Apesar da queda no número de casos no Brasil, virologista destaca que o Zika segue se espalhando no mundo. Encerramento do evento ‘Zika’ ressaltou contribuição brasileira para o conhecimento sobre a doença
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“A epidemia de Zika não estacionou. Ela continua progredindo. Pode ser que, nesse momento, o foco esteja saindo do Brasil, mas o vírus continua se espalhando para outras regiões, principalmente na Ásia”, afirmou o virologista Pedro Vasconcelos, antes de elencar dez questões sobre a doença que ainda não foram respondidas. A conferência que encerrou o evento internacional ‘Zika’ foi proferida pelo diretor do Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará, único brasileiro no comitê de emergência sobre Zika e aumento de distúrbios neurológicos e malformações congênitas convocado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O simpósio promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Academia Nacional de Medicina (ANM) e Academia Brasileira de Ciências (ABC) terminou nesta quinta-feira, 10/11, após quatro dias de discussões, que tiveram a presença de especialistas de 13 países.
Gutemberg Brito |
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O virologista Pedro Vasconcelos destacou o espalhamento do vírus Zika para regiões da Ásia |
Contribuição brasileira para a ciência mundial
A comprovação de que o vírus Zika é a causa do aumento de casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré foi apontada por Vasconcelos como a principal conquista dos esforços realizados no primeiro ano da emergência nacional em saúde pública, declarada em 11 de novembro de 2015. O pesquisador lembrou que a declaração brasileira ocorreu três meses antes de a OMS confirmar a emergência de saúde pública de importância internacional, o que ocorreu em 1º de fevereiro de 2016. “Apenas na descoberta da doença de Chagas a contribuição brasileira para a ciência mundial tinha sido tão grande quanto a que vem ocorrendo na epidemia de Zika. Com a diferença de que Carlos Chagas trabalhou praticamente sozinho e hoje somos centenas de pesquisadores fazendo o máximo para responder à demanda da sociedade”, ressaltou o virologista.Questões ainda sem resposta
Embora o papel do vírus Zika como causador de malformações congênitas esteja comprovado, ainda não é possível dizer com que frequência isso ocorre. Também não estão claras as consequências da infecção nos diferentes períodos da gestação ou qual a gama de problemas que podem acontecer. “Obviamente, o fato de o número de casos de microcefalia registrado no Brasil ser muito maior do que em outros países nos intriga. Mesmo dentro do país, observamos uma variação regional, com concentração de casos no Nordeste, que ainda não tem explicação”, ponderou Vasconcelos.Óbitos ligados ao vírus Zika
Um estudo coordenado por Vasconcelos e recém-publicado na revista científica ‘Journal of Clinical Virology’ é uma amostra de como o Zika ainda surpreende os cientistas. O trabalho aborda três casos de morte após infecção pelo vírus Zika registrados no Brasil. Os três pacientes eram jovens, com idades entre 16 e 36 anos, e os casos indicam que alterações da imunidade podem ter contribuído para o agravamento da doença. As análises revelaram que o vírus Zika se espalhou pelo organismo dos pacientes, atingindo órgãos como pulmão, fígado e rins, além de danificar com mais intensidade o cérebro. “Isso é um alerta para que pacientes com desordens da imunidade sejam melhor acompanhados. Não quer dizer que todos as pessoas com doenças como lúpus e outras síndromes autominunes terão esse problema. Mas é possível que a Zika cause um quadro muito grave em pacientes com doenças de base”, ponderou o virologista.
Gutemberg Brito |
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A mesa de encerramento fez um balanço do evento, que contou com a participação de mais de 400 inscritos |
Cerimônia de encerramento
A mesa de encerramento do evento ‘Zika’ ocorreu em sessão extraordinária da ANM e contou com a presença do presidente da ANM, Francisco Sampaio; do diretor do IOC e organizador do simpósio, Wilson Savino; do acadêmico e organizador da iniciativa, Marcello Barcinski; do acadêmico e pesquisador do IOC Claudio Tadeu Daniel Ribeiro; e do diretor do IEC, Pedro Vasconcelos. Títulos de honra ao mérito foram concedidos pela Academia a duas pesquisadoras com atuação de destaque no enfrentamento da epidemia de Zika: a médica Adriana Melo, do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, na Paraíba, primeira a descrever a associação entre o Zika e malformações cerebrais; e a virologista Ana Maria Bispo, chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC, que liderou as análises que identificaram o vírus no líquido amniótico de gestantes. “Esse é um reconhecimento merecido, que foi aprovado por todos os integrantes da Academia Nacional de Medicina”, destacou Sampaio ao anunciar os títulos.Instituto Oswaldo Cruz /IOC /FIOCRUZ - Av. Brasil, 4365 - Tel: (21) 2598-4220
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