Fiocruz e Lacens detectaram a linhagem no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Total de amostras identificadas no Centro-Oeste sobre para 15. Achados indicam circulação sustentada na região
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) do Centro-Oeste concluíram novos sequenciamentos do vírus da dengue. O trabalho de vigilância genômica na região foi intensificado depois da identificação inédita do genótipo cosmopolita do sorotipo 2 do patógeno no Brasil, realizada em maio, em Goiás.Os sequenciamentos genéticos foram realizados pelo Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com os Lacens dos três estados. Os relatórios referentes ao trabalho foram enviados para as Secretarias estaduais de Saúde, o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
O genótipo cosmopolita é a linhagem mais disseminada do sorotipo 2 do vírus da dengue em todo o mundo, com presença na Ásia, Pacífico, Oriente Médio e África. Nas Américas, a primeira identificação ocorreu em 2019, durante um surto no Peru. No Brasil, além das notificações no Centro-Oeste, seis casos foram detectados em análises realizadas pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, no mês passado.
Arte: Jefferson Mendes |
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Rotas do vírus
A ampliação do número de sequenciamentos genéticos no Centro-Oeste permitiu apontar que a introdução da linhagem cosmopolita no Brasil teve origem a partir do Peru. Além disso, embora o genótipo tenha sido detectado primeiro em Goiás, a circulação viral ocorreu antes no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul. “Na nossa análise evolutiva, vemos que o vírus saiu do Peru e entrou no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul e, posteriormente, foi para Goiás”, diz Alcântara.
Segundo o pesquisador, o sequenciamento de mais amostras será necessário para esclarecer em qual estado o patógeno circulou primeiro e se houve passagem por outros países antes da chegada ao Brasil. Uma das suspeitas é de que o vírus possa ter chegado ao Mato Grosso pela fronteira com o Paraguai, tendo em vista que o país vem registrando altos números de casos de dengue.
“Para responder a isso, estamos trabalhando em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública do Paraguai. Em julho, eles devem vir ao Laboratório de Flavivírus do IOC, no Rio de Janeiro, onde realizaremos o sequenciamento de amostras coletadas no país”, antecipa Alcântara.
Também no primeiro semestre deste ano, os cientistas devem realizar sequenciamentos genéticos em parceria com o Lacen do Paraná. Além da fronteira com o Paraguai, o estado faz divisa com Mato Grosso do Sul e São Paulo, duas unidades da federação onde o genótipo cosmopolita foi detectado.
Genótipo mais disseminado
O genótipo cosmopolita do sorotipo 2 do vírus da dengue é o mais disseminado e de maior impacto no mundo. Porém, não há dados suficientes para confirmar que a linhagem é mais transmissível ou pode levar a casos de maior gravidade do que outras.
Neste cenário, os pesquisadores planejam outra etapa de pesquisa, com o objetivo de investigar, em laboratório, as características da infecção causada pela linhagem. “Estamos fazendo o isolamento dos vírus e vamos fazer experimentos para avaliar, em modelo experimental, se há aumento da gravidade da doença ou não”, esclarece o virologista.
O pesquisador acrescenta que, por si mesmo, o aumento da diversidade dos vírus da dengue em circulação no país pode elevar o risco de casos graves da doença.
“Os casos de dengue severa, que podem levar a óbito, estão muito relacionados à reinfecção com sorotipos diferentes. À medida que temos mais um genótipo em circulação, cresce a população de um determinado sorotipo. Isso aumenta a possibilidade dos casos de reinfecção e, consequentemente, de casos graves de dengue”, explica.
O pesquisador reforça ainda que o combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor da doença, é a principal forma de conter a disseminação do vírus, independentemente dos sorotipos ou linhagens em circulação.
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Mosquito Aedes aegypti, vetor dos vírus dengue, Zika e chikungunya |
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