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Financiamento da ciência em pauta

Debate sobre baixo investimento em pesquisa no Brasil e assinatura de acordo para programa Inova IOC encerraram comemorações pelos 122 anos do Instituto

As atividades que encerraram as comemorações pelos 122 anos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), na tarde do dia 27 de maio, tiveram como tema o financiamento da pesquisa científica, contando com a participação de pesquisadores e parlamentares. Os desafios atuais e estruturais que resultam na baixa destinação de recursos para a ciência no orçamento da União foram discutidos na mesa-redonda ‘Financiamento da ciência e da saúde: situação e possibilidades’. Em seguida, ocorreu a assinatura do termo de cooperação entre o Instituto e a Fiocruz para criação do programa de fomento ‘Inova IOC – Redes de Pesquisa e Inovação’, viabilizado por uma emenda parlamentar. As atividades foram integradas ao Centro de Estudos do Instituto, tradicional fórum acadêmico de debates, que ocorreu excepcionalmente à tarde. Em formato híbrido, a sessão foi realizada no Auditório Emmanuel Dias, Pavilhão Arthur Neiva, no Campus da Fiocruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro, com transmissão ao vivo pelo Canal do IOC no Youtube .

Assista à íntegra da sessão:

A abertura da sessão foi realizada pelas coordenadoras do Centro de Estudos, Marli Lima e Rafaela Bruno. “O financiamento é um tema atual e preocupante para a nossa comunidade. Esperamos que os debates possam apontar perspectivas para a viabilidade dos projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do IOC e do Brasil”, ressaltou Marli.
A diretora do IOC, Tania Arujo-Jorge, atuou como mediadora da mesa-redonda ‘Financiamento da ciência e da saúde: situação e possibilidades’ e também enfatizou a relevância do tema. “Encerramos as atividades pelo aniversário do IOC – celebrado no dia 25 de maio, em data compartilhada com a Fiocruz – com o debate de um tema estruturante: como sustentar a ciência no contexto em que vivemos. Temos a alegria de contar com a participação de pessoas que têm sido relevantes para essa discussão na cena nacional”, declarou Tania.

A mesa-redonda reuniu a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader; o deputado federal relator do orçamento na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional, Hugo Leal; e o vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz, Mário Moreira. O coordenador do Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho da Fiocruz, Carlos Gadelha, atuou como debatedor.

O vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz chamou atenção para o protagonismo da ciência no enfrentamento da pandemia de Covid-19, por exemplo, no desenvolvimento de diagnósticos, vacinas e tratamentos. Mário Moreira ressaltou que a ciência e a tecnologia podem contribuir ainda mais para as condições de vida da população.

Gutemberg Brito

Mário Moreira apontou necessidade de recursos financeiros e humanos para a pesquisa na Fiocruz


Segundo ele, a carência de recursos faz com que seja necessário reduzir os investimentos na infraestrutura para custear as pesquisas. “Desde 2017, fazemos uma priorização absoluta da ciência, em ações ordinárias e com o lançamento de programas e editas importantes, como o Inova Fiocruz. Porém, os recursos alocados ainda estão aquém do que entendemos como necessário para a pesquisa de alto nível, que, ainda assim, fazemos”, disse Mário.

A redução do número de servidores da Fundação, devido às aposentadorias e à falta de concursos públicos, também foi destacada pelo vice-presidente. “A Fiocruz tem uma crise de reposição de quadros. Temos pleiteado junto ao governo, verbas para custeio e investimento na infraestrutura da pesquisa, assim como a relação de concursos para a contratação de pessoal”, afirmou Mário.

O vice-presidente lembrou ainda que, com o fim da emergência de saúde pública, deve voltar a vigorar o teto de gastos do orçamento, restringindo os investimentos públicos inclusive nas áreas da saúde e educação. “Durante a pandemia, houve alocação de recursos para o enfrentamento da Covid-19, mas agora voltamos para o limite do teto de gastos, que reduz muito a capacidade de investimento do governo. É inconcebível que o país consiga caminhar de forma positiva sob a égide desse limite”, concluiu.

A possibilidade de bloqueio de recursos do Fundo Nacional da Ciência e Tecnologia (FNDCT) pelo governo federal foi duramente criticada pela presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). A medida ainda não foi anunciada oficialmente, mas a ABC e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) receberam a informação de que o governo prepara um corte de R$ 2,5 bilhões do FNDCT e de R$ 426 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI).

Nader destacou que o FNDCT – fundo que é composto, na maior parte, por recursos arrecadados de empresas para financiar atividades de pesquisa e inovação – é atualmente a principal fonte de recursos para a ciência no país. Por esse motivo, uma forte mobilização foi realizada e, em 2021, o parlamento aprovou a Lei Complementar 177, proibindo o contingenciamento dos recursos.

“Dos R$ 9,1 bilhões do FNDCT, metade foi destinada pelo governo para empréstimo para o financiamento de pesquisas em empresas. A outra metade, cerca de R$ 4,5 bilhões, é o que sobra para a pesquisa e, agora, mais da metade desse valor deve ser bloqueada. Ou seja, não teremos recursos”, afirmou a cientista.

Gutemberg Brito

Palestrantes defenderam importância do investimento em ciência e saúde para o desenvolvimento do país


Citando documentos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, a presidente da ABC ressaltou a importância da ciência para o desenvolvimento econômico das nações, especialmente no contexto após a pandemia de Covid-19. “O Brasil vai na contramão do resto do mundo. Cortando investimentos em ciência, está cortando, consequentemente, o futuro da nação”, declarou Nader.

Ressaltando o esforço que foi realizado pelo Congresso Nacional para a garantia de recursos da ciência, com a Lei 177/2021, a presidente da ABC disse que a entidade estuda levar à Justiça a decisão do governo federal de bloquear os recursos. “Não foi fácil aprovar essa lei e agora essa decisão do parlamento está sendo menosprezada pelo governo federal. Ciência e educação não são gastos, são investimentos”, completou.

O deputado Hugo Leal chamou atenção para a composição geral dos gastos da União. Relator do Orçamento de 2022, aprovado em dezembro de 2021 pelo Congresso Nacional, ele mostrou que, do total de R$ 4,6 trilhões previstos, mais de 50% (cerca de R$ 2,5 trilhões) serão destinados a despesas financeiras, incluindo amortização da dívida pública, inversões financeiras e pagamentos de juros e encargos da dívida.

Excluindo os gastos obrigatórios, como as despesas correntes (que são os gastos com manutenção e funcionamento dos serviços públicos em geral) e as despesas com pessoal, a proposta orçamentária enviada pelo governo federal deixava R$ 25 bilhões para investimentos. Esse valor foi elevado para R$ 42 bilhões no Congresso Nacional, principalmente com a redução do valor previsto na reserva de contingência, que representa recursos guardados pelo governo para situações imprevistas.

“Foram acrescidos R$ 17 bilhões de investimento. Mas é um disparate quando se compara com o valor que será pago em juros e amortização da dívida. O mais importante é essa questão estrutural. Como resolver isso?”, questionou Leal.

O deputado mostrou ainda que o valor total do FNDCT, de R$ 9,1 bilhões, representa apenas 0,4% do Orçamento, o que equivale a 0,1% do Produto Interno Bruto – total de riquezas produzidas no país.

“Em 2022, deveríamos ter aumento para a ciência e tecnologia, porque o FNDCT não poderia ser contingenciado, mas o recurso está bloqueado. Precisamos trabalhar para que a Lei 177 de 2021 seja executada”, comentou Leal.

O relator do orçamento lembrou ainda que, após a alta em virtude da pandemia de Covid-19, os recursos para a saúde e para a Fiocruz sofreram redução em 2022. “Nos anos de 2020 e 2021, não houve teto de gastos para a saúde por causa da pandemia e tivemos investimentos, por exemplo, em leitos de UTI, já que havia grande carência no país”, declarou o parlamentar.

O lugar da ciência e da saúde no desenvolvimento do país foi destacado pelo coordenador do Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho da Fiocruz. “Produzir e inovar em saúde é a solução para o Brasil e para o nosso estado. A saúde é novo vetor de desenvolvimento do século XXI. É um setor econômico calcado em ciência e tecnologia. Se não tivermos essa visão, vamos continuar com baixo crescimento econômico”, afirmou Carlos Gadelha.

O pesquisador ressaltou o alto déficit comercial do Brasil no setor da saúde. Com a necessidade de adquirir grande número de produtos importados, o país acumulou déficit de US$ 20 bilhões durante a pandemia. “Esse valor representa um orçamento inteiro do Ministério da Saúde, com gasto no exterior, sem gerar emprego ou renda no Brasil e sem aproveitar o conhecimento gerado no país”, disse Gadelha.

Apesar dos dados negativos, o pesquisador encerrou sua fala com uma mensagem de esperança. “O contexto atual é preocupante, mas esses números podem melhorar se tivermos mais investimento em saúde, educação e ciência. O país que criou o SUS [Sistema Único de Saúde], que tem o sistema de ciência e tecnologia do Brasil e tem a Fiocruz não pode ser sem esperança”, declarou.

Fomento a redes de pesquisa do Instituto
O encerramento das atividades comemorativas foi marcado pela assinatura do termo de cooperação entre o Instituto e a Fiocruz para criação do Programa Inova IOC – Redes de Pesquisa e Inovação. Firmado entre o IOC e a Fiocruz, por meio da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS). “O Inova IOC selecionará propostas para projetos integrados com o objetivo de fortalecer as novas redes de pesquisa do IOC e promover a formação contínua de recursos humanos especializados”, comentou Tania Araujo-Jorge, diretora do IOC, enumerando, em seguida, as etapas de construção do programa. “O primeiro passo foi prospectar recursos e parceiros. Depois, com as parcerias já estabelecidas, elaboramos o termo de compromisso, com o suporte da nossa Câmara Técnica de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, e providenciamos a abertura do processo no Sistema Eletrônico de Informações (SEI). Após a assinatura do termo, vamos apresentar o programa no Conselho Deliberativo (CD-IOC) e, em seguida, anunciar o lançamento da primeira chamada interna, que está prevista para julho deste ano”, adiantou. [Acesse os slides da apresentação ‘Programa Inova IOC’.]

Gutemberg Brito

Assinatura do termo de cooperação referente ao Programa Inova IOC – Redes de Pesquisa e Inovação marcou encerramento de festividades


O documento foi assinado pela diretora do Instituto e pelo vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fundação, Marco Aurelio Krieger, na presença do deputado federal Paulo Ramos, responsável pela liberação da emenda parlamentar que viabiliza financeiramente a criação do programa. Com a vigência de 36 meses, podendo ser prorrogado, o termo proporcionará, por meio da implementação de projetos integrados, o suporte técnico-científico e acadêmico, visando aumentar a capacidade de geração de conhecimento e promovendo também a internacionalização da pesquisa do IOC.

“Depois da excelente mesa-redonda que debateu sobre a dificuldade de financiamento da Ciência e da Saúde, assinar esse termo de cooperação com o Instituto representa celebrar o fomento à formação das redes. Dentro dos limites orçamentários, a Vice-Presidência mantém o posicionamento de garantir a continuidade desta ação e, quem sabe, proporcionar avanços. Aproveito para agradecer, em nome de toda a instituição, ao deputado Paulo Ramos pelas emendas destinadas”, comentou Krieger.

Para Paulo Ramos, fazer parte das comemorações de 122 anos do IOC e da Fiocruz, reforça o sentimento de que nem tudo está perdido. “Vir aqui comemorar é perceber que, apesar do cenário crítico que a ciência brasileira vive, a Fiocruz continua desenvolvendo um trabalho em prol da vida. Que venham mais 122 anos para essa instituição que leva o nome da ciência brasileira para o mundo”, declarou o deputado.

Além dos citados, participaram da solenidade os vice-diretores de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC, Elmo Eduardo de Amaral e Luciana Garzoni. Na ocasião, apresentaram, em parceria com Tania Araujo-Jorge, o termo de referência do programa de organização das redes de pesquisa e inovação, o arcabouço teórico das discussões na Câmara Técnica de Pesquisa e os critérios para a formação das redes do Instituto.

“Como muitos editais de fomento já estão trabalhando o conceito de rede, isso motivou a criação do Inova IOC. O termo de referência do programa foi construído a partir de oficinas com a Diretoria do Instituto, que, em seguida, encaminhou o material oriundo dessas discussões para Câmara Técnica de Pesquisa”, contou Elmo, acrescentando que durante as reuniões sobre o tema também foram definidos os critérios para a formação de redes do IOC. Contemporaneidade do tema na agenda de pesquisa da Fiocruz e do Ministério da Saúde e o potencial de constituição de vitrines de inovação foram alguns dos parâmetros apresentados por ele.

Em complemento, a vice-diretora adjunta da pasta, Luciana Garzoni, destacou que o Inova IOC é fruto da necessidade de retenção de doutores após a formação no IOC e de indução do trabalho em redes de cooperação em pesquisa e inovação. “A ideia de juntar o Instituto com a Vice-Presidência de Inovação para a criação do Inova IOC vem da experiência de ações semelhantes junto a outras unidades da Fundação, cujo caráter estratégico viabiliza a estruturação do Programa”, contou.

Reportagem: Kadu Cayres e Maíra Menezes
Edição: Raquel Aguiar
30/05/2022
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