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Pesquisadores integram simpósio sobre dengue

Especialistas em dengue participaram nesta sexta-feira, 11 de abril, do II Simpósio Nacional sobre a Dengue. O evento, realizado pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica / Regional RJ, foi oportunidade para compartilhar conhecimentos sobre os diversos aspectos envolvidos na doença com um público formado por mais de 180 profissionais de saúde reunidos no auditório da Academia Nacional de Medicina. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC) integrou o simpósio com quatro representantes. O pesquisador Hermann Schatzmayr coordenou as palestras e debates na parte da tarde. Rita Nogueira, chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC, destacou aspectos relevantes do diagnóstico laboratorial da doença. Claire Kubelka, chefe do Laboratório de Imunologia Viral do Instituto apresentou a imunopatologia associada à dengue.

Na mesa abertura do evento, o pesquisador Hermann Schatzmayr, virologista do IOC que liderou a equipe responsável pelo isolamento dos sorotipos 1, 2 e 3 da dengue no Brasil, resumiu bem o sentimento que reunia os presentes. “Diante da difícil situação epidemiológica do dengue no país, com elevados índices de infestação pelo vetor em áreas urbanas, onde o controle encontra uma série de obstáculos, pode-se aceitar a existência de infecções por dengue”, afirmou. “O que é inaceitável são os casos fatais da doença. O acesso rápido aos serviços de saúde deve ser assegurado pelo poder público.”

Serviço de referência em dengue de Campos apresenta resultados
Luiz José de Souza, do Centro de Referência em Dengue do município de Campos, no Rio de Janeiro, alertou que os casos de choque por dengue hemorrágico estão acontecendo mais cedo: em alguns pacientes já no 3º ou 4º dia a partir dos primeiros sintomas. “Não pode haver demora na assistência. O paciente com sinais da forma mais grave de dengue precisa ser hidratado intravenosamente imediatamente para evitar a evolução do quadro”, destacou, acrescentando que atenção especial deve ser destinada a crianças e idosos. “Na epidemia de 2002, houve significativa mortalidade entre pacientes acima de 50 anos com patologias associadas, como hipertensão e diabetes.” 

 Gutemberg Brito

 

Luiz de Souza defendeu que a hidratação imediata é fundamental para a recuperação dos pacientes

O conferencista destacou a ocorrência de casos graves, envolvendo insuficiência hepática e problemas neurológicos, entre outros – tema que também foi destacado por outros especialistas durante o simpósio. Segundo Luiz José, o diagnóstico diferencial da doença é um obstáculo, já que a dengue pode apresentar sintomas semelhantes a diversas patologias, como leptospirose e outras infecções bacterianas. Outra dificuldade apontada pelo especialista reside na especificidade dos protocolos de testagem para diagnóstico da dengue. “Para algumas metodologias, encontramos casos de tumores hepáticos e de leptospirose com resultados falso-positivos para dengue”, afirmou. “A detecção da dengue a partir de antígenos, que estão presentes desde o início da infecção, é o grande avanço no diagnóstico da dengue.”

Maior gravidade de casos entre crianças até 15 anos é tendência nacional
Apresentando dados nacionais, Giovanini Coelho, coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD), mostrou que há um crescente aumento do numero de hospitalizações e maior ocorrência de formas graves em faixas etárias menores de 15 anos, fatos relacionados à circulação concomitante de três sorotipos do vírus no país. “O que está sendo observado agora no Rio de Janeiro é na verdade uma tendência nacional, observada nos últimos anos”, destacou.

 Gutemberg Brito

 

O coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue destacou que o número de municípios brasileiros onde há presença do A. aegypti duplicou entre 2000 e 2006

Giovanini destacou que a OMS fez em julho de 2007 um alerta mundial sobre a possibilidade de ocorrência de epidemias de dengue de grande magnitude em diversas partes do planeta. “De fato, 2007 foi o segundo pior ano de transmissão da dengue no país, sendo superado apenas por 2002”, avaliou.

O coordenador do PNCD afirmou que entre 1996 e 2006 houve uma duplicação do número de municípios onde há presença do vetor da dengue, mas, segundo o especialista, não se pode reduzir a questão da dengue ao controle do mosquito. “Um conjunto complexo de determinantes está associado à doença: o aumento da densidade populacional, sobretudo em áreas urbanas; problemas presentes nos centros urbanos que estão ligados à presença do Aedes aegypti, como a oferta regular de água e a maior produção de lixo urbano com destino inadequado; além da ampliação da mobilidade de pessoas e cargas, favorecendo a dispersão do vetor e dos sorotipos virais”, destacou.

Sobre a possibilidade de introdução de novos sorotipos do vírus, foi definitivo: “Manaus tem um fluxo intenso de 35 mil pessoas por mês com a Venezuela, onde circula o tipo 4. Portanto, a entrada do novo sorotipo é questão de tempo, mas até o momento ainda não foi constatada.”

Para diagnóstico, uso de múltiplas abordagens é fundamental
Rita Nogueira, chefe do Serviço de Referência Regional do Ministério da Saúde em dengue e febre amarela, apresentou questões relacionadas ao diagnóstico laboratorial da doença. Envolvida desde 1986 com o tema, Rita é autoridade científica no assunto. “Os métodos de diagnóstico para dengue foram estabelecidos gradualmente, em função das necessidades de maior rapidez e sensibilidade das técnicas”, avaliou.

 Gutemberg Brito

 

A especialista Rita Nogueira destacou a necessidade de combinar diversas técnicas de diagnóstico para a confirmação segura dos casos de dengue

“Hoje temos disponíveis diferentes abordagens, incluindo métodos sorológicos e moleculares, que formam um arsenal que permite confirmar a etiologia dos casos. É importante termos em mente que quanto maior o número de metodologias de diagnóstico disponíveis, maior a chance de confirmação do diagnóstico”, completou, indicando o Manual de Dengue do Ministério da Saúde como base para consultas sobre o diagnóstico da doença.
 
Rita chamou a atenção que o estado do Rio de Janeiro é muito importante na epidemiologia da dengue no Brasil, porque serviu como porta de entrada para os sorotipos 1, 2 e 3 do vírus, que se espalharam posteriormente no país. A especialista comentou também o papel estratégico do monitoramento dos sorotipos circulantes pelo Serviço de Referência. “Em 2002, verificamos que o DENV-3 predominou, deslocando outros sorotipos. Isso aconteceu no Rio de Janeiro e também em outros estados. Em abril de 2007 começamos a notar que a situação estava mudando: neste período, enquanto ainda havia uma franca predominância do DENV-3, fizemos a primeira detecção de vírus tipo 2,em um caso suspeito de dengue. No mês de março do mesmo ano, o vírus foi detectado no vetor.  No verão de 2008 a situação se inverteu, havendo a predominância do tipo 2 sobre o tipo 3. Foi também demonstrado o impacto da reemergência do DENV-2 para a população, em especial na faixa etária até 15 anos”, sintetizou.  

Sintomas alertam para gravidade de casos
Sônia Zagne, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFF), fez um alerta para que os profissionais de saúde estejam atentos aos sinais indicativos de agravamento dos casos de dengue. “Vômito intenso e continuado e fortes dores abdominais são importantes sinais de alerta do agravamento da doença”, destacou. A lista de fatores inclui ainda hepatomegalia dolorosa (inchaço do fígado acompanhado de dor), derrames cavitários, sangramentos importantes, hipotensão arterial e hipotensão postural (pressão baixa aferida tanto com o paciente sentado quanto de pé), taquicardia e aumento repentino de hematrócitos. No caso das crianças, a médica chamou atenção especial para agitação e/ou letargia e queda brusca de temperatura. “É fundamental iniciar a hidratação oral desde o início do tratamento. A própria população deve iniciar a hidratação associada ao uso de medicamentos para febre. A hidratação imediata e a atenção aos sinais de alerta podem modificar a evolução do caso”, afirmou.

 Gutemberg Brito

 

O público reuniu mais de 180 profissionais que atuam em diversas áreas da saúde

“Minha opinião é que a dengue veio para ficar. Não é uma doença exótica ou esporádica, como se pensou quando surgiram os primeiros casos. Temos que ficar atentos aos sinais de gravidade da doença para evitarmos aquelas mortes que poderiam ser evitadas pela hidratação a tempo do paciente”, afirmou.

Sônia destacou que os sintomas da dengue são bastante inespecíficos. A doença geralmente causa febre de início abrupto. A maioria dos pacientes relata dores intensas no corpo, muitas vezes na região lombar – justamente por isso a doença já foi chamada de febre do quebra ossos. Perda de apetite e náusea intensa e contínua também são comuns. A prostração característica da doença pode durar até de 1 a 2 meses para desaparecer. 

Estudos investigam como antecipar casos graves da dengue
A chefe do Laboratório de Imunologia Viral do IOC, Claire Kubleka, discutiu os esforços de pesquisa para desenvolver métodos que permitam antecipar se um caso de dengue vai evoluir com gravidade. “Investigamos a presença de moléculas no organismo que estão respondendo ao processo inflamatório por dengue. Estamos identificando aquelas que indicam o bom prognóstico do caso e também aquelas associadas a maior gravidade da doença”, resumiu.

Claire apresentou que, do ponto de vista científico, a genética é uma das possíveis explicações para a gravidade de casos. Assim, devido a características genéticas, alguns indivíduos estariam mais susceptíveis a desenvolver formas graves da dengue. Já segundo a teoria do enhacement, a infecção por sorotipos diferentes estaria associada a casos mais graves. Os anticorpos circulantes no organismo específicos para determinado sorotipo de dengue não seriam neutralizantes para outros sorotipos do vírus e facilitariam a entrada destes nas células. Os linfócitos T CD8+ também não promoveriam uma resposta citotóxica adequada ao novo sorotipo, gerando assim condições propícias para casos mais graves.

O evento contou ainda com o debate sobre o desenvolvimento de vacinas e sobre a ocorrência de casos em gestantes.

Raquel Aguiar
17/04/08

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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