Em alusão ao Dia Estadual de Conscientização, Mobilização e Combate à Hanseníase especialistas chamam atenção para o agravo e reforçam eficácia do tratamento
No Dia Estadual de Conscientização, Mobilização e Combate à Hanseníase, celebrado em 5 de agosto, pesquisadoras da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) destacam que a doença tem cura, e um novo estudo confirma a eficácia do tratamento. Baseada no acompanhamento de 713 pacientes atendidos ao longo de 20 anos, a pesquisa mostra que o retorno da infecção após a conclusão da terapia em 12 meses é extremamente raro, atingindo apenas uma a cada mil pessoas tratadas por ano. Maior e mais longo levantamento sobre o tema, o estudo foi realizado no Ambulatório Souza Araújo, mantido pelo Laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como serviço de referência nacional para a doença junto ao Ministério da Saúde.
Gutemberg Brito |
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O Ambulatório Souza Araújo atua no diagnóstico, tratamento e prevenção da hanseníase, com atendimento mediante encaminhamento médico. Na foto, atendimento realizado antes da pandemia. Atualmente, são seguidos protocolos para a Covid-19, incluindo uso de máscaras. |
“Os primeiros médicos me disseram que era alergia. Fui para a consulta achando que poderia ter um câncer de pele. O infectologista e o dermatologista do INI me disseram que era hanseníase. Eu já tinha ouvido falar da doença, mas nunca tinha me passado pela cabeça essa possibilidade”, conta o jovem.
Encaminhado para o Ambulatório Souza Araújo, ele iniciou a poliquimioterapia. Com inflamação em um nervo do braço, causando dormência na lateral da mão e perda de força, foi direcionado ainda para o Hospital Pedro Ernesto, onde realizou o tratamento da neurite.
“Está correndo tudo bem no tratamento e minha mão está melhorando. Acho que é muito importante se informar. Às vezes, a gente pensa que um problema de pele não é nada demais e pode ser uma coisa séria. Com a tecnologia que temos hoje em dia, é possível tratar as doenças”, ressalta.
Causada pelo Mycobacterium leprae, a hanseníase pode atingir a pele, as mucosas e os nervos. Se não for tratada a tempo, a doença pode deixar sequelas, como deformidades, perda de movimentos das mãos e dificuldade de caminhar. A terapia também é importante para interromper a transmissão do agravo, porque, logo após o começo do tratamento, os pacientes param de eliminar as bactérias em secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro (Clique aqui para saber mais sobre a doença).
Risco de reinfecção
As chamadas recidivas ocorrem quando pacientes que concluíram o tratamento da hanseníase apresentam novas lesões ou agravamento de lesões antigas, com aumento da quantidade de bactérias no organismo. “A volta das lesões pode ocorrer por bactérias latentes, que ficaram no organismo. Porém, o mais provável é por reinfecção, já que os pacientes são pessoas suscetíveis, que vivem em áreas com transmissão da doença, uma vez que o controle da hanseníase ainda não foi atingido”, esclarece Ximena.
Nos últimos anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem relatado aumento nas recidivas, que passaram de 2,8 mil em 2016 para 3,8 mil em 2019. Os dados incluem casos registrados após diferentes regimes de tratamento, contemplando tanto pacientes tratados com esquema multibacilar (indicado para pessoas que apresentam muitas lesões e grande número de bactérias no organismo) como com esquema paucibacilar (recomendado para pessoas que apresentam poucas lesões e baixo número de bactérias no organismo).
Para os pesquisadores, o aumento dos registros pode ser resultado de falhas em esquemas terapêuticos mais antigos, como a monoterapia, que aplicava apenas um antibiótico. Também pode ser atribuído a erros no diagnóstico, com pacientes com muitas lesões e alta carga bacilar recebendo esquema paucibacilar. Por fim, considerando o risco de reinfecção, é natural que o número de recidivas aumente com o passar do tempo, já que o número de pacientes acompanhados cresce.
A poliquimioterapia multibacilar de dose fixa em 12 meses é indicada desde 1998. O esquema terapêutico é baseado na administração mensal supervisionada de três antibióticos mais doses diárias autoadministradas de dois deles. A adoção desse esquema significou um avanço em relação ao regime anterior, que durava 24 meses, já queoo tempo de terapia mais curto melhora a adesão ao tratamento.
Confirmar a eficácia do esquema atual é considerado um passo importante para avançar em estudos sobre a possibilidade de redução do tempo de terapia. “Em ensaios clínicos randomizados, já foram observados bons resultados da terapia de 6 meses para infecções multibacilares. É uma mudança que simplificaria o tratamento e permitiria unificar os esquemas terapêuticos para todos os casos de hanseníase”, pondera a médica, lembrando que, desde julho deste ano, as pessoas com indicação de esquema paucibacilar passaram a ser tratadas com os mesmos antibióticos indicados para as infecções multibacilares, mantendo a duração de 6 meses.
Reportagem: Maíra Menezes
Edição: Vinicius Ferreira
04/08/2021
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