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Estudo analisa as ondas de Covid-19 no Amazonas

Investigação genômica aponta que a emergência da doença no estado foi impulsionada pela persistência de linhagens endêmicas e o surgimento da variante P.1

Um estudo liderado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou uma abrangente investigação genômica do vírus SARS-CoV-2 no Amazonas, estado gravemente acometido pela emergência da Covid-19. No artigo, publicado na revista científica Nature Medicine, os especialistas avaliam a recorrente substituição de linhagens do novo coronavírus na região e reforçam a importância da implementação de uma vacinação generalizada combinada com medidas restritivas eficientes para reduzir a disseminação do vírus, tanto no âmbito nacional quanto no internacional.

A pesquisa, realizada no âmbito da Rede Genômica Fiocruz, identificou a prevalência de cinco linhagens no estado: B.1.1.28, B.1.195, B.1.1.33, P.1 e P.2. O achado tem como base o sequenciamento de 250 genomas do SARS-CoV-2 de vários municípios amazonenses, entre março de 2020 e janeiro de 2021. Os especialistas explicam que as sucessivas trocas de prevalência de linhagens foram impulsionadas por uma combinação complexa de alterações das medidas restritivas e de distanciamento social e o surgimento da variante de preocupação P.1.

“Entender os fatores que conduzem a emergência e a expansão de variantes de preocupação que abrigam várias mutações chaves no domínio receptor-obrigatório da proteína Spike é de importância crucial. Uma hipótese é que a emergência de variantes de preocupação resultou de uma grande mudança no ambiente seletivo, provavelmente imposta pela imunidade de rebanho parcial em regiões fortemente afetadas dentro das quais o SARS-CoV-2 estava evoluindo”, afirmam os autores no artigo.

O Amazonas vivenciou duas grandes ondas da Covid-19. A primeira ocorreu entre os meses de março e maio de 2020, sendo conduzida pela propagação da linhagem B.1.195. Com a queda do número de casos, houve também uma gradual substituição da dominância pela linhagem B.1.1.28, que permaneceu como a principal cepa em circulação até novembro daquele ano, um período considerado como “entre ondas”.

O segundo crescimento exponencial, entre o final de novembro de 2020 e janeiro de 2021, coincide com a emergência da variante de preocupação P.1. Esta se tornou predominante no estado em um ritmo ainda mais acelerado que as linhagens que a antecederam, levantando a suspeita de uma possível mutação que permitisse uma maior transmissibilidade.

“As intervenções implementadas no Amazonas em abril de 2020 foram suficientemente eficientes na redução do número básico de reprodução dos clados do SARS-CoV-2 prevalentes inicialmente. No entanto, foram ineficientes para manter a circulação do vírus sob controle, permitindo o estabelecimento e a persistência local de diversas linhagens virais e a subsequente emergência da variante de preocupação P.1 no final de novembro e início de dezembro de 2020. A falta de distanciamento social eficiente e outras medidas de mitigação provavelmente permitiram a transmissão repentina e acelerada da P.1”, salientam os especialistas.

O artigo chama atenção também para a disseminação interestadual das linhagens. “Encontramos quase nenhuma evidência de disseminação das primeiras linhagens locais amazônicas do SARS-CoV-2 fora do estado, apoiando que o Amazonas não foi um grande centro de disseminação viral no Brasil durante 2020. O aumento das viagens durante as comemorações do Natal e Ano Novo, combinado com o surgimento de uma variante de preocupação potencialmente mais transmissível, no entanto, mudou esse cenário, e a linhagem P.1 se espalhou rapidamente por vários estados brasileiros até março de 2021”, apontou.

O estudo é uma cooperação entre os Laboratórios de AIDS e Imunologia Molecular e de Vírus Respiratórios e do Sarampo, ambos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia); Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia); Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco); Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas; Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; Universidade do Estado do Amazonas; Hospital Adventista de Manaus; e a Universidade Federal do Espírito Santo.

Reportagem: Max Gomes
Edição: Vinicius Ferreira
27/05/2021
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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