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Ciência e paciência, artigo de Eloi S. Garcia

No século XXI, falar do futuro implica em se referir a educação, formação, ciência e novas tecnologias. Ou seja, nosso futuro está ligado à formação em cultura científica e tecnológica de forma criativa, ampla e sólida.

Essa formação certamente envolve a realização da própria vocação científica: estar na vanguarda da pesquisa, abrir caminhos desconhecidos, pisar em terrenos virgens das hipóteses e experimentos e descobrir novas parcelas do saber.

E mais, todo conhecimento novo necessita de conceito novo, que deve ser encarado com o rigor e a precisão necessários para sua definição.

É como descobrir que força ou energia não tiveram o mesmo significado antes e depois de Galileu e Newton, nem calor antes e depois de Joule, nem espaço e tempo antes e depois de Einstein, nem DNA antes e depois de Watson e Crick.

Não resta dúvida de que a ciência é o instrumento mais poderoso de compreensão da civilização e um processo desenvolvido com a evolução do homem e sua busca para se preservar e resolver as dificuldades.

Deve-se ensinar os estudantes a ver os fenômenos científicos de maneira diferente, como ir mais além do que se conhece das idéias já existentes, ou de algumas hipóteses até pré-concebidas.

Ou seja, o ponto de partida da pesquisa não deve ser somente a objetividade de uma idéia e, sim, também acreditar veementemente em algo que pode até não existir, mas que vale a pena ser investigado.

A fascinação da ciência é a libertação dos dogmas, das crenças; é começar a ver tudo com olhos novos e originais. Isto é fazer ciência e ser cientista.

A ciência é uma atividade que exige muito amor, dedicação, tempo e perseverança. Fazer ciência exige muita paciência.

Temos que aprender que ela também é um produto da necessidade de transmitir idéias e saber que ela tem sua própria maneira de ser entendida.

E mais, a aprendizagem científica não deve ocorrer ou ser entendida como um conjunto de conhecimentos isolados, prontos e acabados, mas sim como um processo contínuo e integrado, que necessita de avanços constantes e que possui muitos erros, dúvidas e conflitos.

Formar um cientista é como produzir um vinho de qualidade que possui mais de 400 ingredientes distintos. Ao separar estes componentes, pode-se obter um bom destilado, mas isto não é mais o vinho!

A atividade científica não é simplesmente o resultado da aplicação feliz de um artifício técnico ou da boa utilização de uma tecnologia ou de um equipamento sofisticado. Tem que ser alguma coisa a mais.

A ciência é como uma obra de arte que é inimiga da explicação porque é um milagre – e se não revelar ser um milagre, um algo mais, torna-se coisa pequena.

Ela é capaz de detectar a inquietude da humanidade, suas entranhas, apesar de perante a complexidade do universo ser ainda primitiva, primária, inocente, ingênua, quase infantil, como já dizia Einstein.

Atrás de uma descoberta científica sempre existe uma idéia, e unida à ela sempre existe um sentimento, uma beleza, uma harmonia e muita paciência. Se a gente conseguir transmitir isso à sociedade, a ciência ocupará o lugar que merece e formará mais parte de nossa vida.

Artigo publicado originalmente em 14 de abril no Jornal da Ciência.

Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências.

16/04/08

Permitida a reprodução do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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