Capacitação integrada da OPAS, Ministério da Saúde e Fiocruz visa otimizar a vigilância na região das Américas
Nos dias 9 e 10 de junho, profissionais de sete países da América Latina participaram, no campus da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, de treinamento em detecção e diagnóstico laboratorial do vírus monkeypox (MPXV). A capacitação foi resultado da parceria entre a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o Ministério da Saúde e a Fiocruz. A atividade foi ministrada pelo Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).Endêmica na África, a doença registra seu maior surto já visto fora do continente. De 13 de maio a 8 de junho, foram confirmados 1.186 casos, a maioria na Europa, mas já com registros na Argentina e México. A rápida propagação do vírus em países não endêmicos acendeu sinal de alerta e, juntas, as organizações organizaram em menos de uma semana o workshop de treinamento para a realização de diagnóstico molecular baseado na identificação do material genético do vírus, por meio da metodologia de PCR em tempo real (protocolo padrão adotado pela OMS). Os participantes também receberam os insumos necessários para a implementação da metodologia em seus países, produzidos pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP, uma associação da Fiocruz com o governo do estado) e entregues à Opas.
Gutemberg Brito |
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Especialistas dos sete países participantes juntamente com autoridades do Ministério da Saúde e da Fiocruz |
Estiveram presentes profissionais de institutos nacionais de saúde da Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. A ação teve como objetivo preparar os países para oferecerem respostas rápidas e efetivas a uma possível epidemia provocada pelo MPXV na região das Américas.
“A prioridade, no momento, é que os laboratórios de diversas regiões sejam capazes de identificar o vírus. Ainda não se sabe tudo o que está ocorrendo e precisamos encontrar respostas para questões sobre transmissão, dinâmica do vírus em áreas não endêmicas e susceptibilidade de populações”, afirmou Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC/Fiocruz, que coordenará a capacitação.
Para Pierina D'Angelo, chefe da divisão de virologia do Instituto Nacional de Higiene da Venezuela, é fundamental que os países latino-americanos estejam em constante alerta para a detecção de agentes virais de importância em saúde pública. “Precisamos estar muito atentos para fortalecer a capacidade laboratorial. O nosso Instituto, como Centro de Referência Nacional na Venezuela, está sempre empenhado em participar de atualizações e capacitações que nos auxiliem a contribuir com respostas oportunas”, avaliou.
A importância da cooperação científica entre países foi reforçada por Analia Burgueño, do Departamento de Laboratórios de Saúde Pública do Uruguai. “Essa capacitação com outros países da América Latina é muito importante porque os laboratórios que são referência para os ministérios da saúde de seus países precisam estar preparados para todos os eventos. Precisamos levar em consideração a alta circulação de pessoas entre os nossos países que, no caso do monkeypox, já há casos confirmados em territórios vizinhos”, afirmou.
“Os sistemas de saúde estão em alerta pelo cenário incomum de circulação em regiões não endêmicas, sendo necessária a capacitação de laboratórios ao redor do mundo para reconhecer infecção e realizar o diagnóstico da MPXV. Não há motivos para pânico e pensar que o vírus será disseminado de forma descontrolada, como o SARS-CoV-2, visto que essa não é uma de suas características”, frisou Edson Elias.
Detecção oportuna
Dois dias após o treinamento, com a aplicação das metodologias revisadas no workshop e utilização de insumos cedidos pelo IBMP, a Venezuela detectou oportunamente um caso de monkeypox no país. O anuncio foi feito pelas autoridades venezuelanas no último domingo, 12 de junho. No comunicado, o Ministério da Saúde do país confirmou que o paciente retornava à Caracas após viagem à Barcelona, na Espanha.
Até segunda-feira (13/06), a OPAS confirmou a implementação exitosa dos protocolos em laboratórios de três países que participaram da capacitação.
União de esforços que ultrapassam fronteiras
A cerimônia de abertura realizada no auditório da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, no período da manhã, contou com a participação do secretário de vigilância em saúde e atual ministro interino da Saúde, Arnaldo Correia; da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade; da representante da OPAS no Brasil, Socorro Gross Galiano; do assessor regional para doenças virais da OPAS/OMS, Jairo Méndez; e da diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge.
Gutemberg Brito |
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Autoridades da Opas, do Ministério da Saúde e da Fiocruz durante cerimônia de abertura |
As primeiras trocas de experiência
Participante do treinamento em coronavírus de 2020, o assessor regional para doenças virais da OPAS/OMS, Jairo Méndez, voltou à Fundação para a nova oficina. Coube a ele apresentar os objetivos do treinamento, a situação atual da doença e os processos de biossegurança. Méndez destacou a pronta articulação que permitiu que, embora num momento de emergência, fosse possível realizar o trabalho com qualidade e com a rapidez necessárias. “São só dois dias, mas o impacto que isso tem em seus países é enorme.”
Ele destacou que se fosse necessário enviar as amostras para o laboratório americano de referência em Atlanta, por exemplo, o processo de diagnóstico poderia levar duas semanas. “Por isso, insisto na importância de podermos testar em nossos próprios países. Desta forma, organizamos esta oficina”, acrescentou.
Gutemberg Brito |
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Jairo Méndez apresentou informações atualizadas e detalhes técnicos sobre o patógeno |
Max Gomes |
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Capacitação é conduzida por profissionais do Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz |
O patógeno
Pertencente ao gênero Orthopoxvirus, que também compreende os patógenos responsáveis pelas varíolas humana e bovina, o MPXV foi descoberto em 1958, quando pesquisadores investigavam um surto infeccioso em macacos oriundos da África que estavam sendo estudados na Dinamarca. O patógeno até então desconhecido recebeu o nome de Monkeypoxvirus por ter sido encontrado em amostras desses primatas.
Posteriormente, cientistas verificaram que os macacos não participavam da dinâmica da infecção como animais reservatórios do vírus e que também eram afetados pelo patógeno assim como outros mamíferos. Ainda hoje não se sabe com exatidão as espécies reservatórias do MPXV, nem como sua circulação é mantida na natureza.
O primeiro caso humano de Monkeypox data de 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, a infecção em humanos vem sendo relatada principalmente em países das regiões Central e Ocidental da África, onde é endêmica.
Os sintomas da doença podem incluir inchaço dos gânglios linfáticos, aparecimento de lesões na pele, febre, fraqueza, além de dores intensas de cabeça e no corpo. A letalidade é estimada entre 1% e 10%, com quadros mais graves em crianças e pessoas com imunidade reduzida.
A transmissão do vírus de animais para pessoas pode ocorrer através da mordida ou arranhadura de um animal infectado, pelo manuseio de caça selvagem ou pelo uso de produtos feitos de animais infectados. A transmissão do vírus entre pessoas ocorre principalmente através do contato direto, seja por meio do beijo ou abraço, ou por feridas infecciosas, crostas ou fluidos corporais. Também pode haver transmissão por secreções respiratórias durante o contato pessoal prolongado.
Clique aqui e saiba mais sobre o vírus Monkeypox.
Reportagem: Max Gomes e Maíra Menezes, com informações de Cristina Azevedo (CCS/Fiocruz)
Edição: Vinicius Ferreira
09/06/2022 - Atualizada em 15/06/2022
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