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Coleções biológicas: oportunidades e desafios para pesquisa e inovação

Simpósio de Pesquisa e Inovação destacou potencial dos acervos para a biotecnologia, discutindo estratégias e entraves do cenário nacional

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Considerado um país megadiverso, o Brasil possui entre 13% e 20% da biodiversidade do planeta, porém responde por menos de 2% do mercado de biotecnologia mundial. Acervos que guardam amostras de organismos fósseis ou atuais, as coleções biológicas são uma peça chave para mudar esse cenário. O tema foi discutido nesta quarta-feira, 29/03, no terceiro e último dia do III Simpósio de Pesquisa e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Na palestra ‘Coleções biológicas na interface do desenvolvimento científico e tecnológico’, a pesquisadora do IOC, Claude Pirmez, destacou as oportunidades de pesquisa e inovação trazidas pela investigação do patrimônio biológico nacional e elencou os desafios que precisam ser vencidos para transformar esse potencial em realidade. A sessão foi coordenada pelo pesquisador Marcelo Pelajo, chefe do Laboratório de Patologia do IOC e curador da Coleção de Febre Amarela.

“Estima-se que o total de microrganismos no planeta seja maior do que o número de estrelas nas galáxias do universo. Essa comparação mostra o tamanho do desafio que temos pela frente e, ao mesmo tempo, a dimensão e o poder das coleções biológicas”, afirmou Claude. Enfatizando a relevância do tema para a saúde, a pesquisadora lembrou que mais da metade dos 150 medicamentos mais receitados atualmente é derivada da biodiversidade. Com relação aos fármacos mais modernos, produzidos a partir da biotecnologia, o valor de mercado dos produtos alcança entre US$ 75 bilhões e US$ 150 bilhões. No Brasil, segundo a especialista, os medicamentos de base biotecnológica representam 2% das compras farmacêuticas do Ministério da Saúde, mas, pelo alto valor agregado, consomem 41% do orçamento.

Foto: Gutemberg Brito

Claude Pirmez e Marcelo Pelajo ressaltaram a importância das coleções biológicas como patrimônio da humanidade com imenso potencial para o desenvolvimento científico e tecnológico

Da conservação à inovação
Segundo levantamento da Federação Mundial de Coleções de Culturas (WFCC, na sigla em inglês), o Brasil possui 71 coleções microbiológicas, contabilizando mais de cem mil culturas, o que coloca o país em sexto lugar no ranking mundial. Na Fiocruz, dos 17 acervos de microrganismos, 12 estão sob a guarda do IOC. Enquanto preservam uma herança para as futuras gerações, com espécies ameaçadas ou que não existem mais, por exemplo, as coleções prestam serviços fundamentais para a pesquisa científica. Os acervos facilitam o acesso às amostras da biodiversidade, evitando a necessidade de coletas e isolamentos sucessivos. Além disso, garantem a manutenção de linhagens de referência dos microrganismos, fornecendo material biológico autenticado e informações associadas, o que é fundamental para a continuidade dos estudos.

“O Brasil possui um grande potencial a partir das suas coleções biológicas, mas perde competitividade por diversos fatores, incluindo deficiências de infraestrutura e barreiras técnicas sanitárias e ambientais”, ponderou Claude. Uma vez que a maioria das coleções biológicas é mantida por universidades e órgãos governamentais, a pesquisadora ressaltou ainda a necessidade de aproximar a academia e a indústria. “Em geral, as perspectivas e os indicadores dos mundos acadêmico e empresarial são diversos, e essa interação é fundamental para a inovação e a competitividade na área da biotecnologia”, disse.

Foto: Gutemberg Brito

Debate abordou questões que podem dificultar o avanço brasileiro na área da biotecnologia, incluindo carências de infraestrutura e aspectos legais

Estratégias e desafios
Para adequar a infraestrutura do país às necessidades da pesquisa e da inovação, foi proposta a criação da Rede Brasileira de Centros de Recursos Biológicos (Rede CRB-Br). Segundo Claude, a implantação de CRBs visa atender à demanda por material autenticado e certificado para o avanço da biotecnologia. “Mesmo no cenário internacional, não existem muitos CRBs, pois a estrutura necessária é complexa e os centros têm que ser acreditados. O objetivo é que eles reúnam coleções com amostras de interesse para aplicações de pesquisa e desenvolvimento, atendendo aos requisitos nacionais e internacionais de segurança e rastreabilidade”, esclarece. A implantação de um CRB na área da saúde é capitaneada pela Fiocruz, que é uma das uma das seis instituições com representação no comitê científico da Rede CRB-Br.

Entre os temas debatidos pelos cientistas após a palestra, foi destacada a falta de uma autoridade depositária, órgão responsável pela guarda de amostras associadas ao registro de patentes, no Brasil. Por esse motivo, os interessados em registrar patentes na área da biotecnologia precisam depositar as amostras biológicas em centros internacionais. Outro ponto realçado foram as restrições trazidas pelo decreto que regulamentou a Lei de Biodiversidade, que dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético brasileiro, o conhecimento tradicional associado e a repartição de benefícios. “A regulamentação destas questões é muito importante, mas precisamos avançar para que a legislação não impeça a realização de pesquisas e o avanço da biotecnologia no Brasil”, avaliou Claude. “As coleções biológicas são um patrimônio do povo brasileiro, que deve ser não apenas preservado, mas utilizado da melhor forma possível para trazer retorno para a população, conforme determina o Código Civil”, lembrou Marcelo Pelajo, coordenador da mesa.

Divulgação científica
Na segunda mesa do dia, a jornalista Luisa Massarani, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), apresentou a palestra ‘Divulgação científica: uma responsabilidade social do cientista’. Coordenada pela historiadora Cristina Araripe, da mesma unidade, a sessão abordou questões teóricas sobre a importância da popularização da ciência e dados coletados em pesquisas nacionais e internacionais sobre o engajamento de cientistas em atividades de divulgação e o relacionamento com a mídia.

Reportagem: Maíra Menezes
Edição: Vinícius Ferreira
30/03/2017
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