e Sociedade do Futuro, organizado pela Vice-presidência de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz.

 Gutemberg Brito

 

O público lotou o evento, que encerrou a semana comemorativa dos 115 anos do IOC

Participaram representantes de três gerações que atuam na carreira científica: o coordenador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz (CDTS/Fiocruz), Carlos Médicis Morel; o pesquisador do Laboratório de Inflamação do IOC, Vinícius de Frias Carvalho; e a doutoranda do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical, Maria Fantinatti. Eles abordaram temas relacionados à dicotomia entre ensino e pesquisa, à falta de investimento na divulgação científica e à baixa obtenção de patentes entre as institucionais nacionais.

“Escolhemos o ano em que o Centro de Estudos completa 18 anos para trazer, ao cerne da discussão, um tema pouco debatido, sobretudo, na área da saúde. Hoje, aprofundamos de maneira simples, porém relevante, questões referentes ao fazer ciência no país”, destacou o diretor do IOC, Wilson Savino, na abertura da atividade.

Uma crítica à elitização do ensino

A doutoranda Maria Fantinatti iniciou sua apresentação destacando a diferença entre ciência e pesquisa. Em seguida, criticou a elitização do ensino e a falta de compromisso com a divulgação científica. “As pesquisas têm cumprido o papel de preencher uma lacuna sobre determinado conhecimento. Em contrapartida, os estudantes que as desenvolvem não geram nada para sociedade. Muitos estão apenas preocupados com a titulação e a renovação de suas bolsas de estudos”, desabafou a aluna, acrescentando que o papel de gerar produtos para a sociedade, muitas vezes, está concentrado em empresas privadas.

 Gutemberg Brito

 

Em sua apresentação, Maria Fantinatti reforçou a relevância do Ensino no âmbito da produção científica

Fantinatti concluiu sua participação defendendo a ideia de que o estudante de pós-graduação é parte fundamental do processo científico, de forma que o ensino e a produção de conhecimento estão intimamente conectados. “O aluno deve superar a mera busca pela titulação e se empenhar em estudos que correspondam às necessidades da sociedade”, sentenciou.

Pesquisa translacional como desafio

O pesquisador Vinícius Frias ressaltou o aumento gradativo de publicações científicas brasileiras e destacou o empenho contínuo das instituições de ensino e de pesquisa na formação de recursos humanos – ações que, segundo ele, são imprescindíveis para o fazer científico. Frias deixou claro que, apesar do cenário promissor, melhorias precisam ser feitas, principalmente na área da divulgação científica e da pesquisa translacional.

 Gutemberg Brito

 

O pesquisador Vinícius Frias questionou a estratégia de publicação fatiada, na qual os resultados são fracionados em uma série de artigos

“A divulgação científica é importante aliada, pois garante o retorno para a sociedade daquilo que é fruto da pesquisa, permite a aplicação do conhecimento produzido e atrai jovens pesquisadores para a prática da ciência”, disse o palestrante. Sobre a questão translacional, foi enfático: “se aproximarmos a pesquisa básica da clínica teremos maior impacto sobre as descobertas”. Vinícius criticou as exigências de alguns órgãos por cotas mínimas de publicação , o que conduz a estratégias como a divisão de resultados científicos em uma série de revistas, em lugar de uma publicação consolidada em periódicos de maior impacto.

Conhecimento e inovação para o desenvolvimento

Geração de patentes no país, desafios da inovação no século XXI e os impasses da política industrial brasileira foram alguns dos temas abordados na palestra de Carlos Morel. Com uma fala descontraída, o coordenador do CDTS/Fiocruz iniciou sua apresentação contando o caso do professor da Universidade Federal do Ceará, Manoel Odorico Moraes: seu pedido de foi patente negado depois que um ex-aluno de pós-graduação, tendo como base um estudo realizado por Odorico, patenteou o projeto nos Estados Unidos. “Não houve nenhuma ilegalidade por parte do ex-aluno. Infelizmente, Odorico não pode patentear seu trabalho no Brasil em função do marco regulatório até então vigente no país”, comentou.

 Gutemberg Brito

 

Carlos Morel, coordenador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fiocruz, frisou a lacuna entre o volume de publicações e o número de patentes no Brasil

Usando um comparativo entre Brasil e Coreia do Sul, Morel foi enfático ao denunciar a desproporção entre os depósitos de patentes realizados pelos dois países. E ressaltou que a produção científica baseada principalmente nas universidades, muito comum no Brasil, precisa ser rediscutida. Sobre os desafios da inovação, ele citou como principais entraves a fragilidade entre os pilares ‘conhecimento, informação e criatividade’, e a complicada relação do setor público com o privado. “O desenvolvimento tecnológico, fruto da inovação, vem da pesquisa básica e aplicada. A tensão entre elas e a separação entre os setores públicos e privados dificultam esse processo de evolução científica”, explicou.

Discussão

Mediador do debate juntamente com Nísia Trindade Lima, vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, o diretor do IOC chamou a atenção para a crescente importância conferida ao impacto das publicações científicas e ao relevante papel da Fiocruz no rumo da ciência brasileira. “Antigamente, os cientistas eram reconhecidos por suas descobertas, e não pelos números de papers. Hoje, o fazer ciência está direcionado mais para a competição do que para a cooperação”, comentou Wilson Savino.

 Gutemberg Brito

 

O público trouxe para o debate questões como o incentivo governamental à pesquisa

Para a vice-presidente, a temática levantou questionamentos cujas respostas não são exatas. A começar pela missão institucional da Fiocruz, que, segundo ela, define com clareza a quem deve servir a ciência, mas não determina como deve seu uso. Ela destacou a necessidade de acesso ao conhecimento, frente à qual a Fundação tem dedicado esforços recentemente.

Lucas Rocha e Kadu Cayres
29/05/2015
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