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Para pesquisador do IOC, epidemia de tipo 4 de dengue no Brasil é provável, mas não deve ser muito grave

Com o início do verão, o país volta sua atenção para um problema que há anos desafia a saúde pública brasileira: a dengue. Nessa temporada, surge uma nova preocupação com  a possibilidade da chegada do vírus tipo 4 da doença ao Brasil. Mas será que essa variante do vírus é realmente uma ameaça? Segundo o pesquisador do Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz, Hermann Gonçalves Schatzmayr, responsável pelos isolamentos dos vírus da dengue no país em 1986 ( tipo 1), 1990 (tipo 2) e 2000 (tipo 3) e um dos maiores especialistas sobre a doença do Brasil, a situação não deve ser motivo de alarme para a população, apesar do risco da entrada do novo tipo de vírus.

Atualmente o vírus Den-4 não existe em território brasileiro, mas é registrado em países vizinhos, como a Colômbia e a Venezuela. Por isso, o pesquisador admite que a possibilidade do vírus chegar ao Brasil nos próximos anos é bastante real. “O tipo 4 já circula há vários anos na América do Sul, então sempre houve o risco de entrar no país”, explica. “Na verdade, em 1981 ele chegou a entrar, por curto prazo, em Boa Vista, mas foi controlado através do combate ao vetor.” Porém, segundo Hermann, isso pode voltar a acontecer em qualquer região do país. “As ligações com nossos vizinhos sul-americanos são diárias, há vôos de um lado para o outro”, explica. “Por isso, é impossível dizer quando o vírus vai entrar no Brasil ou mesmo se isso chegará a acontecer, uma vez que não ocorreu até hoje.”

 Gutemberg Brito

 

 Um dos maiores especialistas em dengue do país, o pesquisador do IOC Hermann Schatzmayr acredita que o vírus da dengue tipo 4 pode realmente entrar no Brasil, mas que isso não deveria causar tanto alarme na população 

Apesar da possibilidade real da chegada do novo tipo de vírus da dengue, Hermann tranqüiliza a população. “A diferença entre o tipo 4 e os outros é bem pequena, como a que existe entre 1 e 2”, explica. “São quatro tipos diferentes de vírus, com pequenas modificações, que produzem doenças praticamente idênticas.” A diferença mais importante, segundo ele, está na virulência de cada tipo e, nesse caso, o pesquisador afirma que o tipo 4 não se destaca dos demais. “A manifestação clínica é a mesma, mas ele não é o mais virulento”, afirma. “Assim como o 1 e o 2, o vírus tipo 4 pode levar a casos graves e até fatais, mas na média, o mais virulento é o tipo 3 que já circula no país.”

Os dados obtidos nos países que já convivem com o tipo 4 confirmam as palavras do pesquisador. “Na Venezuela e na Colômbia, por exemplo, observa-se há alguns casos graves relacionados a essa cepa, como também há dos tipos 1 e 2, mas nunca houve uma epidemia gravíssima com o tipo 4, como foi a do tipo 3 aqui no Brasil.” Hermann lembra, ainda, que fatores genéticos, variáveis entre cada indivíduo e ainda pouco conhecidos, também influenciam na resposta do organismo ao vírus e conseqüentemente, na gravidade da doença.

Não ser o mais virulento, no entanto, não impede que o vírus cause uma epidemia, caso chegue ao Brasil. Hermann explica que essa possibilidade é grande, porque a população não possui anticorpos contra essa cepa de dengue. “Principalmente se o tipo 4 entrar numa escala grande, vai provocar um grande número de casos no país”, adverte. “Porém, pela sua virulência, espera-se uma epidemia com muitos doentes, mas com poucos casos gravíssimos.”

 Gutemberg Brito

 

 O pesquisador do IOC afirma que, teoricamente, se ocorresse uma  epidemia do virus tipo 4 de dengue, ela se caracterizaria por muitos casos, mas com menos ocorrências graves do que as relacionadas com o tipo 3, por exemplo, o mais comum no Brasil.     

O pesquisador lembra que mais importante do que a preocupação com a entrada do vírus tipo 4 é o combate ao mosquito transmissor. Segundo dados do Ministério da Saúde, o último pico epidêmico no país ocorreu no ano de 2002 e em 2006 foram registrados cerca de 350 mil casos. Porém, apenas entre janeiro e setembro de 2007 já foram registrados quase 500 mil ocorrências da doença.

Desde o início do século os órgãos de saúde latino-americanos têm travado uma luta dura contra o vetor que transmite da doença, o mosquito Aedes aegypti, principalmente por ele também ser transmissor de febre amarela, hoje controlada. No Brasil e em diversos outros países da região, o mosquito chegou a ser erradicado nas primeiras décadas do século passado, porém sua grande capacidade de adaptação permitiu que ele sobrevivesse em outras localidades do continente e voltasse a se disseminar. Hoje, segundo o Ministério da Saúde, são registrados três tipos de vírus da dengue no país, sendo que o tipo 3 é o mais comum (corresponde a 79% das amostras  isoladas em 2007). “O tipo 3 foi responsável pela maior epidemia já registrada no país, em 2002”, conta Hermann. “Foram quase 800 mil casos registrados, principalmente no Rio de Janeiro, 91 deles fatais.”

O Ministério da Saúde recomenda que a população procure logo ajuda médica ao primeiro sinal dos sintomas de dengue: febre, dor no corpo, dor abdominal, dor nos olhos, tonturas, vômitos, manchas na pele. A doença pode evoluir em algumas horas para uma forma mais grave, o dengue hemorrágico, e é fundamental que o diagnóstico e o início do tratamento, se necessário, aconteçam rapidamente. O combate à doença se dá basicamente pelo combate ao mosquito, através de medidas simples, que devem ser adotadas por toda a população, como armazenar garrafas com a boca para baixo, não estocar pneus em áreas descobertas, não acumular água em lajes ou calhas e cobrir bem tonéis e caixas d’água.

Marcelo Garcia


 

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