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Pesquisa e inovação em doenças bacterianas e fúngicas

Estudantes, pesquisadores e profissionais da saúde se juntaram a especialistas brasileiros e estrangeiros para discutir o assunto em evento realizado pelo IOC

Anfitrião do III Simpósio e IV Workshop em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Doenças Bacterianas e Fúngicas, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) reuniu uma centena de pesquisadores, profissionais da área da saúde e estudantes de pós-graduação para uma maratona de atividades dedicadas ao tema. Realizadas nos dias 05 e 06 de novembro, no campus da Fiocruz, em Manguinhos (RJ), palestras e mesas-redondas sobre inovações em biotecnologia, interações patógeno-hospedeiro e resistência a antibióticos nortearam os debates sobre a investigação de micro-organismos responsáveis por causar doenças conhecidas, como tuberculose e hanseníase, até as menos populares, e potencialmente letais, como aspergilose, paracoccidiomicose e cromoblastomicose.

De acordo com o diretor do IOC, Wilson Savino, a iniciativa vai ao encontro da missão do Instituto de produzir pesquisa e ciência voltadas para a saúde, ao mesmo tempo em que se preocupa com a formação de novos cientistas. “A realização de um encontro desta qualidade mostra que não podemos parar de investir na área da ciência e da saúde”, destacou Savino durante a cerimônia de abertura do evento. Pesquisadora do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC e coordenadora da iniciativa, Maria Helena Saad chamou a atenção para a programação diversificada que abordou, entre outros temas, a integração entre homem, ambiente e micro-organismos. “Com o foco na saúde humana, tivemos a oportunidade de discutir aspectos relevantes, tanto da pesquisa básica como aplicada”, salientou. Já o vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Instituto, Hugo Caire, ressaltou a presença dos convidados brasileiros e estrangeiros. “Um encontro como este precisa ser, antes de mais nada, instigante. E, de fato, tivemos uma programação repleta de assuntos relevantes, com a presença de pesquisadores expoentes na área”, destacou.

Gutemberg Brito

Ao lado de Maria Helena Saad (esquerda) e Hugo Caire (direita), o diretor do IOC destacou a importância da continuidade do investimento em ciência e saúde


Perspectivas contra infecções fúngicas

O fungo Cryptococcus neoformans foi tema da palestra do pesquisador do Instituto Pasteur, da França, Guilhem Janbon, que investiga a relação entre o metabolismo, a eficiência do fungo e sua capacidade de responder a diferentes estímulos ambientais. O fungo é causador da criptococose, doença que atinge, em geral, indivíduos que apresentam quadro de baixa imunidade. “O estudo em desenvolvimento pode apresentar novas perspectivas no combate ao patógeno oportunista responsável pela morte de milhares de pessoas em todo o mundo”, afirmou o especialista. Jabon realiza análises de escala global e de estratégias baseadas em modelos gênicos para descrever a estrutura do transcriptoma desta levedura, bem como para entender como ocorre sua regulação. Além disso, o grupo estuda como os íntrons regulam a expressão gênica, e também a caracterização de vias envolvidas no “splicing” alternativo em C. neoformans

Gutemberg Brito

Estudo apresentado pelo pesquisador Guilhem Janbon do Instituto Pasteur investiga como os íntrons regulam a expressão gênica de C. neoformans



Já o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Gustavo Goldman apresentou aspectos relacionadas ao fungo Aspergillus fumigatus, responsável por quadros alérgicos, asma severa e sinusites, inclusive em pacientes imunocompetentes. Goldman falou sobre a caracterização molecular de genes que codificam proteínas quinases e fosfatases em A. fumigatus, além do seu envolvimento em virulência e patogenicidade. O estudo apresentado visa proporcionar novos conceitos a respeito da biologia e dos mecanismos de sinalização e adaptação do fungo ao hospedeiro.

Novos caminhos no combate à tuberculose

O mecanismo de interação metabólica entre o bacilo Mycobacterium tuberculosis, causador da tuberculose, e suas células hospedeiras – em especial os macrófagos – foi discutido por Dany Beste, pesquisadora da Universidade de Surrey, da Inglaterra. De acordo com a especialista, a chave para o avanço do bacilo está na sua habilidade de sobreviver e se desenvolver nos glóbulos brancos, que são justamente as células responsáveis por eliminar a bactéria do organismo. "Para conseguir isso, o bacilo busca adquirir nutrientes e energia desse nicho específico. Por meio da marcação de fontes de nutrientes, conseguimos medir o avanço do metabolismo do Mycobacterium tuberculosis sobre estas células hospedeiras", explicou Dany.

As análises indicaram que a bactéria tem acesso a diversas fontes de carbono dentro de um macrófago. “Estas descobertas oferecem novas oportunidades para o desenvolvimento de agentes quimioterápicos que tenham como alvo a absorção de nutrientes ou o metabolismo intracelular do bacilo causador da tuberculose”, completou. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de dois bilhões de pessoas, o que corresponde a um terço da população mundial, estão infectados com o bacilo. Destes, 10% podem desenvolver a doença durante a vida.

Gutemberg Brito

A pesquisadora Dany Beste apresentou estudo que pode abrir caminhos para a produção de novos medicamentos contra a tuberculose


O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) Bernard Larouzé também abordou os desafios do combate à tuberculose durante o seminário. Um dos autores do ‘Manual de intervenções ambientais para o controle da tuberculose nas prisões’, ele destacou que a incidência da doença em algumas unidades do Complexo Penitenciário de Bangu, na capital fluminense, é 35 vezes maior do que a média no estado do Rio de Janeiro. No entanto, uma vez que a frequência de micro-organismos resistentes é baixa, a taxa de cura após o tratamento pode passar de 70%. “Após diversas pesquisas, entramos em contato com arquitetos para elaborar um manual com sugestões para a construção de presídios. A tuberculose é transmitida pelo ar, e é possível melhorar a situação das prisões com medidas como instalação de furos nas paredes e telhados que permitam a ventilação”, contou o pesquisador.

O desafio da resistência a antibióticos

A resistência antimicrobiana, fenômeno global com impactos sociais, ambientais e econômicos, também foi pauta do evento. Para falar sobre o assunto, a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Renata Cristina Picão ministrou a palestra ‘Disseminação da resistência aos antimicrobianos: da clínica para a comunidade ou da comunidade para a clínica?’.

Gutemberg Brito

A disseminação da resistência acontece na forma de um ciclo, tanto dos ambientes hospitalares para a comunidade, como no caminho inverso, de acordo com a professora Renata Cristina Picão


De acordo com a especialista, o problema tem se agravado nas últimas décadas, entre outros motivos, devido ao uso inadequado de medicamentos antibióticos, pela falta de medidas de prevenção e controle de infecções e pela ausência de desenvolvimento de novos antimicrobianos. “Em algum momento, essas bactérias se aproximaram do universo humano. Estudos apontam como possíveis causas deste processo o uso de antimicrobianos em práticas agrícolas, já que água e alimentos podem funcionar como reservatórios para esses organismos resistentes, além da falta de saneamento básico nas grandes cidades”, afirmou. No que diz respeito à pergunta que deu título à palestra, a pesquisadora esclareceu que a disseminação da resistência acontece na forma de um ciclo, tanto dos ambientes hospitalares para a comunidade, como no caminho inverso. “Um paciente em tratamento contra uma infecção multirresistente recebe altas doses de medicamento antimicrobiano, entretanto, ele já foi colonizado por estas bactérias. Nesse período, o sistema de esgoto da instituição de saúde também pode receber antimicrobianos e bactérias resistentes, que podem voltar para o meio ambiente”, explicou Renata.

O papel dos hospitais na disseminação da resistência também foi debatido em uma mesa redonda. A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC Polyana Pereira explicou que as bactérias resistentes costumam aparecer primeiramente em unidades de saúde devido a uma combinação de três fatores: pacientes com imunidade comprometida, alta concentração de micro-organismos e uso intensivo de antibióticos. Neste contexto, além de medidas para racionalizar a prescrição de medicamentos, ações para prevenir a transmissão dos micro-organismos são fundamentais para conter o problema. “Na Europa, por exemplo, estudos apontam que 6% dos indivíduos internados adquirem algum tipo de infecção hospitalar, sendo as mais frequentes pneumonia, infecção urinária e infecção de feridas cirúrgicas. É importante lembrar que a higienização das mãos ainda é o modo mais barato e eficaz de controlar a disseminação de bactérias em unidades de saúde”, destacou a biomédica.

Já o doutor em Medicina Tropical pelo IOC Thiago Pavoni ressaltou que a presença de micro-organismos no esgoto hospitalar é um fenômeno preocupante. Ele citou estudos do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto que identificaram superbactérias – micro-organismos resistentes a diversos antibióticos – em dejetos de hospitais mesmo após o tratamento e a adição de cloro. “Essas bactérias têm alto poder de disseminação, não só dentro de um único hospital, mas também entre unidades de saúde e para a comunidade. Em nossas cidades, existe um grande aporte de efluentes que encontram os corpos hídricos, como rios e lagoas, e isso pode fazer com que esses reservatórios sejam contaminados”, disse o biólogo, lembrando também que a presença de antibióticos no esgoto dos hospitais pode contribuir para a seleção de micro-organismos resistentes.

O plano de ação para a resistência antimicrobiana quinquenal (2015-2020) elaborado pela OMS apresenta ações necessárias para o enfrentamento a este quadro. As principais recomendações incluem melhorar a conscientização a respeito da resistência, reforçar o conhecimento sobre o tema, reduzir a incidência de infecções com medidas eficazes de saneamento, higiene e prevenção, além de otimizar o uso de antimicrobianos na saúde humana e animal.

Produção científica reconhecida

Os melhores trabalhos de estudantes de pós-graduação apresentados na seção de pôsteres do Simpósio foram premiados ao final do evento. O primeiro lugar foi conquistado pelo estudo ‘O papel do ferro na imunopatogênese da hanseníase’, da primeira autora Mayara Garcia Mattos Barbosa, doutoranda em Biologia Parasitária do IOC. Já a segunda colocação ficou com a pesquisa ‘Isolados clínicos pertencentes ao complexo Candida haemulonii: susceptibilidade a antifúngicos e produção de enzimas hidrolíticas’, da primeira autora Lívia de Souza Ramos, doutoranda da UFRJ; enquanto o terceiro lugar foi para o trabalho ‘Inibição do crescimento bacteriano por espécies vegetais do Parna Jurubatiba, do primeiro autor Marlon Heggdorne de Araujo, também doutorando da UFRJ.

Gutemberg Brito

A partir da esquerda, Lucimar Kneipp e Maria Helena, organizadoras do simpósio, Lívia, Marlon e Mayara, vencedores da premiação, e Viviane Zahner, também organizadora do evento


Lucas Rocha e Maíra Menezes
09/11/2015
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