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Desafios para preservação das coleções biológicas

Estratégias para manter e modernizar acervo da Fiocruz, que contém milhões de amostras de valor histórico e relevância científica, foram debatidas. Os melhores pôsteres apresentados receberam o Prêmio Professor Doutor Nicolau Maués Serra-Freire

Reunido durante mais de cem anos, um acervo com milhões de amostras de micro-organismos, animais e pacientes é mantido nas 30 coleções biológicas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), das quais 21 estão sob a guarda do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Dividido entre coleções microbiológicas, zoológicas e histopatológicas, o arquivo inclui peças que datam do início do século XX e está em contínua expansão. A importância e os desafios para preservação desse patrimônio foram debatidos durante a mesa redonda que encerrou o II Simpósio Latino-americano de Coleções Biológicas e Biodiversidade, promovido pelo IOC, entre 24 e 26 de novembro.

Foto: Gutemberg Brito

No debate com participação de Magali Romero, Eliane Veiga e Manuela Silva, Marcelo Pelajo afirmou que as coleções biológicas precisam ser percebidas como patrimônio histórico, científico e tecnológico

O caráter histórico do acervo foi destacado pela pesquisadora Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Ela lembrou que muitas coleções começaram como arquivos particulares de pesquisadores que marcaram a trajetória da medicina e da ciência no Brasil, como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Arthur Neiva e Lauro Travassos. “A partir de 1911, pesquisadores e técnicos do IOC começaram a fazer expedições científicas pelo Brasil. Eles coletaram amostras em diversas regiões do país, tornando a instituição um centro para coleções”, contou Magali, ressaltando que diversos exemplares não poderiam ser encontrados nos mesmos locais atualmente devido às transformações ambientais.

Apesar de seu valor indiscutível, as coleções da Fiocruz correram risco de ser perdidas no período da ditadura militar. Em 1970, no episódio que ficou conhecido como ‘massacre de Manguinhos’, dez pesquisadores do IOC foram cassados e a manutenção do acervo na instituição foi prejudicada. “Passamos por momentos muito difíceis. Chegamos a ouvir que não havia interesse em manter as coleções na Fiocruz e que deveríamos nos desfazer delas. Mas as nossas amostras são base para pesquisas e lutamos para preservá-las”, relatou a presidente do Simpósio, Delir Corrêa Gomes Maues da Serra Freire, chefe do Laboratório de Helmintos Parasitos de Vertebrados do IOC e uma das pesquisadoras que trabalharam para manter as coleções no período. “Hoje somos reconhecidos internacionalmente pelo nosso acervo”, completou.

Foto: Gutemberg Brito

Segundo Delir, esforço realizado pelos pesquisadores durante a ditadura militar conseguiu salvar acervo

Resgate e modernização
Segundo os participantes do debate, foram necessários anos de investimentos para restabelecer as coleções após os danos sofridos na década de 1970 e ainda existem arquivos e amostras aguardando recuperação. Ao mesmo tempo, a modernização do acervo é uma das prioridades para aumentar a segurança dos arquivos e facilitar o acesso às informações. Entre estas ações está a digitalização, que vai gerar imagens tridimensionais das amostras depositadas nas coleções e que já conta com equipamentos adquiridos. “Esta é uma ação importante porque facilita a internacionalização e a difusão do acervo. Seguindo os protocolos estabelecidos, os pesquisadores poderão ter acesso ao material sem a necessidade de vir à Fiocruz ou de enviarmos as amostras”, explicou o pesquisador Marcelo Pelajo, chefe do Laboratório de Patologia do IOC e curador da Coleção de Febre Amarela.

Outra iniciativa é a criação do Centro de Recursos Biológicos em Saúde (CRB-Saúde), que deve ser instalado no campus de Manguinhos, reunindo amostras de microrganismos patogênicos relacionados principalmente às doenças tropicais. De acordo com a pesquisadora Manuela da Silva, assessora da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência e coordenadora de Coleções Biológicas da Fiocruz, além do aspecto de conservação, o projeto deve contribuir para a pesquisa científica e a inovação biotecnológica. “Essa estrutura vai oferecer serviços e produtos certificados para a comunidade científica, a indústria e o Sistema Único de Saúde. Estamos na fase de planejamento e pretendemos fazer visitas a outros CRBs no Brasil para refinar o nosso projeto”, relatou.

Foto: Gutemberg Brito

Manuela avaliou que os últimos dez anos foram um período de valorização das coleções

Período de crise
Diante da restrição orçamentária, os cientistas avaliam que é importante chamar atenção para a relevância dos investimentos nas coleções biológicas. A pesquisadora Eliane Veiga Costa, vice-diretora de Serviços de Referência e Coleções Biológicas do IOC, destaca que recursos financeiros e humanos são necessários para evitar prejuízos ao patrimônio histórico e científico do país. “Além dos projetos de modernização, as coleções precisam de investimento constante para sua manutenção. É um grande desafio uma vez que há muito trabalho e os recursos humanos são bastante reduzidos”, comentou.

Um dos motivos de preocupação dos pesquisadores é o fim da ação orçamentária que destinava recursos especificamente para a manutenção das coleções biológicas da Fiocruz, chamada de 20AQ. Por decisão do Ministério do Planejamento, no orçamento de 2016, esta ação deixará de existir, e as atividades relativas às coleções deverão ser contempladas pela verba dirigida às ações de pesquisa da Fundação. Embora não se saiba qual será o aporte de recursos, a expectativa é que o financiamento seja reduzido com essa mudança. “Entendemos que a crise afeta a todos. No entanto, precisamos reafirmar a importância das coleções, para que esta despesa não seja vista como secundária”, afirmou Marcelo Pelajo, acrescentando que as iniciativas na área não devem ser interrompidas. “Nesse momento, ainda há recursos originados em ações externas de fomento. Então, lógico que muitos projetos futuros serão dificultados, mas não paralisados”, disse.

Foto: Gutemberg Brito

Necessidade de investimentos para manutenção das coleções biológicas foi destacada por Eliane

Para Manuela Silva, a visibilidade que as coleções biológicas obtiveram nos últimos anos deve contribuir para que o patrimônio contido nelas não seja novamente abandonado. Segundo a especialista, nos últimos dez anos, a valorização institucional do acervo resultou em uma série de ações, como a criação da Câmara Técnica e a publicação do Manual de Organização de Coleções Biológicas da Fiocruz. Além disso, no cenário nacional, a decisão do governo federal de criar a Rede Brasileira Centro de Recursos Biológicos reforça o valor destas atividades. “Conseguimos chamar atenção para as coleções. Vamos passar por um período complicado, mas esses arquivos têm um valor inestimável e não podemos desistir”, declarou.

Premiação homenageia Nicolau Serra-Freire
O Prêmio Professor Doutor Nicolau Maués Serra-Freire foi entregue ao final do II Simpósio Latino-americano de Coleções Biológicas e Biodiversidade para os primeiros autores dos três melhores pôsteres apresentados durante o evento. A premiação é uma homenagem ao pesquisador Nicolau Maués Serra-Freire, médico veterinário, especialista em parasitologia, acarologia e epizootiologia, falecido em junho deste ano. O cientista foi responsável por recuperar a Coleção de Artrópodes Vetores Ápteros de Importância em Saúde das Comunidades do IOC e também teve forte atuação no ensino, orientando mais de cem mestres e doutores em sua carreira.

Foto: Gutemberg Brito

Barbara e Vitor Hugo receberam o Prêmio Professor Doutor Nicolau Maués Serra-Freire, concedido pelos organizadores do Simpósio

Os vencedores da premiação foram Barbara Cristina Euzebio Pereira Dias de Oliveira, do Laboratório de Patologia do IOC, primeira autora do estudo ‘A inserção da Coleção de Febre Amarela na era da patologia digital’; Vitor Hugo da Silva Martins, da Plataforma de Apoio à Pesquisa e Inovação do IOC, primeiro autor da pesquisa “Contribuições do Instituto Oswaldo Cruz para a biodiversidade: novos táxons descritos nos últimos dez anos”; e Alexandre da Silva Xavier, do Laboratório de Entomologia Médica e Forense do IOC e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária do IOC, primeiro autor do trabalho “Caracterização morfológica dos estágios imaturos da espécie de importância médica e forense Ravinia belforti (Diptera, Sarcophagidae) através da microscopia eletrônica de varredura”.

Maíra Menezes e Max Gomes
01/12/2015
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