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Premiação das melhores teses do IOC

Doença de Chagas, hanseníase, Aids, leishmanioses, malária e infecção por helmintos de peixes estão entre os temas abordados pelos estudos vencedores do Prêmio Alexandre Peixoto

Há cinco anos, o Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto destaca a qualidade dos trabalhos desenvolvidos pelos mais novos doutores dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). As pesquisas escolhidas contemplaram temas de importância para a saúde pública, como hanseníase, doença de Chagas, leishmanioses e Aids [leia mais sobre cada trabalho ao longo da reportagem]. Integrada ao Centro de Estudos do IOC, a cerimônia de premiação, realizada no dia 29/09, encerrou as atividades da Semana da Pós-graduação Stricto sensu [clique aqui para acompanhar a cobertura do evento] durante sessão conjunta com o Núcleo de Estudos Avançados do IOC, que recebeu o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario Neto Borges, em atividade realizada em parceria com a Presidência da Fiocruz. “Temos um momento especial no Ensino do Instituto, após todo o sucesso alcançado na avaliação quadrienal da Capes recentemente e com o êxito da Semana da Pós-graduação, que concluímos justamente com a entrega do Prêmio Alexandre Peixoto. Considerando o conjunto dos premiados, temos uma síntese da relevância das pesquisas conduzidas por nossos estudantes, dedicados a temas relevantes da saúde pública. Felicitamos cada um dos alunos reconhecidos com a premiação e esperamos que essa seja uma marca importante em suas carreiras”, comentou Marcelo Alves Pinto, vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Os premiados de 2017 exibem as medalhas recebidas na cerimônia


“É muito gratificante receber um prêmio como este, resultado de quatro anos de muito trabalho, esforço e dedicação. Ficamos extremamente felizes em ver que o Instituto reconhece o nosso trabalho e valoriza a pesquisa desenvolvida no campo das doenças negligenciadas”, comemorou a recém-doutora Francisca Hildemagna, da Pós-graduação em Biologia Parasitária. “É sempre com muita alegria que recebemos a notícia da premiação de um aluno. O reconhecimento celebra todo um período de esforço, trabalho, estudo e o investimento que temos na ciência e na educação no nosso país. Temos uma responsabilidade muito grande, não só como docentes do Programa que representamos, mas diante do nosso papel na ciência brasileira e na casa que trabalhamos”, destacou a pesquisadora Maria de Nazaré Correia Soeiro, orientadora da tese desenvolvida por Francisca.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Ao lado de seus orientadores, os estudantes premiados confraternizaram com o diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite; Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz (foto do topo); e com os vice-diretores de Ensino, Informação e Comunicação e de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Instituto, Marcelo Alves Pinto e Jonas Perales


A iniciativa homenageia as contribuições do pesquisador Alexandre Peixoto à formação de novos pesquisadores - morto precocemente em 2013, na época em coordenava a Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular. Premiado por sua tese, Mauricio Lisboa Nobre lembra que seu primeiro contato com o Instituto se deu justamente ao participar de uma palestra sobre o pesquisador que dá nome à premiação. "Naquele momento eu vi como era grande a responsabilidade de participar de uma instituição como o IOC”, ressaltou Mauricio. Sua orientadora, a pesquisadora Euzenir Nunes Sarno, garante que a homenagem ao aluno foi extremamente merecida. "O trabalho desenvolvido a partir da integração entre a academia e a atenção básica de saúde do SUS é um grande achado no sentido de conhecer a transmissão da hanseníase em uma região do país”, ressaltou Euzenir.

Conheça os trabalhos premiados:

Hanseníase, desafio permanente
O Brasil é o segundo país no mundo no ranking de casos de hanseníase, atrás apenas da Índia. Na tese apresentada na Pós-graduação em Medicina Tropical, o recém-doutor Mauricio Lisboa Nobre, orientado pelas pesquisadoras Euzenir Nunes Sarno, do Laboratório de Hanseníase do IOC, e Selma Maria Jerônimo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, investigou a epidemiologia da doença no município de Mossoró, no Rio Grande do Norte. A localidade hiperendêmica concentra casos em áreas de rápida urbanização e de precárias condições de moradia. Causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, a hanseníase é uma doença diretamente relacionada a condições de pobreza, sendo reconhecida como uma doença negligenciada.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Mauricio recebeu a premiação das mãos do presidente do CNPq, Mario Moreira Neto (ao centro) e com os cumprimentos do diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, e da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima


A pesquisa constatou 18 novos casos da doença entre cerca de 1.300 escolares examinados (taxa de 1,3%). O dado é importante, na medida em que a infecção de crianças aponta para uma manutenção da transmissão da hanseníase. Acompanhando cerca de 300 pessoas com contato próximo com as 18 crianças diagnosticadas, entre amigos, familiares e professores, o estudo verificou que seis apresentaram diagnóstico positivo para a doença, com prováveis fontes de infecção exteriores ao ambiente domiciliar. A tese sugere estratégias para bloquear a transmissão da doença, incluindo a realização de busca ativa para detecção de casos (especialmente entre homens e idosos), o tratamento precoce e a reestruturação de ambientes favoráveis à propagação do agravo.

Aids e tabu na educação do campo
A representação social da Aids como um tabu social provoca impactos para o ensino de ciência e saúde no campo. É o que aponta o estudo desenvolvido pela recém-doutora Ana Paula Inacio Diório, da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde, sob orientação do pesquisador Marco Antônio Ferreira da Costa, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). A pesquisa realizada com monitores de Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) do interior da Bahia revelou que a abordagem da doença envolve medo e preconceito. A análise apontou dificuldades enfrentadas pelas instituições na busca por garantir uma educação capaz de contribuir para a formação e emancipação dos jovens do campo. O pano de fundo apontado pela tese é a precariedade na própria formação dos educadores, consequência de um déficit educacional histórico no campo brasileiro, bem como dificuldades financeiras enfrentadas pelas EFAs. Foi identificado que a representação da Aids como um tabu influencia diretamente na forma como o assunto é levado para a sala de aula, limitando as metodologias adotadas à mera reprodução de conteúdo disciplinar. O estudo aponta para a necessidade de formulação de práticas pedagógicas emancipatórias, que considerem demandas das comunidades camponesas, além de sugerir o aprofundamento de questões relacionadas à educação em saúde no campo. A representante dos alunos da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde, Rejane Castro, recebeu o prêmio o lugar de Ana Paula, que não pôde comparecer à cerimônia de entrega.

Riscos na mesa do jantar
Estima-se que cerca de 18 milhões de pessoas podem estar infectadas por helmintos parasitos de peixes. O aumento nesse número está relacionado ao consumo de pescado cru. A recém-doutora Juliana Novo Borges, formada pela Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde, avaliou os riscos associados à ingestão de peixe cru ou mal cozido. O trabalho foi orientado pela chefe do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC, Cláudia Portes Santos Silva, e co-orientado pelo professor Cláudio Lísias Mafra de Siqueira, da Universidade de Viçosa, em Minas Gerais. Parte da tese foi realizada na Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, através do Programa Ciência sem Fronteiras do CNPq.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Juliana investigou um tema relacionado à segurança alimentar no consumo de peixes crus


No estudo, larvas da família Heterophyidae, presentes em espécies muito comuns à mesa, como a tainha e o bacalhau, foram expostas a temperaturas extremas de aquecimento e congelamento (variando de 180°C a -80°C). Os testes demonstraram que, em geral, duas horas de incubação foram suficientes para inativar as larvas das espécies Ascocotyle (Phagicola) longa e Cryptocotyle lingua, que podem ficar alojadas no músculo dos peixes. Os resultados sugerem um risco moderado à saúde pública. Como conclusão, o estudo enfatiza a recomendação do consumo de peixes cozidos ou com congelamento prévio à ingestão na forma crua. O estudo também contou com a caracterização genética de helmintos, o que ajuda a esclarecer relações filogenéticas entre espécies próximas. Os dados poderão contribuir para a elaboração de novos métodos e ferramentas para a descrição de espécies, especialmente nas fases de larva.

Alternativas para a malária cerebral
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o mundo registrou 214 milhões de casos de malária em 2015 e 438 mil mortes em decorrência da doença. Pacientes com a forma mais grave podem apresentar malária cerebral, além de insuficiências respiratória e renal agudas, em consequência a uma resposta inflamatória sistêmica. Pesquisas indicam que agir sobre a resposta inflamatória, simultaneamente ao tratamento com o antimalárico, pode ser uma alternativa para pacientes com estas manifestações clínicas.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Tatiana investigou alternativas para minorar os danos da malária cerebral


A recém-doutora Tatiana Almeida Pádua, da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, investigou a ação de um receptor chamado FPR2/ALXR na resposta inflamatória e testou a administração de um mediador anti-inflamatório, lipoxina A4, que se liga ao receptor, com o objetivo de reduzir o potencial de danos ao organismo. Os testes foram realizados com dois grupos de camundongos, resistentes e suscetíveis à malária cerebral induzida pelo parasito Plasmodium berghei ANKA. O bloqueio do receptor FPR2/ALXR em animais resistentes à malária cerebral levou à formação de edema cerebral e ao acúmulo de linfócitos e hemácias com parasitos no cérebro dos animais. O tratamento com lipoxina A (LXA4) protegeu os animais da malária cerebral e reduziu o acúmulo de líquido nos pulmões (edema pulmonar). As evidências obtidas a partir do trabalho – orientado pelas pesquisadoras Maria das Graças Henriques e Mariana Conceição de Souza, do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) – podem abrir caminhos para a investigação de novos tratamentos clínicos.

Aliados para o tratamento da doença de Chagas
Agravo negligenciado, a doença de Chagas resulta numa das principais cardiopatias infecciosas que levam à morte. A terapia apresenta várias limitações, incluindo baixa eficácia na fase crônica (estágio tardio da doença), e altos níveis de toxicidade, o que torna necessária a identificação de novos medicamentos. A recém-doutora Francisca Hildemagna, da Pós-graduação em Biologia Parasitária, orientada pela chefe do Laboratório de Biologia Celular do IOC, Maria de Nazaré Correia Soeiro, investigou novas terapias contra a patologia causada pelo parasito Trypanosoma cruzi. Foram investigadas – caráter individual e combinado – moléculas chamadas arilimidamidas (AIAs), potentes agentes tripanocidas, e inibidores de enzimas envolvidas na biossíntese de ergosterol, que interferem na sobrevivência e na proliferação do protozoário T. cruzi.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Os resultados obtidos por Francisca apontam para potenciais alternativas para tratamento da doença de Chagas


Foi avaliada a eficácia na eliminação do parasito em estudos in vitro e in vivo. Os testes revelaram reduções na carga parasitária e aumento nos níveis de cura parasitológica com o uso da terapia combinada em camundongos. Os resultados apontam que o tratamento baseado na associação dos agentes permite a redução de doses e do tempo de exposição aos produtos, além de apresentar menores índices de toxicidade em relação ao tratamento disponível atualmente, minimizando a possível ocorrência de resistência a fármacos.

Desnutrição e leishmaniose visceral: somatório de danos
O estudo conduzido pela recém-doutora Monica Losada Barragan, da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, orientado pela pesquisadora Patricia Cuervo Escobar, do Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose do IOC, avaliou a relação entre a desnutrição e o desenvolvimento da forma mais grave da leishmaniose visceral. Foram analisados os impactos da infecção pelo parasito Leishmania infantum em camundongos submetidos a dois tipos de alimentação: dieta comum e dieta baixa em proteína. Os resultados demonstram que os animais que receberam dieta restrita em proteína, resultando em quadros de desnutrição moderada, apresentaram danos estruturais e no funcionamento dos órgãos relacionados à defesa do organismo.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Monica dedicou seu doutorado à geração de novas evidências sobre a associação entre desnutrição e leishmaniose visceral


Os animais desnutridos apresentaram carga parasitária significativamente superior em relação ao grupo controle, o que indica que a condição nutricional pode ser um fator capaz de acelerar o curso normal esperado para a doença. Além disso, o estudo indica que as desregulações causadas pela desnutrição podem induzir consequências imunológicas com potencial de contribuir para a manifestação da forma severa de leishmaniose visceral. Como as leishmanioses são relacionadas sobretudo a situações de pobreza, o agravamento associado à carência alimentar representa uma manifestação em que a sobreposição de vulnerabilidades sociais impacta sobre o desfecho clínico.

Ampliação da variedade de proteínas do organismo
A Proteogenômica é a área que atua na interface entre o genoma e o proteoma com o auxílio de tecnologias de espectrometria de massa (MS) e de sequenciamento de alta vazão de RNAs (RNA-Seq). Esta foi a abordagem escolhida pelo recém-doutor Raphael Tavares da Silva para a tese desenvolvida na Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas, orientado por Fabio Passetti, do Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática do IOC, e Nicole de Miranda Scherer, do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

O recém-doutor Raphael Tavares da Silva se dedicou ao tema da proteogenômica


O trabalho focou no processo molecular denominado splicing alternativo, no qual diferentes proteínas podem ser produzidas por um mesmo gene. Este processo tem a capacidade de ampliar a variedade de proteínas produzidas pelo organismo, podendo afetar aproximadamente 90% dos genes humanos. Utilizando dados de RNA-Seq, o aluno construiu diferentes repositórios proteicos voltados para a identificação de variantes de splicing alternativo no proteoma de diferentes linhagens celulares e em amostras de cérebro de homem e camundongo.

Sobre o Prêmio
O Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto foi criado para contemplar, anualmente, as melhores teses desenvolvidas por doutorandos dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC. A premiação é uma homenagem ao pesquisador Alexandre Peixoto, falecido precocemente em fevereiro 2013, quando coordenava o Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Celular e Molecular do IOC, como um reconhecimento por seu legado na formação de jovens pesquisadores e cientistas. O reconhecimento é oferecido, desde 2013, aos indicados ao Prêmio Capes de Teses e ao Prêmio Capes-Interfarma de Inovação e Pesquisa – as premiações mais importantes do país dedicadas a teses de doutorado. Clique aqui para conhecer os ganhadores das edições anteriores da premiação.

Reportagem: Lucas Rocha
Edição: Raquel Aguiar
29/09/2017
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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