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Da pesquisa às políticas públicas

Avaliação de prejuízos e benefícios financeiros da gestão ambiental e impacto das alterações na paisagem para a saúde humana foram discutidos no terceiro dia do II Seminário Ambiente e Saúde no IOC

O terceiro dia de atividades do II Seminário Ambiente e Saúde no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em 10 de junho, promoveu o debate sobre temas ligados às políticas públicas para o ambiente. O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), Carlos Eduardo Young discutiu a avaliação de custos e benefícios financeiros na gestão ambiental, na palestra ‘Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável’. Já a pesquisadora da EcoHealth Alliance Paula Ribeiro Prist abordou o tema ‘Paisagem e saúde humana’, apresentando estudos que quantificam o potencial impacto positivo ou negativo de intervenções no ambiente, tanto em termos de ocorrência de doenças quanto de gastos para o sistema de saúde. A sessão foi mediada pela pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres do IOC, Cecília Silianski de Andreazzi. Integrada ao Centro de Estudos do IOC, a atividade foi transmitida pelo canal do IOC no Youtube.

Impacto econômico
Professor do Instituto de Economia da UFRJ, Carlos Eduardo Young iniciou sua palestra indicando aos participantes a leitura dos textos ‘Roteiro para valoração de benefícios econômicos e sociais de unidades de conservação’ e ‘Quanto vale o verde: a importância econômica das unidades de conservação brasileiras’, que, segundo ele, vão mais na direção da valoração da Bioeconomia, tema que aproxima as agendas de pesquisa da economia do meio ambiente e da produção científica desenvolvida no IOC.

O economista dissertou sobre o significado de valoração. “Valorar significa estimar a variação do bem-estar das pessoas devido a mudanças na quantidade ou qualidade de bens e serviços ambientais, seja na apropriação para uso ou não. Para tal, atribui-se um valor em unidades monetárias das perdas ou ganhos da sociedade diante da variação do recurso”, explicou, salientando que a discussão se concentra em um valor oriundo de um processo de produção. “Nessa linha de pensamento, gostaria de enfatizar que o valor não é algo fisicamente estabelecido, ele é uma construção social”, completou.

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Carlos Young abordou a valoração dos recursos ambientais a partir dos serviços ecossistêmicos


Young falou também sobre a valoração dos recursos ambientais como ferramenta complementar de avaliação e seus benefícios. Em sua visão, a falta de valor de mercado para os serviços ecossistêmicos produz um negligenciamento ou subvalorizarão dos benefícios por parte dos gestores empresariais. “Na ausência de preços, técnicas como a valoração ambiental podem ser aplicadas para conferir valores monetários, de forma a impedir que a supressão de bens e serviços ambientais seja tratada a custo zero, colaborando para que a ação dos gestores fique mais eficiente”, alertou.

Como exemplo de valoração na área da saúde, o pesquisador citou uma análise hipotética da possível substituição de ônibus a diesel por veículos elétricos. "Essa substituição terá custo. Podemos calcular o benefício econômico, considerando a redução de emissão de material particulado, que, segundo estudos epidemiológicos, reduz morbidade e mortalidade. Esse dado é obtido por pesquisadores da saúde. Com isso, o economista pode calcular um preço, por exemplo, relacionado aos dias de trabalho perdidos", citou. "Existe um enorme espaço para colaboração entre saúde e economia nessa linha", enfatizou.

Potencial da paisagem
Estudos que evidenciam a relação entre a composição da paisagem e a saúde foram discutidos pela pesquisadora Paula Ribeiro Prist, da EcoHealth Alliance. Segundo a bióloga, a presença de áreas verdes traz diversos benefícios para a saúde, incluindo redução da ocorrência de doenças cardiovasculares e de problemas de saúde mental. “Pesquisas mostram que os adultos que passaram mais tempo em áreas verdes quando criança têm saúde mental melhor do que aqueles que nunca tiveram esse contato”, comentou Paula.

Além da presença de vegetação no ambiente, a forma de distribuição dessas áreas na paisagem tem efeito para a saúde. Em relação à saúde mental, estudos indicam que áreas verdes distribuídas em uma cidade trazem mais benefícios do que o mesmo volume de árvores concentrado em um grande parque.

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Paula Prist apresentou pesquisas que mostram que alterações na paisagem podem influenciar a ocorrência de doenças respiratórias e zoonóticas


Uma pesquisa detalhada pela pesquisadora evidenciou as consequências para a saúde das queimadas na Amazônia. O trabalho avaliou os efeitos causado pela emissão de partículas poluentes com diâmetro inferior a 2,5 micrometros (conhecidas como PM 2.5), que estão associadas a doenças pulmonares e cardiovasculares. “Cada vez que 1 Ha da floresta amazônica é queimado podem ser produzidas 641 infecções respiratórias, com custo de US$ 2 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, disse Paula. “Só por manter as terras indígenas como estão hoje, temos a capacidade de evitar 15 milhões de casos por ano e de economizar o gasto de US$ 2 bilhões pelos municípios da Amazônia”, acrescentou.

A pesquisadora também apresentou um estudo que investiga o potencial de prevenção de zoonoses – doenças transmitidas de animais para os seres humanos – pela recomposição de áreas da Mata Atlântica. Segundo Paula, o desmatamento favorece a disseminação de infecções zoonóticas porque aumenta a densidade de animais de algumas espécies, que atuam como reservatórios de doenças. “Quando a paisagem é alterada, muitas espécies não conseguem sobreviver, mas animais generalistas, como roedores, se adaptam bem ao ambiente alterado. Sem os predadores, a quantidade desses animais aumenta, eles se toram mais infectados e o risco de infecção humana cresce”, explicou. Em análises de modelagem computacional, a pesquisadora observou que o reflorestamento de áreas determinado pelo código florestal poderia reduzir significativamente a abundância de duas espécies de roedores que transmitem hantaviroses, diminuindo o risco de ocorrência dessas doenças.

A especialista observou ainda que a escolha de intervenções na paisagem deve considerar as situações particulares de cada localidade mais estudos são necessários para esclarecer quais investimentos podem trazer maior benefício em situações específicas. “Em linhas gerais, vemos que inserir áreas verdes fragmentadas em ambientes urbanos é mais benéfico para doenças respiratórias. Porém, grandes blocos de mata podem ser mais benéficos em relação aos riscos de zoonoses. Precisamos de mais pesquisas para entender isso. As escolhas dependem do ponto de vista e do que se quer valorizar”, ponderou.

Desafio da comunicação
O debate após as palestras foi mediado pela pesquisadora Cecília Andrazzi, do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios e integrante da Câmara Técnica de Ambiente e Saúde do IOC. A pesquisadora chamou atenção para o desafio de comunicar o conhecimento científico sobre as relações entre ambiente e saúde para diferentes públicos. “Como fazer para que essas informações sejam levadas em conta nas políticas públicas?”, questionou Cecília.

Carlos Eduardo avaliou que os pesquisadores devem se concentrar na comunicação com públicos específicos, especialmente estudantes, gestores locais, parlamento e outros cientistas com quem possam trocar conhecimentos. “Não somos todos necessariamente comunicadores. Mas precisamos ter debate entre as áreas acadêmicas, comunicação para educação e para os gestores e parlamentares. No contato com os gestores, temos que mostrar que o passivo ambiental de hoje é o passivo fiscal de amanhã”, afirmou.

Paula enfatizou que é necessário mostrar às pessoas o potencial de benefícios da preservação. “Temos um bom time de jornalistas científicos no Brasil, que traduzem os artigos para a população em geral. Porém, esse tema não é carismático. As pessoas se assustam e o prejuízo não é palpável imediatamente. Acho que educar as crianças é a melhor estratégia, e mostrar que a preservação é viável financeiramente”, respondeu.

Reportagem: Kadu Cayres e Maíra Menezes
Edição: Vinicius Ferreira
13/06/2022
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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