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Intercâmbio científico na Jornada Jovens Talentos

Alunos dos seis programas de pós-graduação do Instituto apresentaram seus projetos em sessões que contaram com participação de estudantes, pós-doutorandos e pesquisadores

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Estudantes dos seis programas de pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) apresentaram e discutiram seus projetos de pesquisa na segunda edição da Jornada Jovens Talentos. Realizada nos dias 24 e 25/11, durante a Semana da Pós-graduação Stricto sensu, a atividade contou com a participação de pesquisadores e pós-doutorandos que, ao lado dos estudantes, comentaram as apresentações orais e os pôsteres. Enquanto alguns estudantes divulgaram pela primeira vez seus projetos, outros adotaram a oportunidade como um exercício antes da defesa. Em ambos os casos, o intercâmbio com colegas que atuam em diferentes linhas de pesquisa e com cientistas mais experientes foi considerado positivo.

“Foi muito produtivo. Além do avaliador, outras pessoas viram o trabalho, apresentaram sugestões e questionaram as hipóteses. Isso fortalece a construção do projeto. Como estou concluindo o doutorado, acho que os questionamentos ajudam a ter novas perspectivas para outras pesquisas no futuro”, afirmou Thabata Duque, aluna do curso de Biologia Celular e Molecular, que apresentou o pôster 'Interação entre autofagia e fagocitose em macrófagos durante a infecção por Trypanosoma cruzi'. “Preparar o pôster já foi um estímulo para compilar os resultados preliminares do projeto e avançar em algumas questões. A avaliadora deu muitas sugestões e tive a oportunidade de conversar com outros alunos que realizam pesquisas em temas semelhantes”, disse Fernanda Bottino, mestranda em Biologia Parasitária, que apresentou o estudo ‘Monitoração da atividade da medula óssea durante o curso crônico da hepatite E em Macaca fascicularis imunocomprometidas’ pela primeira vez em um evento científico.

Foto: Gutemberg Brito

Sessão de pôsteres teve avaliação de projetos por pós-doutorandos e docentes, além de promover a interação entre estudantes

A presença de pesquisadores e pós-doutorandos designados como avaliadores nas sessões de apresentação oral e de pôsteres foi uma inovação em relação à primeira edição da Jornada Jovens Talentos. Para aprofundar o debate, cada avaliador recebeu antecipadamente os resumos de alguns projetos apresentados no evento. “O questionamento e o comentário são muito importantes na pesquisa científica. Por isso, quisemos garantir que todos os alunos recebessem feed-back dos seus trabalhos. Nas sessões de apresentação oral, observamos que a discussão se tornou mais produtiva e tivemos também mais participação dos estudantes, com perguntas e ponderações”, analisou Elisa Cupolillo, vice-diretora de Ensino, Informação e Comunicação.

Pesquisadores e pós-doutorandos que participaram da atividade aprovaram o formato. “Mesmo quando se entende de um assunto, a possibilidade de olhar o trabalho e pesquisar antes da apresentação contribui para melhorar a qualidade dos questionamentos e dos comentários na discussão. Isso é bom para os aluno e para os projetos”, ressaltou Clarissa Maya Monteiro, pesquisadora do Laboratório de Imunofarmacologia. “A interação com os estudantes na Semana de Pós-graduação é proveitosa também para nós pesquisadores. Na Jornada, as discussões foram muito ricas, com grande participação dos alunos nas perguntas”, pontuou Alda Maria da Cruz, chefe do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas. “Já participei da Semana de Pós-graduação como aluno e, nesse ano, voltei como avaliador. Além de ser uma oportunidade para discutir os projetos, a Jornada é um treinamento para os estudantes, preparando-os para para apresentações em congressos, defesas e concursos”, acrescentou Vitor Ennes Vidal, técnico do Laboratório de Estudos Integrados em Protozoologia e doutor pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular.

Produção de conhecimento
Ao todo, 40 pesquisas foram apresentadas no evento, sendo que 16 foram selecionadas pelas coordenações de pós-graduação para as apresentações orais. Alunos dos seis cursos participaram das duas atividades, e o número de trabalhos de cada programa nas sessões de apresentação oral foi proporcional à quantidade de resumos enviados para o evento. Entre os trabalhos escolhidos, muitos já apresentam resultados importantes, que podem contribuir para o avanço do conhecimento científico, assim como para o tratamento e a prevenção de doenças.

Foto: Gutemberg Brito

Geovane Dias Lopes abordou a formação de pseudocistos do parasito Trichomonas vaginalis, causador da tricomoníase, DST de alta prevalência

A pesquisa de Maria Talita de Oliveira, doutoranda em Biologia Celular e Molecular, aponta para o potencial da nanotecnologia na elaboração de fármacos. O trabalho mostra que nanocápsulas contendo a molécula resveratrol – que é encontrada em alimentos e conhecida por sua ação anti-inflamatória e antioxidante – são eficazes no tratamento de camundongos considerados modelo de estudo da síndrome do desconforto respiratório agudo, promovendo redução da inflamação e melhoria da função pulmonar. “O potencial farmacológico do resveratrol é alto, mas a molécula tem uma farmacocinética desfavorável, com baixa solubilidade e curto tempo de meia-vida [circulação no organismo antes da degradação]. Os resultados indicam que a nanotecnologia pode trazer vantagens para contornar esses problemas”, destacou Talita.

O parasito causador da tricomoníase, uma das doenças sexualmente transmíssiveis mais frequentes no mundo, está no alvo da pesquisa de Geovane Dias Lopes, que cursa o doutorado no Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária. O estudo mostra que a baixa oferta de ferro no meio de cultura induz o protozoário Trichomonas vaginalis a se alterar, formando pseudocistos. “Tradicionalmente, dizia-se que os parasitos tricomonadídeos apresentavam apenas a forma trofozoíta, mas vários trabalhos recentes reforçam a importância dos pseudocistos no ciclo de vida desses protozoários”, conta Geovane, adiantando que a etapa seguinte da pesquisa envolve análises de proteômica para investigar as modificações metabólicas nos pseudocistos. “É importante estudar os pseudocistos porque eles podem atuar na resistência a medicamentos e contribuir, juntamente com a forma trofozoíta, para a transmissão da doença”, completou o estudante, que é um dos representantes eleitos dos alunos do IOC.

Um alerta sobre a ocorrência de bactérias chamadas de panresistentes no Brasil foi feito por Caio Aires, doutorando do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical. Sua pesquisa analisou uma cepa da bactéria Klebsiella pneumoniae, isolada de um paciente em 2010, e detectou resistência a todos os antibióticos disponíveis atualmente no país. A análise do genoma do microrganismo revelou a presença de genes associados a mecanismos de resistência a diversos antibióticos, incluindo carabapenemas – uma classe moderna de antibióticos de amplo espectro – e polimixinas – fármacos geralmente usados como último recurso. Os testes também mostraram ausência de suscetibilidade a combinações de medicamentos. “A circulação de bactérias panresistentes no Brasil reforça a necessidade de ações de prevenção a infecções hospitalares, para impedir a disseminação desses microrganismos, e de desenvolvimento de novos tratamentos”, afirmou Caio.

Foto: Gutemberg Brito

Simone da Costa identificou que o inseto Lutzomia whitmani, vetor da leishmaniose, ocorre em diferentes tipos de vegetação

O professor de física Marco Dias, doutorando em Ensino em Biociências e Saúde, apresentou resultados sobre a contribuição didática de uma metodologia que utiliza recursos de vídeo para o ensino de mecânica. Para promover a aprendizagem participativa, o método parte da filmagem de atividades esportivas realizadas pelos alunos, como manobras de skate e lançamentos de basquete. A extração de frames dos vídeos permite reconstruir a trajetória dos movimentos, servindo como base para a discussão de conceitos da disciplina. Segundo Marco, a análise dos debates em sala de aula indica que a metodologia traz vantagens para o ensino experimental e colabora para a alfabetização científica dos jovens. “Avaliamos indicadores estruturantes e epistemológicos na fala dos alunos que podem apontar para o desenvolvimento de uma cultura científica e não apenas para a aquisição dos conceitos técnicos”, enfatizou ele.

Doutoranda em Biodiversidade e Saúde, Simone da Costa utilizou ferramentas de georreferenciamento para analisar a distribuição geográfica do inseto Lutzomia whitmani, apontado como principal vetor da leishmaniose tegumentar no Brasil. Na pesquisa, foram avaliadas seis áreas com grande incidência da doença. Os dados sobre a presença do vetor foram cruzados com informações sobre o tipo de cobertura vegetal predominante em cada região. O estudo apontou que os municípios com circulação de L. whitmani se concentram em Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Além disso, foi verificado que o vetor ocorre em praticamente todos os tipos de vegetação, com exceção das áreas de vegetação lenhosa oligotrófica dos pântanos e de acumulações arenosas. “A leishmaniose tegumentar é uma doença emergente em franca expansão territorial no país. Por isso, é fundamental entender as características dos circuitos espaciais de produção desse agravo”, declarou Simone.

Analisando mais de 2,6 mil sequências genéticas do vírus HIV coletadas no Brasil, Flávia Divino, mestranda em Biologia Computacional e Sistemas, identificou um padrão diferenciado de circulação do patógeno em alguns estados do Norte e do Nordeste. A pesquisa avaliou a ocorrência de duas linhagens virais, uma conhecida como HIV-1 B pandêmica e outra como HIV-1 B caribenha. Segundo a estudante, a existência das linhagens está ligada ao histórico de disseminação do vírus. Originário de macacos, o HIV começou a afetar seres humanos na África e chegou ao Caribe na década de 1960. Nesse período, enquanto algumas linhagens se estabeleceram em países da região, uma cepa alcançou os Estados Unidos e se espalhou pelo mundo. “Na maioria dos estados brasileiros, os vírus da linhagem caribenha respondem por menos de 10% das infecções. No entanto, no Amazonas e no Maranhão, esse percentual chega a 14% e em Roraima, alcança 41%. O padrão molecular único desses estados provavelmente indica uma relação epidemiológica mais forte com países do Caribe”, observou Flávia.

Reportagem: Maíra Menezes
Edição: Raquel Aguiar
26/11/2016
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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