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30 anos de contribuições para a formação científica

Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular colhe frutos do investimento na qualidade da formação de jovens pesquisadores. Alunos, docentes e pesquisadores participaram do evento comemorativo realizado nos dias 25 e 26 de abril

Mais de 1,2 mil mestres e doutores formados. 13 linhas de pesquisa. Conceito 7 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Números expressivos traduzem a dimensão do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia e Celular e Molecular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que completa 30 anos em 2019. O evento comemorativo realizado nos dias 25 e 26 de abril, na Fiocruz, no Rio de Janeiro, reuniu alunos, docentes, egressos e pesquisadores que fazem parte da história do Ensino. A programação contou com mesas-redondas sobre temas de impacto na área, palestras com a participação de ex-alunos e debates com a participação da atual coordenação e de membros de gestões anteriores.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Alunos, docentes, egressos e pesquisadores celebraram os 30 anos da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC (clique para ampliar)


Criada em 1989, a Pós-graduação já formou mais de 700 mestres e 500 doutores qualificados para atuar em atividades de ensino, pesquisa e produção, nas áreas de biologia celular e molecular, farmacologia e imunologia. Entre as principais graduações de origem dos alunos, estão os cursos de ciências da saúde, incluindo ciências biológicas, biomedicina, farmácia, química, medicina e medicina veterinária.

Na cerimônia de abertura, a coordenadora da Pós-graduação, Leila de Mendonça Lima, realizou uma breve apresentação sobre as origens do Programa, destacando uma imagem histórica: um fragmento do documento submetido à Avaliação de Propostas de Cursos Novos (APCN) da Capes. O texto pontuava, entre os objetivos da Pós-graduação, “a formação de recursos humanos de alto nível científico, competente, criativo, criador e gerador de novas idéias na área de pesquisa, e pessoal apto para planejar e desenvolver novas metodologias e novos produtos, na área de Biotecnologia”. Segundo Leila, os objetivos alçados à época permanecem atuais, em especial, a busca permanente pela qualidade. Nesse sentido, ela destacou a importância da conquista e manutenção, pelo Programa, do conceito 7, pontuação máxima na avaliação da CAPES, o que, indica desempenho equivalente a padrões internacionais de excelência. “Acreditamos que este desempenho reflete não só o comprometimento e dedicação dos coordenadores e comissões de pós-graduação que estiveram à frente do Programa nos últimos anos, mas também o forte suporte institucional, através das diferentes instâncias ligadas ao Ensino na Fiocruz. Este desempenho resulta fundamentalmente da excelência do conjunto dos quadros de docentes e discentes e do apoio essencial da Secretaria Acadêmica”, ressaltou a pesquisadora.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Coordenadora da Pós, Leila de Mendonça Lima ressaltou a importância para a ciência brasileira do investimento na formação de mestres e doutores qualificados


O diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, frisou a importância da Pós para o desenvolvimento técnico e científico no Brasil. “O meu primeiro aluno de doutorado é egresso da Pós em Biologia Celular e Molecular. Formado em 1996, Amauri Alfieri hoje atua como pró-reitor da Universidade Estadual de Londrina. Celebrar a marca de 30 anos é muito importante, em especial, no momento difícil de restrições orçamentárias na área de ciência e tecnologia. Temos que ter consciência da importância da mobilização nesse momento para que continuemos a formar recursos humanos de qualidade”, destacou. “Momentos como este reforçam valores fundamentais para o desenvolvimento científico, como qualidade, criatividade, independência e senso crítico”, complementou a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

O diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, chamou atenção para a mobilização contra as restrições orçamentárias na área de ciência e tecnologia


A mesa de abertura também contou com a participação do representante discente, Samuel Horita. “A BCM contribui não somente para o contexto científico do Brasil, mas também para países vizinhos menos desenvolvidos. A comemoração de 30 anos de uma Pós que tem a nota 7 junto à Capes em um país em desenvolvimento é motivo de orgulho. Estamos celebrando uma pós-graduação que não é uma orquídea pendurada numa árvore com água à vontade, mas sim uma flor de lótus que precisa renascer o tempo todo nesse país com tanta dificuldade”, ponderou.

Foco nas pesquisas do dia a dia
Discussões sobre estudos na área da biologia celular e molecular foram destaques do primeiro dia de atividades. A mesa redonda “Inflamação, microbiota e infecção” contou com a participação do professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Teixeira. O pesquisador estuda mecanismos que controlam e solucionam a resposta inflamatória, assim como mediadores e células envolvidos nesse processo. Em muitos casos, a inflamação é benéfica e protege o organismo contra agentes nocivos, porém, quando descontrolada pode levar a lesões teciduais. A mesa contou com a participação dos pesquisadores e docentes da Pós-graduação, Marco Aurélio Martins, chefe do Laboratório de Inflamação do IOC, e Luis Caetano Martha Antunes, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz).

Fotos: Gutemberg Brito e Josué Damacena | Arte: Jefferson Mendes/IOC/Fiocruz

Os pesquisadores Mauro Teixeira, da UFMG, e Marin van Heel, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, apresentaram estudos na área


Já a mesa-redonda “The Slow ‘Resolution Revolution’ in Cryogenic Electron Microscopy” recebeu o pesquisador Marin van Heel, do Laboratório Nacional de Nanotecnologia do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNNano/CNPEM). O biofísico holandês lidera estudos sobre a técnica da microscopia crioeletrônica, que permite visualizar moléculas em estado de solução e acompanhar seu desenvolvimento de forma tridimensional. Também participaram da atividade os egressos da Pós e pesquisadores Rubem Menna Barreto, do Laboratório de Biologia Celular do IOC, e Maurício Magalhães de Paiva, do Instituto Nacional de Tecnologia (INT).

Os egressos em ação
Os caminhos e perspectivas dos egressos da Pós-graduação nortearam as discussões do segundo dia do evento. Em atividade integrada ao Centro de Estudos do IOC, o encontro reuniu estudantes que passaram pela Pós-graduação em diferentes períodos nos últimos anos. O debate foi conduzido pela pesquisadora Solange Lisboa de Castro, do Laboratório de Biologia Celular do IOC. Primeira egressa de doutorado da Pós e pesquisadora do Instituto há 43 anos, Solange destacou momentos importantes da trajetória científica que teve início na graduação em química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Tenho muito orgulho de ter participado da reestruturação do regimento interno, fui representante de categoria, participei do plano de cargos e salários e fui membro da Diretoria da Asfoc. Também tive a oportunidade de atuar na divulgação científica, com Ennio Candotti, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e contribuir para a criação do Espaço Ciência Viva”, lembrou.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

A atuação dos egressos da Pós-graduação foi destaque das discussões do segundo dia do evento


Na ocasião, a pesquisadora Leila Mendonça apresentou um panorama da Pós-graduação no Brasil e destacou a importância das plataformas Sucupira e Lattes para o acompanhamento dos egressos. “A Biologia Celular e Molecular conta com 1.222 egressos: 717 mestres e 505 doutores. Hoje, o principal mecanismo disponível para o monitoramento das atividades dos formados é o currículo Lattes. No balanço realizado com os doutores, verificamos que 78% mantém o perfil atualizado, o que indica a continuidade da atuação na área da pesquisa científica”, pontuou.

Ainda no contexto da trajetória científica, a professora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ), Ana Cristina Bahia Nascimento lembrou as dificuldades de seu projeto de doutorado, que abordou a infecção do mosquito Anopheles aquasalis pelo parasito Plasmodium vivax, causador da malária. “Conseguimos resultados importantes relacionados à resposta imune do Anopheles”, comentou Ana Cristina, que defendeu a tese em 2010 e prosseguiu com estudos sobre a interação entre parasitos e vetores no pós-doutorado na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e no IBCCF/UFRJ.

A atual coordenadora da Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas IOC, Ana Carolina Ramos Guimarães, ressaltou a importância da Biologia Celular e Molecular para a sua carreira e o seu campo de pesquisa. “Em 2003, a BCM criou uma área de concentração em bioinformática. Graças a isso, pude ter uma formação sólida no campo e foi possível a criação da PGBCS, em 2007”, declarou Ana Carolina, que se tornou pesquisadora do Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática do IOC logo após concluir o doutorado, em 2010.

Primeira bióloga a ocupar o posto de gerente médico-científico de imunoinflamatórios da farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK), Flávia Rachel Moreira Lamarão entrou na empresa como coordenadora de publicações científicas da América Latina, na área de vacinas. Também foi coordenadora de informação médica e coordenadora de evidência científica da região. “Ocupar a vaga de gerente médico-científico, que era uma seara de médicos, foi possível pela formação e pelo reconhecimento da Pós-graduação”, disse Flávia, que também defendeu o doutorado em 2010.

Foto: Gutemberg Brito | Arte: Jefferson Mendes/IOC/Fiocruz

Egressas da Pós-graduação, Ana Cristina Bahia Nascimento, Ana Carolina Ramos Guimarães e Flávia Rachel Moreira Lamarão ressaltaram a importância da formação para o desenvolvimento de suas carreiras


Os egressos Emiliano de Oliveira Barreto, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e Gabriel Eduardo Melim Ferreira, pesquisador da Fiocruz Rondônia, abordaram as possibilidades de atuação no Nordeste e Norte do país. Além da formação científica sólida, Emiliano destacou que os valores aprendidos e a rede de contatos estabelecida na Biologia Celular e Molecular contribuíram para enfrentar os desafios encontrados em Maceió. “Quando cheguei à Ufal, em 2006, não havia infraestrutura para pesquisa. Ao longo de 13 anos, conseguimos montar um parque de equipamento que nos permite estudar biologia e processos inflamatórios em dimensões moleculares, celulares e teciduais”, contou Emiliano. Desde 2015 em Rondônia, Gabriel considerou que, além das oportunidades para fixação profissional, a atuação em regiões menos favorecidas do país traz alto potencial para aplicação do conhecimento adquirido na Pós-graduação. “Comumente, vemos muitas pessoas de outros estados vindo buscar a formação de excelência da BCM. Mas pensando na redução das inequidades regionais, nossa atuação como pesquisadores e docentes é muito importante”, pontuou Gabriel.

Dois meses após defender sua tese, Roberto Rodrigues Ferreira discutiu os desafios dos pós-graduandos e recém-doutores. Considerando o cenário de crise econômica e cortes nos investimentos em ciência e tecnologia no país, ele incentivou os colegas a buscar oportunidades para expandir a formação em cursos internacionais, que oferecem bolsas para brasileiros. “Estamos em uma instituição de ponta, em uma Pós de excelência. Isso não é por sorte. Cada um lutou pra conquistar seu espaço. Temos que acreditar que pode e vai dar certo”, afirmou Roberto, que atualmente realiza pós-doutorado no Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC.

Foto: Gutemberg Brito | Arte: Jefferson Mendes/IOC/Fiocruz

Os egressos Emiliano de Oliveira Barreto, Gabriel Eduardo Melim Ferreira e Roberto Rodrigues Ferreira abordaram possibilidades de atuação em pesquisa após a formação


O debate após as palestras foi conduzido pelos representantes discentes da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, Samuel Horita, Lia Gonçalves Pinho e Yuli Maia de Souza. Os questionamentos abordaram os desafios das mulheres na ciência, o exercício profissional em instituições fora do eixo Rio-São Paulo, as competências necessárias para trabalhar no setor privado e a motivação para atuar na pesquisa científica.

Passado e futuro
Uma mesa com participação de ex-coordenadores e da atual coordenadora da Biologia Celular e Molecular encerrou o evento de celebração pelos 30 anos do curso. Primeiro coordenador, em 1989, Wilson Savino recordou que o alto nível da Pós-graduação foi uma característica reconhecida desde o início. “Visitamos diversos programas pelo Brasil e selecionamos os primeiros orientadores com apoio de consultores ad hoc. Neste caso, a Capes aquiesceu que o mestrado e o doutorado fossem iniciados simultaneamente”, contou Savino.

Samuel Goldenberg falou sobre o desafio de buscar a nota 6 da Capes, em 1997. “Foi essa experiência que me preparou para sair do IOC e iniciar um empreendimento no Sul, que foi a instalação do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná)”, comentou. À frente da Pós-graduação em 2001, Pedro Cabello ressaltou que a atuação dos egressos reflete a qualidade da pós-graduação. “Um bom professor é aquele que deixa que seus alunos sejam superiores a ele. Hoje fiquei emocionado com as apresentações dos egressos, ao ver que essa Pós está formando novos pesquisadores superiores a nós”, comemorou.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Debate com participação de ex-coordenadores e da atual coordenadora da Biologia Celular e Molecular encerrou as atividades


Coordenadora do curso em 2004, Elisa Cupolillo enviou uma carta para ser lida no evento. “Assumi a coordenação quando a Capes estava remodelando as avaliações e logo após, o conceito do curso caiu de 6 para 5. Reconquistamos a nota e fiquei muito feliz quando, depois, mantivemos o conceito 7, em nosso lugar de excelência no ensino”, recordou. Coordenador na época da celebração de 20 anos do Programa, Milton Ozório Morais exaltou as conquistas dos últimos dez anos. “Algumas teses defendidas foram premiadas, outras vêm subsidiando notas técnicas do Ministério da Saúde. Isso tem grande significado”, afirmou Milton.

À frente da Pós-graduação há seis anos, Leila Mendonça lembrou o ex-coordenador Alexandre Peixoto, que faleceu precocemente em 2013. “Tive o privilégio de suceder Alexandre, que deixou um enorme vazio, saudade e inspiração”, disse ela. A coordenadora destacou a atuação do curso na formação de cientistas em diferentes regiões do país e no exterior. “Além de Moçambique e Argentina, participamos de cursos no Amazonas, Acre e Ceará. Em agosto, vamos começar também em Rondônia. Esse esforço de solidariedade começou bem antes de mim e tenho me empenhado bastante, porque não só damos, como recebemos muito nessas ações”, afirmou a pesquisadora, que foi homenageada pela Comissão de Pós-graduação do Programa de Biologia Celular e Molecular ao final do evento.

Reportagem: Lucas Rocha e Maíra Menezes
Edição: Vinicius Ferreira
30/04/2019
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