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Em defesa do fazer científico

Primeiro dia da Semana de Pós do IOC contou com debates sobre ciência aberta, o papel da mulher na pesquisa e reinvindicação contra o corte de bolsas. As atividades acontecem até sexta-feira, 13. Confira a programação

O posicionamento em defesa da Educação e da Ciência para a sociedade brasileira deu tom ao início da edição 2019 da Semana da Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), um dos eventos mais tradicionais do Instituto. Organizada pela Vice-direção de Ensino, Informação e Comunicação em parceria com pós-graduandos, a atividade, realizada anualmente, estimula a discussão em torno de temas que tangenciam a situação política do estudante de pós-graduação no IOC e no país. A Jornada Jovens Talentos e o 11º Fórum de Integração dos Alunos de Pós-graduação do IOC estão entre os destaques da programação. As atividades acontecem até sexta-feira (13). Confira a programação.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

“Mesmo com todo esse contingenciamento no fazer científico, temos motivos para comemorar: nos destacamos, mais um ano, em uma importante premiação ligada ao Ensino, o Prêmio Capes. Essa é a melhor resposta diante dos cortes de bolsas”, frisou o diretor do IOC, José Paulo Gagliardi


Durante a cerimônia de abertura, realizada no dia 09 de setembro, o diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, agradeceu a todos os estudantes e profissionais envolvidos na organização do evento, que, segundo ele, acontece no momento em que o Instituto, diante do bloqueio de novas bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), anunciado pelo Governo Federal, necessita reafirmar seu compromisso com a formação de recursos humano de qualidade para a sociedade brasileira nas áreas da Ciência e da Saúde. “Mesmo com todo esse contingenciamento no fazer científico, temos motivos para comemorar: nos destacamos, mais um ano, em uma importante premiação ligada ao Ensino, o Prêmio Capes. Essa é a melhor resposta diante dos cortes de bolsas”, comentou.

A coordenadora da Escola de Governo Fiocruz, Isabella Delgado, também presente à cerimônia, apoiou o discurso de José Paulo. “Estamos vivenciando um momento de crescente intolerância e, por isso, precisamos de resiliência para atravessá-lo, pois, desta forma, sairemos mais fortes”, acrescentou.

Também estiveram presentes na abertura do evento o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, Marcelo Alves Pinto, e o representante discente do Instituto e membro da comissão organizadora, João Paulo Sales. “Convocamos os presentes a participarem de um ato contra o sucateamento da educação e da ciência no Brasil. Caminharemos até o Castelo Mourisco e, em seguida, seguiremos para a portaria principal do campus da Fiocruz, em protesto”, chamou o representante discente para o ato "Contra o fim da educação pública e da ciência no Brasil", iniciativa organizada pela representação discente do Instituto.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Ato organizado pelos estudantes chamou atenção para os sucessivos cortes de verbas da Capes que afetam diretamente as bolsas de pós-graduação por todo o país


Ciência aberta no centro da conversa
Após o ato, teve início a primeira atividade da programação: a roda de conversa sobre ciência aberta. Para abordar o assunto, foram convidados a representante da Coordenação de Informação e Comunicação da Fiocruz, Vanessa Arruda, e o editor-chefe da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Adeilton Brandão.

Em sua apresentação, Vanessa destacou o conceito de ciência aberta – com ênfase na prática de dados abertos – e quais são os benefícios deste novo modo de fazer ciência. “Acreditamos que, para a Fiocruz, essa prática seja a mais relevante, pois favorece a reprodutibilidade, a colaboração na pesquisa e inovação, o aumento da velocidade de circulação – sobretudo em situações de emergências de saúde pública – e o reuso de dados. Ela tem uma série de benefícios e a literatura mostra que, públicos como o que temos aqui, de jovens pesquisadores, são mais sensíveis a eles”, ressaltou, salientando que, na Fundação, o Grupo de Trabalho em Ciência Aberta (GTCA) está desenvolvendo as diretrizes para gestão, abertura e compartilhamento de dados para pesquisa, alinhadas às prioridades estratégicas da instituição e da sociedade brasileira.

Já Adeilton Brandão comparou a atual comunicação científica aos aspectos presentes na proposta de abertura de dados na pesquisa. De acordo com o editor da revista ‘Memórias’, o sistema tradicional de publicação de artigos ainda permanece fechado, lento e custoso, mas o cenário passa por um processo de transformação, graças, sobretudo, à entrada das tecnologias digitais no contexto. “No processo tradicional de revisão por pares, o editor tem maior poder para decidir quais artigos serão publicados ou não. Pouco a pouco, essa praxe vem cedendo espaço a um novo modo de fazer ciência, mais colaborativo e aberto, onde todo mundo pode assumir o papel do revisor e repercutir os resultados das pesquisas, seja entre pares ou junto à população em geral”, explicou.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Para a roda de conversa sobre Ciência Aberta, foram convidados a representante da Coordenação de Informação e Comunicação da Fiocruz, Vanessa Arruda, e o editor-chefe da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Adeilton Brandão


Mulheres na ciência
Das brincadeiras infantis à maternidade, questões que afastam as mulheres da carreira científica foram discutidas na mesa ‘Mulheres na Ciência’. Professora da Fundação Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e ganhadora da edição 2017 do Prêmio para Mulheres na Ciência, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Fundação L’Oreal, a neurocientista Pâmela Billig Mello Carpes abordou sua trajetória pessoal juntamente com dados nacionais e internacionais para debater o impacto do gênero no campo científico.

“Como neurocientista, posso dizer que existem diferenças entre os cérebros feminino e masculino, mas essas diferenças não são suficientes para justificar a maior presença dos homens em determinadas áreas, como as ciências e, em especial, as exatas”, afirmou a pesquisadora. “Na iniciação científica, a maior parte das bolsas vai para mulheres. Na pós-graduação, é a metade. Já nas bolsas de produtividade, o padrão se inverte e só 36% dos subsídios são atribuídos às mulheres. Há uma teoria chamada de ‘teto de vidro’: ninguém enxerga, mas ele impede as mulheres de subirem na carreira científica”, destacou.

Mostrando fotos da infância, Pâmela lembrou que as meninas costumam ganhar brinquedos relacionados à beleza e aos cuidados com filhos e casa, enquanto os meninos têm mais acesso a itens que permitem brincadeiras variadas, estimulando a criatividade. “Quando uma menina vai bem em matemática, ela recebe elogio pelo esforço. Quando um menino vai bem na mesma disciplina, recebe elogio pelo brilhantismo, por ser inteligente. Esses fatores influenciam nossos gostos por ciências, principalmente ciências exatas”, comentou.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

A neurocientista Pâmela Billig Mello Carpes abordou a sua trajetória pessoal juntamente com dados nacionais e internacionais para debater o impacto do gênero no campo científico


Formada em fisioterapia, com mestrado e doutorado em fisiologia, e bolsista de produtividade em pesquisa nível 1D do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Pâmela ressaltou a importância da visibilidade do trabalho das mulheres na ciência para atrair as jovens para o campo. “Quando escolhi a faculdade de fisioterapia, não sabia que podia ser cientista. Não conhecia cientistas brasileiros, muito menos mulheres. Só conhecia aqueles que aparecem nos livros: europeus, homens e brancos”, pontuou.

O impacto da maternidade na vida profissional foi outro tópico destacado pela neurocientista. Mãe de Vitor, de 14 anos, que nasceu quando ela estava no último ano da graduação, Pâmela integra o grupo ‘Parent in Science’, que busca entender as consequências da chegada dos filhos na carreira científica de mulheres e homens do Brasil.

Entre outros dados, ela citou números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontam que as mulheres dedicam, em média, 21 horas por semana aos cuidados domésticos e com os filhos, contra 11 horas dos homens. “A carreira científica não é uma carreira onde se fecha o computador às 17h e se abre só no dia seguinte. Quem tem mais afazeres extralaboratório tem menos tempo para revisar e submeter artigos, por exemplo”, ponderou.

A pesquisadora lembrou que a mobilização recente das cientistas obteve avanços, como o lançamento de editais de fomento que contemplam avaliação em período estendido para mulheres que passaram por licença maternidade. Para avançar ainda mais, Pâmela ressaltou a necessidade de valorizar a diversidade na ciência. “Precisamos mostrar que a diversidade é importante para a ciência, não apenas para as mulheres. Quanto mais diversa a equipe, melhor é a ciência, com mais inovação e maior impacto das descobertas”, finalizou.

A experiência das alunas egressas completou os debates do primeiro dia da Semana de Pós-graduação do IOC. A mesa reuniu Paula Finamore Araújo, mestre pelo Programa de Biologia Celular e Molecular e doutoranda do curso de Biologia Parasitária, e Natasha Andressa Nogueira Jorge, mestre e doutora pelo Programa de Biologia Computacional e Sistemas. Atualmente, no pós-doutorado no Laboratório de Bioinformática da Universidade de Leipzig, na Alemanha, ela participou do debate por meio de videoconferência.

Reportagem: Kadu Cayres e Maíra Menezes
Edição: Vinicius Ferreira
11/09/2019
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